A ausência de monitoramento da geração de valor econômico nas empresas, por parte do conselho de administração, deve ser suprida por um plano de geração de valor (PGV). Ele constitui tanto um contrato de governança quanto a evidência de que o conselho assume a responsabilidade por supervisionar ativamente o processo de criação de valor para o acionista. O aparente dilema entre essa atividade e a otimização de resultados para todas as partes interessadas relevantes (stakeholders) é superado pela constatação de que empresas produtivas são mais propensas a gerar valor. Essa produtividade não ocorre à custa dos funcionários, pois a criação de valor é a única dimensão que maximiza riqueza para todos os stakeholders.
O conceito de valor gerado pela atividade empresarial reside no lucro residual apresentado após o débito do custo de capital contra o resultado líquido de impostos. Por sua vez, o custo de capital considera todos os distintos custos das diferentes fontes de capital (sócios, investidores, credores e fornecedores), de modo a obter o cálculo do custo médio ponderado de todo o capital investido na operação. Resumindo: lucro econômico = capital investido x (retorno sobre o capital investido – custo médio ponderado de capital).
Embora apreensível de pronto, esse conceito pode se tornar desafiador quando aplicado à prática do monitoramento de desempenho das empresas. Com base num PGV, no entanto, o conselho está apto a avaliar e a deliberar. Ele parametriza metas; agiliza a decisão; estabelece o retorno mínimo exigido para investimentos; assenta o sistema estratégico de remuneração; define a métrica de avaliação equânime dos retornos para as partes interessadas relevantes; permite aferir o valor do patrimônio a mercado; e baliza a inteligência empresarial.
O plano requer uma série de definições. Qual será a métrica para mensurar o valor econômico excedente ao custo de capital? Quais serão os direcionadores? Que pontos de controle serão aferidos? Quem serão os responsáveis pela medição? Sob que calendário? O PGV exercerá sua função suprema quando operar num modelo dinâmico que reproduza a equação de produção desejável para a empresa.
Outras perguntas ainda devem ser feitas na elaboração do plano, cada uma das quais comporta uma série de outras questões. Para que tipo de empreendimento será mobilizado o capital? Qual será a estrutura de capital? Que montantes serão mobilizados? De que fontes? Qual será a política de remuneração? Qual será a inserção da empresa no mercado de trabalho? Qual será a política de investimentos? Como será financiado o caixa de investimento? Quais são as premissas para proposta de um projeto de investimento?
O PGV pode ser ferramenta crucial, colocada à disposição do conselho de administração para assegurar que a empresa gere a liquidez que remunerará os doadores de capital, de sorte a garantir a sustentabilidade da operação. Peter Drucker escreveu: “Até que um negócio retorne um lucro que seja maior do que seu custo de capital, ele opera em perda. Não importa que pague impostos como se tivesse um lucro genuíno. A empresa ainda retorna menos do que a economia que ela devora em recursos. […] Ela não cria riqueza, mas a destrói”.
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