Executivos socialmente responsáveis são mesmo éticos?

Estudo realizado pelos pesquisadores Diegro Prior, Jordi Surroca e Josep Tribó da Universidade Carlos III de Madrid aborda um tema polêmico: os fatores motivadores das ações de responsabilidade social corporativa (Corporate Social Responsibility – CSR) por parte dos altos executivos das companhias. Intitulado Are Socially Responsible Managers Really Ethical?, o trabalho investiga a relação entre as práticas de gerenciamento de resultados (earnings management) e CSR de 593 companhias de 26 países entre 2002 e 2004.

Os autores argumentam que a prática de gerenciamento de resultados — quando executivos usam seu poder discricionário para aumentar ou reduzir o lucro do período, por meio de artifícios contábeis como um baixo nível de provisão para devedores duvidosos, depreciação acelerada ou postergação do lançamento de despesas — é ruim para o interesse coletivo dos investidores, o que poderia levar a uma maior pressão por parte de acionistas ativistas e outros stakeholders. Nesse contexto, eles supõem que as práticas de CSR poderiam ser usadas como forma de obter apoio dos stakeholders, gerando uma oportunidade para entrincheiramento dos gestores e manipulação dos resultados.

Ao executar a pesquisa, os autores encontram uma forte influência positiva da prática de gerenciamento de resultados sobre as ações de CSR; o resultado se mantém após diversos testes de robustez. Os pesquisadores observam ainda que a combinação das práticas de gerenciamento de resultados e de CSR tem forte impacto negativo sobre o desempenho financeiro de longo prazo das companhias.

Os resultados fornecem um importante insight para executivos e formuladores de políticas públicas. Para os executivos, os resultados mostram que o fato de projetar uma imagem socialmente amigável das companhias para disfarçar o gerenciamento de resultados não poderá ser sustentado no longo prazo, devido aos efeitos negativos sobre o desempenho financeiro.