Foco na cooperação
Modelos de governança voltados à competição interna podem criar “guerra de tribos”

Há um verdadeiro dogma de que a competição — entre países, empresas ou pessoas — leva à maior eficiência e prosperidade econômica possível. Adepto assumido dessa crença, o CEO da Sears, Eddie Lampert (bilionário gestor de fundos de hedge que adquiriu o controle da loja de departamentos em 2005) implantou um modelo de governança para promover a máxima competição interna.

Ele separou a companhia em 30 unidades de negócio totalmente autônomas, cada uma com seus próprios diretor-presidente, conselho de administração e demonstração financeira. As unidades devem competir por espaço e receitas nas lojas, e, ainda, por recursos para seus investimentos num evento anual de planejamento. Lampert participa apenas por videoconferência dessa reunião, já que vive recluso em uma mansão de US$ 40 milhões na Flórida e vai à sede da empresa uma ou duas vezes por ano.

Em entrevista à Bloomberg Businessweek, o CEO explicou sua crença no modelo criado: “Se os principais executivos agirem de forma egoísta, dirigirão suas unidades de forma racional, aumentando o resultado financeiro geral”. Na prática, essa tática de governança tem se mostrado extremamente danosa. As unidades se voltaram umas contra as outras como facções rivais, causando impactos negativos para a organização como um todo. De acordo com um executivo da companhia entrevistado pela Bloomberg, o modelo criou uma cultura de “guerra de tribos”. “Se você é de outra unidade, então estamos em duas empresas concorrentes. A colaboração simplesmente não existe.”

Cada unidade passou a pensar apenas no seu lucro, deixando de mirar o resultado coletivo. “Começaram a ocorrer verdadeiras guerras por busca de espaço nas lojas. Ninguém se disponibiliza a fazer sacrifícios, como reduzir preços para aumentar o movimento de clientes, o que beneficiaria todas as unidades”, diz outro executivo. Os números confirmam o desastre do modelo. Desde a entrada de Lampert em 2005, o faturamento da Sears caiu de US$ 49,1 bilhões para US$ 39,9 bilhões, o caixa alcançou o menor patamar em dez anos, e as ações despencaram mais de 70%.

O caso ilustra como o foco na competição interna pode criar um ambiente paranoico, com enorme destruição de valor para todos os stakeholders. Apesar disso, muitos líderes empresariais continuam a promover essa abordagem em suas organizações, em detrimento de um ambiente de coesão e cooperação entre executivos e colaboradores.

Em grande medida, isso deriva de um entendimento errado, por muitos líderes, do conceito de seleção natural proposto por Darwin. Para eles, promover a competição interna seria a forma de assegurar o melhor resultado para o negócio, já que, em tese, levaria à sobrevivência dos mais aptos na organização e à máxima eficiência econômica.

De forma surpreendente, entretanto, inúmeras pesquisas recentes têm demonstrado que é a capacidade de cooperação, e não a de competição, o fator-chave para o sucesso evolutivo de grupos e populações. O próprio Darwin, na verdade, reconhecia isso, conforme trecho de seu livro The descent of man, de 1871: “Não pode haver dúvida de que a tribo que possuir muitos membros sempre dispostos a ajudar uns aos outros, e a se sacrificar pelo bem comum, será vitoriosa em relação às outras. E isso será seleção natural”.

Trazido para o mundo empresarial, o foco na cooperação interna entre executivos e colaboradores cria um contexto social que leva as pessoas a voluntariamente cumprir as regras e a promover o interesse coletivo da organização — objetivo maior das boas práticas de governança.


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