Há dez anos, o rádio era o aparelho doméstico mais presente nos lares brasileiros. Hoje, a televisão e a geladeira tomaram a frente: fazem parte, respectivamente, de 95,1% e 93,7% das residências, enquanto o rádio está em 81,4% delas. A máquina de lavar também ganhou espaço: passou de um terço das casas, em 2000, para metade nos dias atuais. E o percentual de brasileiros conectados à internet pulou de 27% para 48% entre 2007 e 2011.
À medida que a chamada nova classe média equipava suas casas com aparelhos novos, alguns players do varejo de duráveis conquistaram mercado e cresceram junto com o boom do consumo. Foi o caso do Magazine Luiza.
De 2001 a 2011, a taxa anual de crescimento da receita bruta da companhia do interior de São Paulo chegou a 28%. A receita bruta fechou 2012 em R$ 9,1 bilhões. Neste ano, poderá chegar aos dois dígitos, acredita Marcelo Silva, CEO da companhia. O número de lojas passou de 111, em 2001, para 743, em 2012. A expansão foi mais acelerada nos últimos anos: de 2009 até o ano passado, a rede praticamente dobrou de tamanho, com as compras da Lojas Maia (2010), muito presente no Nordeste, e do Baú (2011).
Ganhos de um lado e problemas de outro. O Magazine Luiza tem enfrentado percalços e dificuldades para incorporar as novas redes aos sistemas e à cultura da empresa. Tanto que, em 2013, o objetivo central da companhia não é crescer — apenas 20 a 25 lojas serão abertas —, mas ganhar rentabilidade. No ano passado, as despesas aumentaram, as margens foram afetadas e o Ebitda sofreu. Mesmo no quarto trimestre, que registrou lucro consolidado de R$ 9,7 milhões, os analistas do BTG Pactual Fábio Monteiro e João Mamede assinalaram que a margem bruta da companhia caiu para 27,9% (abaixo da previsão do banco, que era de 29,7%), devido à redução de preços e ao maior peso das vendas na web, menos lucrativas, em relação ao total.
Houve prejuízo líquido de R$ 6,7 milhões em 2012, contra lucro de R$ 11,7 milhões no ano anterior. O Ebitda caiu 19,6%, para R$ 241,8 milhões, e o Ebitda ajustado totalizou R$ 281,7 milhões, com margem ajustada de 3,7%. O resultado consolidado sofreu, acima de tudo, com a queda da margem bruta do varejo e o término do processo de integração da Lojas Maia, em outubro de 2012. O mercado puniu a piora dos números: de março do ano passado até 16 de abril deste ano, as ações do Magazine Luiza acumularam queda de 31%.
Enquanto os economistas debatiam se o ciclo de crescimento causado pelo aumento do consumo da classe C havia ou não se esgotado, os analistas que cobriam o Magazine Luiza avaliavam o impacto do aumento das despesas correntes nos resultados da companhia. O analista Renato Prado, do Banco Fator, frisa que “a importância do controle de despesas operacionais ficará mais evidente nos resultados da companhia, que opera com baixa margem Ebitda e cuja geração de caixa depende fortemente de tal controle”.
Apenas a título de comparação (embora as operações não sejam similares), Thiago Gramari, analista do BB Investimentos, lembra que a margem bruta da Lojas Americanas é de 32,8%, quase cinco pontos percentuais superior. Isso faz muita diferença numa operação como a do Magazine Luiza, que tem lojas no Sul, no Sudeste e no Nordeste do País, além de operações pela internet.
Cético, Prado afirma que, mesmo no resultado do quarto trimestre, “não viu melhora significativa no corte de despesas”. Para ele, é preciso haver mais enxugamento, inclusive de pessoal, para que os resultados operacionais sejam otimizados, como aconteceu no Pão de Açúcar.
Gramari concorda que serão necessários mais ajustes, mas já enxerga alguns ganhos nos resultados do quarto trimestre do ano passado, como a redução de 0,7 ponto percentual nas despesas operacionais recorrentes. Além disso, melhoraram os resultados da LuizaCred (empresa financeira em parceria com o Itaú), “com redução nos atrasos de mais de 90 dias, de 10,4% no terceiro trimestre de 2012 para 8,2% no trimestre seguinte”, afirma.
Os ganhos na LuizaCred refletem a continuidade, em novas bases, da parceria com o banco. Desde fevereiro do ano passado, a Galeazzi & Associados faz um trabalho de revisão de custos na financeira, com apoio do Itaú. A companhia está executando também um programa de redução de custos, o Mais com Menos, e começa a operar seu programa de inteligência de preço em 16 estados.
Mas Silva observa: “Não vamos fatiar o salame e buscar resultados só no curto prazo. Este não é o jeito Magazine Luiza de fazer o ajuste”. Só mesmo os próximos balanços vão dizer se o reparo será suficiente. O CEO está otimista com 2013, pois conta com ganhos a serem capturados. Um deles é o que será obtido com a desoneração da folha de pagamento (são 23 mil funcionários). Outro resultará da incorporação integral do Baú e da Maia — algo como um terço dos pontos de venda da companhia. Com todas as lojas maduras, na definição da empresa, o Magazine Luiza espera fechar o ano com uma margem Ebitda ao redor de 6%, mais ou menos a mesma registrada no balanço de 2010.
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