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Fila de desembarque
Atraídas pela prosperidade do capital empreendedor no Brasil, firmas internacionais de private equity montam bases no País

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Da janela do que será uma sala de reunião do escritório novo em folha, o português Filipe Cerqueira Caldas contempla a praia do cobiçado bairro do Leblon, no Rio de Janeiro. “Com essa vista, vai ser difícil trabalhar aqui”, brinca o vice-presidente da Capital Dynamics Investimentos, que em março deste ano inaugurou na Cidade Maravilhosa seu primeiro escritório em território brasileiro. A suíça Capital Dynamics quer estar bem próxima dos projetos de investimento de private equity que devem surgir em torno da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016. E, para isso, pretende atuar como uma gestora nacional. “Queremos ser brasileiros”, enfatiza Caldas, sem esconder o sotaque lusitano. Ao lado de Ricardo Fernandez, este sim natural daqui, ele está montando uma equipe com profissionais locais.

Ver, literalmente, de perto os negócios antes de comprá-los é apenas um dos motivos que estão fazendo gestores globais de fundos de private equity criarem quartéis-generais por aqui ou se associarem a firmas nacionais. No fim de outubro, a Highbridge Capital Management, do J.P. Morgan Asset Management, anunciou a compra de 55% do capital da Gávea Investimentos, do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, um mês depois de o grupo Blackstone ter fechado a aquisição de 40% do Pátria Investimentos. “Nos associar à Gávea dá a nossos clientes a combinação ideal de expertise em mercados emergentes com a plataforma global do J.P. Morgan Asset Management”, afirmou em nota oficial Mary Callahan Erdoes, CEO da empresa de gestão de recursos do banco J.P. Morgan.

A decisão de manter um time próprio no País é um reconhecimento da importância que o mercado brasileiro conquistou internacionalmente. No primeiro semestre, fundos de private equity voltados à América Latina investiram cerca de US$ 3,8 bilhões, mais que o total do ano passado inteiro, de US$ 3,3 bilhões, segundo dados da Latin American Venture Capital Association (Lavca). O Brasil é a principal praça, sediando 52% dessas transações.

Ao constituírem uma base no País, os gestores sinalizam que seu compromisso com o Brasil é duradouro

NÚMEROS EM ALTA — Em termos de captação de recursos, novos fundos dedicados à região levantaram US$ 3,1 bilhões nos primeiros seis meses do ano. O Brasil ficou com 66% do capital comprometido. Com vários veículos alvejando US$ 1 bilhão ao longo do segundo semestre — em setembro, a Southern Cross amealhou US$ 1,68 bilhão para seu quarto fundo latino-americano —, a Lavca acredita que as captações de 2010 possam bater o recorde de US$ 6,39 bilhões de 2008. Por tudo isso, Cate Ambrose, presidente e diretora executiva da associação, percebe uma sensação geral de que é preciso estar no Brasil.

, Fila de desembarque, Capital Aberto“O grande erro da primeira geração de firmas de private equity que tentaram investir na América Latina, na década de 90, foi acreditar que podiam replicar aqui os mesmos modelos usados nos Estados Unidos, por exemplo”, diz Cate. Um caso clássico foi o da norte-americana Hicks Muse, que apostou em empresas latino-americanas de tecnologia, inclusive com participações minoritárias, e amargou perdas ao redor de US$ 1 bilhão com o estouro da bolha das pontocom. “Hoje, existe o entendimento de que é necessário conhecer bem o mercado local”, conclui Cate.

Ao constituírem uma base no País, os gestores sinalizam que seu compromisso com o Brasil é duradouro perante os investidores estrangeiros interessados nas oportunidades da região. E o mesmo vale para os investidores domésticos.
As firmas estrangeiras querem se relacionar com os investidores institucionais brasileiros e se tornar seus veículos no mundo externo. “Os fundos de pensão ainda não estão investindo em private equity no exterior, mas isso vai acontecer em algum momento. Eles vão se posicionar com quem já tiverem um relacionamento”, prevê Cate.

FUNDO DE FUNDOS — A Capital Dynamics é uma das que estão mirando investidores brasileiros. Mas sua proposta é competir, logo de cara, com os players locais. A gestora está montando um fundo 100% verde-amarelo, tanto na origem dos recursos quanto na sua destinação. O plano é usar o sistema de “gestão integrada” de private equity da matriz em um fundo de investimento em cotas de fundos de investimento em participações (FIC-FIP), com tamanho previsto de R$ 500 milhões. O modelo integrado significa a atuação em três frentes: o mercado primário, o secundário, e o de investimentos diretos. No primeiro, o fundo da Capital Dynamics vai comprar cotas de fundos geridos por terceiros durante a fase de captação. No segundo, vai adquirir cotas de fundos detidas por investidores que buscam liquidez para suas posições. Na última modalidade, a Capital Dynamics investe diretamente nas empresas, geralmente adquirindo fatias minoritárias. Com essa fórmula, a gestora se libera para fazer negócios tanto em períodos de crescimento quanto em momentos de crise (mercado secundário).

O projeto do FIC-FIP foi inscrito na 11ª chamada pública da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), que, pela primeira vez, incluiu esse tipo de fundos na seleção. Por meio desse processo, a Finep organiza o encontro entre gestores e investidores institucionais, do calibre de grandes fundos de pensão como Previ, Petros e Funcef. Segundo Caldas, as impressões iniciais sobre o projeto foram “positivas”. A Finep não quis comentar o andamento da chamada antes da publicação do resultado final, que deve ocorrer só no fim do ano.

Caso seja aprovado pelos investidores, o FIC-FIP da Capital Dynamics será registrado na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e poderá se tornar um dos primeiros fundos de fundos de private equity do Brasil. Em vez de ingressar diretamente no capital das companhias, essa modalidade de investimento compra cotas de vários fundos, de modo a diversificar os gestores e os ativos da carteira. No alvo do fundo, estarão projetos de energia limpa e empresas que se beneficiam do aumento de renda da população ou dos preparativos para os megaeventos esportivos. Caldas cita como exemplos prestadoras de serviços de saúde e empresas de “vending machines”. Para o executivo, o esperado movimento de turistas poderá incentivar a indústria de máquinas de venda de produtos como refrigerantes e doces, principalmente em áreas próximas à realização dos jogos.

A chegada dos estrangeiros pode inflar os preços dos ativos disponíveis para aquisições

De acordo com Caldas, a Capital Dynamics, por meio de outros fundos, acumula um capital comprometido de US$ 230 milhões no Brasil, país no qual começou a investir em 2007, e possui outros US$ 13 milhões alocados diretamente em uma planta de etanol. Globalmente, a gestora tem mais de US$ 21 bilhões e 20 anos de experiência no setor de private equity.

SOLUÇÃO PARA OS ESTRESSADOS — Curiosamente, a firma que empregou Caldas antes da Capital Dynamics também está abrindo as portas no Brasil. Com US$ 25 bilhões sob gestão mundo afora, a suíça Partners Group, listada na Bolsa de Valores da Suíça, procura se aproximar mais do País. Segundo a vice-presidente Karin Hallin, da área de soluções de investimento e responsável pelas operações no Brasil, o escritório paulistano da gestora deve ser inaugurado ainda neste mês de novembro.

A firma é uma das poucas do mundo que, assim como a Capital Dynamics, trabalha com gestão integrada de private equity. E é conhecida, sobretudo, pela atuação no mercado secundário. “Somos compradores de investidores ‘estressados’”, define Karin. Ou seja, compram participações de investidores que, por uma ou outra razão, necessitam sair do fundo. De acordo com Karin, o Partners Group já participou de algumas operações no mercado secundário no Brasil, mas ela prefere não revelá-las, para preservar os nomes dos gestores e dos investidores que negociaram suas participações.

Embora venha investindo no País há cerca de dez anos, o Partners Group percebeu que estava na hora de estabelecer presença física por aqui, a fim de estar em contato constante com gestores de fundos, identificar as melhores oportunidades de negócio e estreitar o relacionamento com investidores institucionais locais. A gestora planeja criar um novo fundo de private equity específico para o mercado nacional, mas Karin não diz ainda o formato que ele terá.

A chegada dos estrangeiros, além de implicar o aumento da concorrência para os gestores locais, ajuda a inflar os preços dos ativos disponíveis para aquisições. Mas isso não assusta Marcus Regueira, sócio-fundador e diretor de investimentos da mineira FIR Capital. Para ele, que nega que seu comentário seja apenas “político”, a vinda das casas internacionais acaba inserindo as nacionais no radar dos investidores estrangeiros. “Com mais gente participando e propiciando coinvestimentos, poderemos criar um ecossistema capaz de trazer mais liquidez aos ativos”, completa.


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