Dinheiro no bolso
Patrice Etlin
Patrice Etlin (Ilustração: Eric Peleias)

Patrice Etlin (Ilustração: Eric Peleias)

O brasileiro Patrice Etlin, sócio da Advent International, assume-se como um privilegiado. Diferentemente de outros gestores locais de private equity, ele não vem encontrando dificuldades para captar recursos. No comando de uma fortuna de US$ 2,1 bilhões alocada no fundo VI (parte de uma série de carteiras dedicada à América Latina), levantada no fim de 2014, ele parece animado com as oportunidades oferecidas pela crise. Em setembro do ano passado, usou recursos do fundo para adquirir dos médicos fundadores da rede de laboratórios Fleury uma fatia de 13% do capital. O montante da transação não foi revelado, mas estima-se que a Advent tenha gasto 35% menos em dólar do que pagaria pelo mesmo pedaço do capital dois anos antes. No último dia 12 de agosto, Etlin sacou mais uma bolada (também não divulgada) do fundo VI para investir no Brasil. Dessa vez, assumiu o controle da distribuidora de autopeças Fortbras, cujo negócio beneficia-se diretamente do crescimento da frota brasileira nos anos recentes e da consequente demanda por reposição de peças.

E não será surpresa se um novo — e relevante — desembolso acontecer em breve. Etlin desconversa, mas a Advent é uma das candidatas mais cotadas à aquisição do controle da BR Distribuidora, a rede de postos de combustíveis da Petrobras. Em julho, o conselho da Petrobras aprovou a venda de 51% do capital votante da companhia, condição considerada essencial pelo mercado para a viabilização da privatização de qualquer fatia da BR. “Hoje temos a oportunidade de olhar empresas muito grandes, que não estariam disponíveis em tempos normais”, assinala o gestor.

As janelas abertas para bons ativos fazem Etlin se lembrar do profícuo fundo IV, da mesma série voltada à América Latina. Estruturada em 2007, a reserva de US$ 1,3 bilhão possibilitou à Advent aproveitar os anos de 2008 e 2009, abalados pela crise internacional, para arrematar ativos preciosos como Cetip e Kroton — a primeira foi surpreendentemente vendida apenas seis meses depois, com retorno de 150%, e a Kroton tornou-se uma das maiores empresas de educação do mundo, com valorização de 73% somente em 2013, ano em que a Advent deixou o controle da companhia. Na ocasião, o Brasil ficou com uma generosa fatia de 70% dos recursos do fundo dedicado à América Latina. “Agora, é provável que a gente se aproxime desse percentual novamente”, afirma Etlin.

Um cenário bem diferente do experimentado com o fundo V, investido a partir de 2011. Naquela época, Etlin foi uma das primeiras vozes a bradar que o Brasil estava caro e que era a hora de vender ativos. “O Brasil tinha crescido 7,5% em 2010 e virado o ‘darling’ dos mercados financeiros”, recorda-se. Para Etlin, aquela era a hora de se aproveitar da extravagância e cair fora. Em 2013, desfez-se de ações de Cetip e Kroton e de papéis da rede de free shops em aeroportos Dufry e da lavanderia industrial Atmosfera. O México e a Colômbia ficaram com boa parte dos investimentos do período, enquanto o Brasil recebeu, ao longo de 2014, aportes pontuais, como na fabricante têxtil catarinense Dudalina, na farmacêutica United Medical e na Cataratas do Iguaçu, concessionária que administra os parques nacionais do Iguaçu (PR), de Fernando de Noronha (PE) e da Tijuca (RJ).

Agora Etlin está novamente de olho em “coisas grandes” no Brasil. Além dos recursos do fundo VI, está ladeado por um gigantesco portfólio global de US$ 13 bilhões captado em março, cujo mandato permite até 20% de alocação fora dos Estados Unidos e da Europa. O gestor confirma a informação de que ao menos dois ativos no Brasil serão comprados com o dinheiro desse fundo — um deles, na área de educação; o outro setor ele não revela (mas responde com um silêncio ao ser indagado sobre a possibilidade de ser o de distribuição de combustíveis).

Educação é um dos alvos prioritários da gestora no País desde o bem-sucedido investimento na Kroton. Em março do ano passado, a Advent comprou a Faculdade da Serra Gaúcha, também com o plano de promover uma história de consolidação de marcas. Saúde é outro espaço cobiçado pela Advent, especialmente desde o começo de 2015, quando a Lei 13.907 autorizou estrangeiros a investir em hospitais, clínicas e laboratórios no Brasil. Logística e infraestrutura, especialmente o setor de portos, também estão na mira do gestor, assim como o negócio de parques nacionais e visitação turística. Por meio da Cataratas do Iguaçu, a Advent investiu no Aquário (AquaRio) e no Zoológico do Rio de Janeiro.

“Na pior das hipóteses, voltaremos a ser o país medíocre que sempre fomos”

Já os negócios de consumo e varejo foram colocados na geladeira. “Estamos muito cautelosos com eles”, admite Etlin. Atualmente a gestora investe em ativos de moda e vestuário (Restoque, dona da Dudalina e das marcas Le Lis Blanc e Rosa Chá), de alimentação (International Meal Company, que detém as redes Viena e Frango Assado) e de casa e construção (rede gaúcha Quero-Quero). Etlin conta que, nos dois últimos casos, a tática para atravessar a tempestade na economia foi precisa: enxugar custos, fechar lojas e injetar recursos para as companhias ganharem liquidez. Não existe pressa, segundo ele, em se desfazer desses ativos. “Estamos esperando. A grande pergunta é quando o consumo vai voltar.”

O longo tempo de maturação dos fundos da Advent é um conforto para Etlin. No fundo para a América Latina, os investidores colocam dinheiro com um compromisso de 12 anos. Isso faz com que temas como o impeachment da presidente Dilma Rousseff e as truncadas relações entre o Executivo e o Congresso passem longe das preocupações dos analistas de investimentos da gestora. “Na pior das hipóteses, voltaremos a ser o país medíocre que sempre fomos”, afirma. A presidente Dilma, enfatiza, apenas conseguiu “piorar o que já era ruim.” O Brasil imerso em problemas, portanto, é um dado já computado nas equações de valor de Etlin.

O câmbio, no entanto, exige toda a atenção. No bolso dos investidores estrangeiros, a desvalorização da moeda brasileira pode corroer grande parte dos retornos proporcionados por ótimos negócios. Por isso, a estabilidade nesse campo é muito importante. Um ponto positivo, diz, é a perspectiva de retorno do fluxo de capital estrangeiro de curto prazo que começa a surgir no horizonte. As taxas de juros negativas na Europa e resistentes nos Estados Unidos, as dúvidas sobre uma aterrissagem “hard” ou “soft” da China, os conflitos militares da Rússia e os preços altos das bolsas de outros mercados emergentes, como o da Índia, tornam os ativos e o mercado de ações brasileiros novamente atrativos para os investidores. Se nesse cenário a inflação arrefecer e as taxas de juros caírem, Etlin acredita que estará desbloqueada a estrada para o País voltar a crescer.

Nessa hipótese, ele espera ver também uma reabertura da bolsa brasileira para as ofertas de ações, porta de saída importante para os investimentos das gestoras da private equity, inclusive a Advent. Nos últimos anos, Etlin levou à bolsa sete companhias, entre elas Cetip e IMC. A demanda forte pela oferta de units da Energisa — em julho, a companhia alcançou uma captação de R$ 1,53 bilhão com demanda elevada — e a da operadora de turismo CVC redirecionaram a atenção dos bancos de investimento para as oportunidades de ofertas públicas. “Estamos de olho nisso”, diz Etlin. Algo como a euforia de 2007 a 2009, contudo, ele está convicto de que não verá mais no Brasil.

Outro alvo da sua atenção é a Argentina. A Advent fechou o escritório no país em 2012, com receio de medidas políticas avessas ao dinheiro estrangeiro, mas, nos últimos meses, encorajada pela abordagem liberal do presidente Mauricio Macri, voltou a visitar o país. “Não seria surpreendente fazermos um investimento na Argentina com o fundo VI”, sinaliza o gestor. O Peru, apesar da economia pequena, também toma cada vez mais tempo dos analistas da gestora. Se os vizinhos seguirem por esse caminho e as oportunidades “grandes” no Brasil continuarem a encantar, a América Latina crescerá para a Advent. Está aí uma boa perspectiva para a captação do fundo VII.


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