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Executivos com olhos de dono
Interesse de gestores internacionais pelo Brasil faz crescer a demanda por profissionais na indústria de private equity

, Executivos com olhos de dono, Capital AbertoCesar Collier construiu sua carreira no varejo. Aos 31 anos, comandava metade do Carrefour no Brasil. Em 2007, apesar da trajetória promissora naquele mercado, ele resolveu mudar de ramo e partir para o setor de private equity (PE), que lhe despertava certa paixão. Acreditava que sua postura empreendedora e a experiência que acumulara em toda a cadeia do varejo — finanças, suprimentos, operação e comercial — agregariam valor na nova atividade. A reviravolta deu certo. Collier passou pelo private equity do Merrill Lynch e do sul-africano Standard Bank e, há pouco mais de um mês, assumiu a operação brasileira da gestora de private equity Siguler Guff, dona de US$ 9 bilhões em ativos em todo o mundo e recém-chegada ao País. Escolhido pela empresa de recrutamento de executivos Russell Reynolds, ele tem agora a missão de começar um escritório do zero e formar equipe.

O desafio não é pequeno. Collier está em busca de gente qualificada, com alguma experiência em private equity, habilidade de relacionamento, formação acadêmica sólida, capacidade analítica e atitude empreendedora. Dentre esses pré-requisitos, dois são especialmente difíceis de encontrar: a experiência prévia no setor, uma indústria jovem e ainda pequena no Brasil; e o perfil empreendedor, que não há treinamento capaz de incutir.

Com a ampliação do segmento, a partir do desembarque de players internacionais e da criação de gestoras locais, a demanda por profissionais aumentou. Uma das saídas para preencher as novas posições tem sido buscar talentos em áreas correlatas como consultorias estratégicas e bancos de investimento. Eventualmente, surgem nomes de executivos com experiência em empresas, em especial com participação em fusões e aquisições. O problema é que nem sempre é fácil convencer esses candidatos a migrar. “O setor de investment banking está pagando horrores e oferece ganhos rápidos, enquanto em private equity é preciso esperar de 5 a 7 anos para obter retorno. Apesar de ser uma indústria muito sexy, não é uma adaptação fácil”, diz Collier, que espera contratar inicialmente 3 ou 4 profissionais para sua equipe.

O CICLO LONGO DO PE  — que se inicia com a captação de recursos, passa pela originação e a execução de negócios e termina com o monitoramento e a saída do investimento — dificulta, inclusive, a prospecção na concorrência, segundo a headhunter Patrícia Gibin, sócia da Fesa. “Tirar alguém de outro fundo é complicado, porque sair de onde está pode significar para o profissional deixar na mesa parte significativa da sua remuneração, que é atrelada ao resultado de longo prazo”, explica. Como há poucos casos de fundos que concluíram o ciclo até o desinvestimento, as oportunidades de encontrar gestores de alto nível com experiência no setor e disponíveis para mudar são escassas. Boas chances surgem, por exemplo, quando instituições saem do negócio de private equity e dispensam suas equipes, como foi o caso da AIG durante a crise financeira de 2008 e 2009.

Uma saída é buscar talentos em áreas correlatas como consultorias estratégicas e bancos de investimento

Na Fesa, somente no primeiro trimestre deste ano, houve um acréscimo de 54% no número de vagas de gestores de private equity em relação ao registrado em todo o ano passado. As características dos profissionais procurados variam conforme a especificidade da instituição. “Os fundos maiores acabam montando equipes com perfis diversificados e complementares, mesclando gente de consultoria, da indústria financeira e também do mercado de private equity”, esclarece Patrícia. No período anterior à crise que assolou a economia mundial, há cerca de três anos, a indústria de PE nos Estados Unidos era mais atrelada ao mercado financeiro, o que exigia gestores com esse perfil. Mas isso tem mudado, lembra a headhunter. “Os fundos que chegam ao Brasil estão respeitando a dinâmica do nosso mercado”, afirma. “Aqui, a indústria não é tão financeira. Temos profissionais vindos de consultoria e até executivos de empresas atuando em private equity.”

A Capital Dynamics é um exemplo. O vice-presidente da gestora, Filipe Caldas, justifica que, no caso dos investimentos primários, em que o fundo é desenvolvido dentro de casa, a busca é por um gestor que goste de permanecer num mesmo projeto durante anos e com capacidade de análise qualitativa e quantitativa. No caso dos investimentos secundários, em que são adquiridas cotas de Fundos de Investimento em Participações (FIPs) já existentes no mercado, ele procura um profissional dinâmico, que goste de atuar em projetos curtos, com capacidade de fazer análises fundamentalistas das empresas e rapidez para correr atrás de oportunidades e fechar rapidamente as transações. “O private equity gira em torno dos times, e essa fórmula mágica é um desafio gigantesco”, observa Caldas, português que está no Brasil desde o início de 2010. Ele pretende, em breve, agregar dois novos nomes à sua equipe.

UM NEGÓCIO PARA PERSEVERANTES — O perfil empreendedor também é crucial para quem pretende atuar nesse segmento. “O comprometimento deve ser igual ao de um dono, de um empresário. A visão tem que ser a de gerar riqueza para o negócio e não a da remuneração executiva, do salário”, descreve a sócia da Fesa. Por esse motivo, ao mesmo tempo em que o negócio de private equity atrai os jovens, também pode afastar aqueles com perfil mais imediatista, especialmente os da chamada geração Y. “Essa turma quer ganhar dinheiro rápido, quer resultados rápidos. Quem vai para o private equity precisa estar muito consciente e ser persistente”, orienta Cesar Collier, da Siguler Guff.

Uma boa oferta de profissionais, especialmente em nível médio, tem vindo do exterior. São brasileiros que concluíram um MBA fora, desenvolveram uma atuação no setor financeiro por lá, mas agora retornam ao País atraídos pelas oportunidades de trabalho emergentes. “Tenho visto muitos casos desse tipo, e alguns deles estão indo para o private equity”, comenta a headhunter Angélica Wiegand, da CT Partners. Segundo ela, o perfil de PE remete ao do profissional com experiência em fusões e aquisições, que costuma ser disputado para atuar em diversos segmentos dos mercados financeiro e de capitais.

Na consultoria de recrutamento Russell Reynolds, a demanda para preencher vagas em private equity também está em alta. Mas o headhunter Renato Furtado, responsável por preencher as posições no setor, conta que essa não é uma área que trabalha com grandes volumes de contratações. “A busca é crescente em função do ingresso de novos players, especialmente os internacionais, mas ainda se trata de um número pequeno de pessoas em termos absolutos”, salienta o consultor. A equipe de um fundo costuma variar entre 3 e 10 pessoas, desde o mais sênior até o mais júnior. Ainda assim, o segmento movimenta como nunca as buscas dos caçadores de talentos. E a perspectiva é de crescimento para os próximos anos — certamente uma ótima oportunidade para os headhunters e para os executivos que sabem monitorar empresas com olhos de dono.


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