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Um novo modelo de sucesso
Escândalos atuais são resultado de uma mentalidade obsoleta

Nos últimos anos, testemunhamos numerosos casos de desgoverno no setor privado, com enorme repercussão e impacto social. Entre os episódios, destacam-se corrupção de empreiteiras descoberta na Lava Jato, evasão fiscal por grandes grupos empresariais na Zelotes, venda de projeções fictícias pelas empresas X, fraudes em bancos que haviam recém-aberto o capital (como o Panamericano), prejuízos ambientais colossais (caso da Samarco/Vale) e colapso financeiro da Oi, uma campeã de reclamações dos consumidores com longo histórico de prejuízos a acionistas minoritários.

Apesar de aparentemente heterogêneos, esses casos têm um mesmo fio condutor: a adoção de uma abordagem para a governança corporativa problemática, baseada na ideia de que o papel dos executivos é extrair o máximo de resultado financeiro no curto prazo.

Essa narrativa para a governança, muitas vezes incentivada por escolas de negócio, vê as empresas como entidades econômicas desconectadas da sociedade, cujo sucesso deve ser medido exclusivamente pelo retorno para os acionistas. Trata-se de uma visão extrativista, estreita, transacional, amoral e míope.

Esses escândalos de governança não foram, portanto, resultado da falta de controles ou das ações de alguns indivíduos mal-intencionados. Na verdade, eles são decorrentes de uma mentalidade obsoleta, que fez com que essas companhias fossem governadas como se ainda estivessem no século 20.

A solução para os atuais problemas empresariais vai muito além da implantação de programas de compliance e da substituição de executivos. É preciso ir até a raiz do problema e revisitar questões fundamentais, a fim de reformularmos a governança, cultura e liderança da empresa de sucesso do século 21.

Entre as questões básicas a serem revistas, incluem-se: O que é uma empresa de sucesso? Qual deve ser o papel dos administradores? Que sistemas de incentivo devem ser enfatizados? Qual deve ser o propósito das companhias como órgãos da sociedade?

A meu ver, dez atributos principais caracterizarão o modelo de governança de uma empresa de sucesso no século 21. São eles:

1. Adoção de um propósito maior como eixo central e força motriz da companhia, de forma que o lucro seja consequência e não um fim em si mesmo.

2. Inclusão da ética como parte integral de todas as decisões de negócio.

3. Ampliação do conceito de sucesso empresarial para uma perspectiva mais ampla, baseada na criação de valor de longo prazo para todos os stakeholders.

4. Líderes dedicados ao alinhamento dos interesses dos stakeholders pela busca incessante por soluções ganha-ganha.

5. Gestão baseada em confiança, autenticidade e zelo (e não na pressão e no medo), como forma de se extrair o melhor das pessoas.

6. Comprometimento com o desempenho responsável, para que a forma como o desempenho foi obtido seja mais importante que o resultado final.

7. Ênfase na cooperação em vez da competição, tanto entre os funcionários quanto entre a companhia e seus stakeholders.

8. Busca por transparência e comunicação cada vez maior com os stakeholders-chave sobre os impactos e os resultados não financeiros.

9. Interesse voluntário dos administradores em calcular e arcar com os custos das externalidades, em vez de procurar evitá-los.

10. Tratamento do ambiente externo e da regulação como oportunidades para inovação e aprimoramento contínuos, e não como riscos.

Há evidências crescentes de que essa abordagem emergente para a governança é realista e mesmo vantajosa do ponto de vista financeiro. Em um estudo recém-divulgado, feito com mil companhias americanas, por exemplo, constatou-se que o principal fator que previa seu desempenho futuro (incluindo o valor de mercado e a rentabilidade) era o grau de concordância de seus funcionários em relação a duas afirmações muito simples — “os diretores fazem o que dizem” e “os diretores são honestos e éticos nas suas práticas de negócio”.

Quando bem governadas, as empresas são a principal forma de criação de valor para a sociedade. Para que isso aconteça, precisamos ampliar a perspectiva dos líderes em relação ao seu papel na sociedade, de forma que nossas empresas passem a ser vistas por todos não como parte do problema, mas sim da solução.


*Alexandre Di Miceli da Silveira é sócio-fundador da Direzione Consultoria e autor de Governança corporativa: o essencial para líderes. O articulista agradece a Angela Donaggio pelos comentários e sugestões.


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