Hora das compras
Consumo doméstico dá o tom do crescimento do País e dos mais promissores papéis para se investir em 2010

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Num ano em que se vislumbra crescimento de 5% do produto interno bruto (PIB) — enquanto a maior parte do mundo ocidental ainda se recupera de uma recessão profunda —, fica difícil especificar quais ramos da economia serão mais favorecidos. “Diferentemente de outros anos, o crescimento será distribuído por todos os setores”, ressaltou Alberto Fernandes, diretor vice-presidente do Itaú BBA, durante um encontro dos executivos do braço de atacado do Itaú Unibanco com a imprensa, em dezembro. Mas pelo menos um grupo de companhias brilha mais forte aos olhos dos analistas de investimentos: aquele das que serão diretamente impactadas pelo aumento do poder de compra do brasileiro.

, Hora das compras, Capital AbertoEmpresas dos setores de varejo, construção, bebidas e bancos são vistas pelos analistas como as melhores pedidas para investidores. Isso porque há a expectativa de que o consumo interno — responsável por 60% do PIB, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) — seja vibrante em 2010, ao passo que a demanda externa ainda deverá evoluir a passos de tartaruga. Relatório da MB Associados prevê R$ 90 bilhões a mais no bolso do brasileiro em 2010, quase o dobro do aumento de renda registrado em 2009 (R$ 52,6 bilhões). Esse volume representa a chamada massa real de renda, que é a soma dos ganhos líquidos de todos os trabalhadores.

Como pano de fundo desse incremento, destacam-se a retomada do emprego, a melhora do cenário para empréstimos bancários e a elevação dos gastos do governo. Dados do IBGE mostram que a taxa de desemprego nas seis principais regiões metropolitanas do País estava em 7,5% em outubro, chegando ao patamar anterior à crise. A equipe de macroeconomia do banco Bradesco prevê uma taxa de desemprego em 7,6% em 2010, a menor dos últimos anos — de 2006 a 2009, o número foi de 10%, 9,3%, 7,9% e 8,3%, consecutivamente.

A criação de empregos formais também deve estimular a injeção de recursos na economia. Além de aumentar a confiança das pessoas na manutenção de seu nível de consumo, o emprego formal incentiva a antecipação de compras baseadas em crédito, pois facilita a comprovação de renda, observa Clodoir Vieira, economista-chefe da corretora Souza Barros. De janeiro a outubro de 2009, o País gerou 1,1 milhão de postos formais de trabalho. O número foi o pior desde 2003, mas ainda assim animador no contexto da crise.

O Brasil foi o único país do G-20 a gerar mais de um milhão de vagas com carteira assinada no período. Até dezembro de 2010, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, projeta a abertura de outros 2 milhões de postos de trabalho regularizados.

Quem quiser fazer compras a prazo não terá muitas dificuldades. A falta de liquidez proporcionada pela crise refreou o ímpeto dos bancos na concessão de empréstimos no começo de 2009, mas o cenário começou a se recuperar em maio. Em setembro, o volume total de crédito dos bancos brasileiros chegou a R$ 1,35 trilhão. Naquele mês, a relação crédito/PIB atingiu 45,7%, ante 38,7% de setembro de 2008. A MB Associados espera que essa proporção chegue a 53% no fim de 2010.

“O crédito vem crescendo a uma taxa cinco vezes maior que a expansão do PIB. Por conta disso, o estoque de empréstimos poderá avançar cerca de 25%, se o PIB inchar 5%”, prevê Álvaro Bandeira, economista-chefe da Ágora Corretora. Por este ser um ano eleitoral, Bandeira espera uma subida nas despesas do Estado com a realização de obras e contratação de serviços, que deverão ser revertidas em renda para a população.

Setores de varejo, construção, bebidas e bancos são vistos como as melhores pedidas para 2010

CORRIDA ÀS COMPRAS — Dentre os setores mais beneficiados pelo incremento do poder de compra está o de varejo. Após um ano marcado pela cautela nos investimentos, grandes redes varejistas se preparam para acompanhar o ritmo de crescimento do PIB. A Lojas Americanas anunciou em novembro a intenção de investir mais de R$ 1 bilhão até 2013, visando a ampliar o número de lojas de 471 para 871. A Ativa Corretora vê no modelo de negócios da rede — baseado no curto tempo de maturação dos pontos de venda e na flexibilidade do mix de produtos — um trunfo no plano de expansão da companhia. “Com a aceleração da massa salarial, esperamos aumento de vendas em mesmas lojas de 11% em 2010”, diz um relatório de análise da Ativa divulgado em novembro.

A Lojas Renner, do setor de vestuário, se beneficia diretamente do boom de consumo. “A empresa mostrou uma recuperação nas vendas desde o terceiro trimestre de 2009 e deve seguir nesse ritmo em 2010”, assegura Kelly Trentin, analista-chefe da SLW Corretora. No anúncio dos resultados do terceiro trimestre, a companhia gaúcha revisou a previsão de abertura de novas lojas feita três meses antes, passando de 8 para 12 unidades. Isso se tornou possível graças à melhora de resultados. A Renner cravou um lucro líquido de R$ 30,6 milhões no terceiro trimestre, 8% superior ao registrado um ano antes.

A combinação do bolso cheio do consumidor com a realização da maior e mais popular festa do futebol costuma resultar em alta ingestão de bebidas, lembra Eduardo Kondo, analista da Concórdia Corretora, apostando no potencial da Copa do Mundo da África do Sul. Otimista com essa perspectiva, a AmBev anunciou em novembro investimentos da ordem de R$ 1,5 bilhão em ampliação de fábricas e construção de novas linhas de produção. O montante é 50% maior do que foi investido em 2009 com a expansão de sua capacidade. Com esse valor, a companhia espera absorver um aumento de 5% a 10% na demanda interna por bebidas.

CRÉDITO EM ALTA — Na esteira do aumento de consumo, o setor de bancos deve ser outro beneficiado, muito em razão das perspectivas positivas para o crédito. Outro fator que colabora com o segmento é a diminuição da inadimplência. “Com os bons níveis de emprego esperados, a inadimplência deve cair naturalmente”, acredita Bandeira, da Ágora. Os papéis do Itaú Unibanco são um dos mais comentados pelos analistas. “A fusão das duas instituições dará frutos mais claramente em 2010, quando as sinergias estiverem completas”, observa Kondo.

O Brasil foi o único país do G-20 a gerar mais de um milhão de vagas com carteira assinada em 2009

O maior banco privado do País espera aumentar sua carteira de crédito de 20% a 25% neste ano, com base na melhora dos níveis de confiança do mercado e na estabilização do mercado de trabalho. Segundo o Itaú Unibanco, essa ampliação tem como destino o público de varejo e o de pequenas e médias empresas, além do crédito imobiliário. “O crédito para o financiamento da casa própria é o que mais tem espaço para crescer em 2010, pois sua demanda reprimida é enorme”, avalia Vieira. Levantamento da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) indica que o crédito imobiliário representou pouco mais de 3% do PIB em 2009. “Em outros países, esse tipo de financiamento representa metade dos empréstimos”, afirma o economista da Souza Barros.

CASAS DE PÉ — O maior acesso ao financiamento, somado à melhora de renda das classes C e D e ao incentivo de Brasília à construção de casas voltadas aos segmentos de baixa renda — através do plano Minha Casa, Minha Vida —, fazem do setor imobiliário uma opção promissora para 2010.

A Fundação Getulio Vargas (FGV) projeta ampliação de 8,8% neste ano para a cadeia da construção civil (composta de mercado residencial, obras públicas e unidades comerciais e industriais). Esperam-se cerca de R$ 202 bilhões de investimentos imobiliários, contra os R$ 170 bilhões de 2009.

O impulso no setor já pôde ser sentido no ano passado. Mesmo com a crise, o mercado de imóveis cresceu 1% em 2009. O nível de emprego na construção civil subiu 7,3% entre janeiro e setembro do ano passado, em relação ao mesmo período de 2008.

De acordo com a pesquisa da FGV, o número de vagas com carteira assinada no setor vai engordar 8% este ano, chegando a 2,4 milhões de postos de trabalho.

Os números da Cyrela Realty corroboram os bons presságios. No terceiro trimestre de 2009, a construtora e incorporadora obteve lucro líquido de R$ 264 milhões, ante R$ 77 milhões um ano antes. Somente nesses três meses, vendeu 1,2 vez mais que em todo o primeiro semestre. “O mercado está ávido por novos lançamentos”, disse a administração no comunicado da demonstração financeira. “A companhia está bem posicionada no mercado, e a oferta primária feita em outubro vai proporcionar condições ainda melhores de crescimento, além de possibilitar ao acionista maior liquidez dos papéis”, afirma Kondo, da Concórdia.

Em outubro, a Cyrela fez uma oferta primária de ações que rendeu R$ 1,2 bilhão aos seus cofres, a ser usado prioritariamente para aquisição de novos terrenos. Seu guidance de lançamentos para 2010 é de R$ 6,9 bilhões a R$ 7,7 bilhões, número que chega a ser 77% maior que o de 2009. Outro fator que contribui para o otimismo é a realização no País da Copa do Mundo em 2014 e das Olimpíadas, em 2016. “Este ano o setor já pode sentir os efeitos desses eventos, com possíveis fechamentos de contrato para obras de infraestrutura”, declara Vieira.


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