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Minoritários na web
Como os investidores estão usando blogs, sites, fóruns e redes sociais para se aglutinar e reivindicar mudanças nas companhias

, Minoritários na web, Capital AbertoUma onda de ativismo tomou o mundo em 2011. Do Oriente Médio, derrubando governos autoritários e ditaduras, ela seguiu para a Europa, com jovens espanhóis indo às ruas para protestar contra os cortes orçamentários no ensino público. Chegou, então, a Wall Street, coração financeiro de Nova York, onde uma multidão se revoltou contra a impunidade daqueles que foram responsáveis pela crise financeira mundial e, também, beneficiários dela. Em todos esses movimentos, um mesmo fenômeno se fez notar de forma surpreendente: o uso intenso das redes sociais. Facebook, Twitter e Youtube provaram–se altamente eficientes na tarefa de mobilizar pessoas, uma das maiores dificuldades na organização de qualquer manifestação política ou social. Mas se, em vez de ajudar a derrubar ditadores, as mídias sociais fossem usadas para tirar presidentes de companhias abertas do poder? Pois, para quem não se lembra, isso já ocorreu.

Em 2007, o investidor individual Eric Jackson, dono de 96 ações do Yahoo!, usou seu blog e vídeos no YouTube para divulgar falhas que enxergava na estratégia da companhia, liderada, na época, por Terry Semel. Não demorou para sua campanha, que propunha um plano B para a gestão do Yahoo!, chamar a atenção de outros acionistas descontentes. O resultado foi a renúncia de Semel da presidência da empresa, pouco tempo depois da assembleia anual do Yahoo! em 2007, na qual Jackson apareceu para confrontar o CEO.

No Brasil, outro executivo foi alvo da revolta dos investidores na web. Marcus Elias, CEO da Laep Investments, holding que investe em companhias em recuperação judicial, deixou o cargo em fevereiro passado, sem dar mais explicações. Ele será substituído por Luiz Cezar Fernandes, fundador dos bancos de investimentos Garantia e Pactual. Há meses, acionistas pessoas físicas mostravam descontentamento com a gestão de Elias em fóruns de investidores. Eles reclamavam das sucessivas subscrições de ações feitas pela Laep, que têm diluído suas participações. Também questionavam os atrasos na divulgação de balanços e o fato de a companhia ser sediada em Bermudas, a despeito de todas as suas operações estarem no Brasil. Em 2011, os BDRs da empresa desvalorizaram 93,71%.

A insatisfação dos investidores com a Laep está estampada nos fóruns do portal de investimento ADVFN. Uma busca no site pelo código de negociação da empresa, MILK11, mostra que há quase 600 fóruns que debatem o papel. A grande maioria, contudo, não se propõe a discussões sérias e tem pouquíssimos comentários. Diante disso, um grupo de acionistas da Laep decidiu lançar, em julho de 2011, um portal próprio, mantido por investidores que compartilhassem os mesmos objetivos e opiniões. Assim surgiu o site da Cooperativa dos Acionistas Minoritários da Laep (CooperMilk11), formada por 226 membros e existente apenas no mundo virtual.

, Minoritários na web, Capital AbertoAlém de manter um fórum para usuários cadastrados, o site traz análises, notícias e vídeos divulgados na mídia sobre a Laep; comunicados e fatos relevantes publicados pela empresa; e um calendário de eventos com as datas previstas para publicação de balanço. O portal também é usado para a divulgação de alguns pleitos. Um deles é um abaixo–assinado que pede o fim das subscrições de ações pela Laep e uma maior fiscalização dos órgãos reguladores sobre a empresa. Um dos signatários da petição é Otávio Vargas, advogado, acionista minoritário e líder de um protesto realizado, no fim de janeiro, em frente à Laep e à BM&FBovespa, para questionar o tratamento dado pela companhia aos sócios. “Convocamos os acionistas pelo site da cooperativa e pelos fóruns. Queríamos mostrar nossa indignação à Laep e atrair a atenção da mídia para a nossa causa”, afirma Vargas. A manifestação reuniu cerca de 15 participantes munidos de faixas, apitos e narizes de palhaço.

ATENUANDO OS RISCOS — Usada para aglutinar pessoas ou simplesmente expressar opiniões, a internet ganha espaço na rotina de trabalho dos investidores. Em outubro do ano passado, executivos da gestora Polo Capital lançaram o site Transparência e Governança, idealizado para promover debates que contribuam para melhorar as práticas de governança corporativa no Brasil e defender os direitos dos acionistas minoritários. Com R$ 2,6 bilhões de patrimônio sob gestão, a Polo busca há anos participar ativamente das discussões a respeito dos rumos das companhias em que investe. O site mostra comentários sobre as leis e os regulamentos da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), opiniões de especialistas sobre temas de interesse dos investidores e notícias relacionadas a transparência e governança publicadas pela imprensa.

, Minoritários na web, Capital AbertoHá também uma seção destinada à publicação de casos de embate entre acionistas controladores e minoritários, preparados por especialistas que analisaram os fatos e seus desdobramentos. “Um de nossos objetivos é resgatar casos passados, a fim de estimular os investidores a questionar e exigir seus direitos”, afirma Claudio Andrade, sócio da Polo Capital. De acordo com o gestor, o caso da Laep é o mais visitado e comentado, seguido por Oi e Ipiranga. Do mesmo modo que respondeu aos minoritários da CooperMilk, a Laep também escreveu um comunicado para o Transparência e Governança, rebatendo pontos de sua análise. “O texto foi publicado na íntegra e demos toda a publicidade nas redes sociais”, diz Andrade. Ele afirma que o site é absolutamente democrático. “Qualquer um pode colocar suas opiniões, inclusive os controladores de companhias que estiverem sendo alvo de questionamentos”, garante.

Embora assuma hoje a autoria do Transparência e Governança, a Polo tem a intenção de que o site se torne um organismo independente. “Prevemos a constituição de um conselho e um comitê editorial que vai refletir essa posição”, ressalta Andrade. Em fevereiro, a Investidor Profissional (IP), que desde 2010 produzia o blog Buysiders.com, anunciou que não seria mais a dona do blog. A decisão, conforme a IP, deve–se à compreensão de que a relevância adquirida pelo Buysiders recomenda, em nome de sua transparência e independência, que esteja desvinculado de qualquer empresa de investimentos ou instituição financeira. Os usuários podem continuar a acessá–lo no mesmo endereço e sob a edição do ex–integrante da IP Gustavo Ballvé, líder do projeto desde sua concepção. Uma diferença, contudo, é que o Buysiders não terá mais uma versão em português. Todas as postagens serão feitas em inglês. “Enquanto puder, vou manter o blog independente, mas alerto os usuários que posso ter investimentos próprios ou vir a trabalhar numa outra gestora”, ressalta Ballvé.

FENÔMENO EM ASCENSÃO — Enquanto no Brasil os investidores estão aprendendo a usar a web para se aglutinar e brigar por seus direitos, nos Estados Unidos isso já existe há um bom tempo. Em 2004, Roy Disney, filho de um dos fundadores da Wall Disney Company e acionista da companhia, montou um dos mais badalados sites de batalha por procurações, o savedisney.com. Nele, Disney pedia o apoio dos acionistas contra a reeleição de Michael Eisner, então presidente da Disney, e dos conselheiros indicados pela administração. De tempos em tempos, sites como esse pipocam na internet, encabeçados por grandes acionistas. O ativista Robert Monks já esteve envolvido em várias proxy fights e é um grande adepto da comunicação online. Mantém um blog e contas no Twitter e no Facebook. “Meu blog permite que eu escreva sobre uma ampla variedade de tópicos e responda a questões controversas assim que elas aparecem. Publicar artigos pode ser um processo demorado, e o blog é imediato”, avalia. “Creio que, cada vez mais, a internet e as redes sociais vão fazer parte do arsenal dos ativistas”, disse, em entrevista, à CAPITAL ABERTO.

Nos Estados Unidos, é crescente o ativismo entre os acionistas pessoas físicas. O empurrãozinho a essas movimentações vem de sites como o Moxy Vote, lançado em 2009. Ele permite que os investidores individuais votem nas assembleias de diversas companhias e enviem cartas para os executivos com seus pleitos. Uma delas pede que o Goldman Sachs alinhe de forma mais adequada a remuneração dos executivos com os interesses dos acionistas. Até 25 de fevereiro, 3.623 cidadãos, dentre investidores e consumidores, haviam assinado a carta.

Laep rebate queixas de minoritários

O protesto organizado por minoritários da Laep em frente à Bolsa paulista provocou reações imediatas na companhia, que divulgou, em seu site, um texto explicando por que considerava as reclamações dos acionistas infundadas.

A Laep argumentou que, pelo fato de se dedicar a uma atividade complexa e pouco conhecida, procurou listar na seção fatores de risco de seu Formulário de Referência todos os obstáculos e adversidades que poderiam ocorrer em seus negócios, o que inclui, por exemplo, atraso na divulgação das demonstrações financeiras consolidadas. Também destacou que seu estatuto prevê, claramente, que poderá emitir novas ações, com a diluição das existentes, para a liquidação de dívidas por meio da sua conversão em capital. Esse é, segundo a Laep, o mecanismo mais eficiente de solvência e de recuperação de empresas. “Um diminuto grupo de pessoas, que se dizem seus investidores, vem tentando atacar a principal ferramenta de reestruturação de que a empresa dispõe”, informa o texto. “Muito nos estranha essa ’manifestação’, que só vem prejudicar a percepção de valor que o mercado possa ter sobre os nossos ativos”. A Laep observou ainda que, desde o ano passado, seu patrimônio líquido vem se valorizando. No primeiro trimestre de 2011, passou ao saldo positivo de R$ 515 milhões, contra um montante de R$ 280 milhões negativo em 2009. Isso comprova, de acordo com a companhia, que sua estratégia tem gerado valor.

Por fim, a Laep trouxe exemplos de mensagens postadas sobre a companhia em fóruns de investidores que ameaçavam a integridade física dos executivos da empresa. “Vou na Laep, vou arrebentar tudo naquele antro (…)”, dizia uma das postagens. Segundo Rodrigo Ferraz, diretor da Laep, a companhia obteve autorização judicial para ter acesso ao IP de usuários que ameaçaram agredir seus administradores e vai tomar as medidas legais cabíveis. “Acho ótimo que os investidores discutam o papel da empresa, desde que isso seja feito de forma lícita e salutar”, pondera. “Essas iniciativas continuam avançando, e não sabemos se estão sendo manipuladas por interesses escusos.” Independentemente de quem tem razão, o caso ilustra que, quando o assunto é comunicação na internet, um dos riscos é a incerteza sobre a identidade e os interesses da pessoa que fala do outro lado da tela — principalmente quando ela pode se esconder atrás de um apelido, como nos chats e fóruns. (L.T.)


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