Desde a Abolição da Escravatura, em maio de 1888, uma bolha especulativa se formava no Brasil. A euforia desencadeada pela Lei Áurea se transmitiu ao mercado de ações na Bolsa do Rio de Janeiro — era o chamado Encilhamento. A República e Ruy Barbosa, seu primeiro mentor econômico, são, usualmente, debitados por tal movimento e pela catástrofe econômica que o sucedeu. Mas essa não é a verdade dos fatos. A febre vinha de antes.
É notório, em qualquer mercado, o entusiasmo do público diante de ofertas públicas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês) lançadas em períodos de grande excitação e otimismo. Os exemplos são inúmeros. Alguns dos IPOs que mais causaram euforia entre os investidores foram os dos bancos Kredit Anstalt e Brunswick, realizados durante a bolha austro-alemã de 1850. Essa mesma situação ocorreu no Brasil daqueles tempos.
Diversos IPOs já tinham acontecido desde a Abolição. A procura por novas ações era crescente. Em setembro de 1889, a dois meses da Proclamação da República, o conselheiro Francisco de Paula Mayrink, o maior empreendedor da época, lançou os papéis do Banco Construtor do Brasil no mercado. A empresa era um misto de banco e empreiteira de obras públicas. A reserva de ações deveria ser feita na sede do Banco de Crédito Real do Brasil, também comandado por Mayrink. O Jornal do Commercio do dia seguinte descreveu a histeria dos investidores:
“… apesar de terem invadido os pretendentes todos os compartimentos do edifício, tal a aglomeração de gente, tal o aperto, que várias pessoas tiveram síncopes, sendo algumas dali retiradas a braços.
A sofreguidão era tamanha, que os que estavam na área e nas escadas, desanimados de chegar à sala de inscrição de ações, atiravam dali mesmo, dentro de sobrecartas, as quantias correspondentes aos títulos que desejavam obter.
Durante algum tempo, ficara completamente paralisado o movimento daquela enorme mó de gente. Ninguém podia entrar nem sair do edifício…”
As reservas de ações ultrapassaram a oferta em mais de oito vezes, levando à realização de um rateio. Dois dias depois, o mesmo jornal publicou uma nota de agradecimento do senhor José Gomes, cujo teor é significativo dos acontecimentos:
“Banco de Crédito Real do Brasil O abaixo assinado, sinceramente, agradece à ilustre diretoria e mais empregados os cuidados que lhe prestaram na ocasião em que foi acometido de uma síncope no mesmo banco. José Cândido Gomes“.
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