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Em terra de gigantes
Renar Maçãs, primeira a abrir o capital este ano, inova nos modelos de colocação e distribuição e desafia padrões estabelecidos pelos bancos

 

 

O ano de 2005 começou quebrando um mito. Para surpresa dos mais céticos, a estréia das aberturas de capital foi feita por uma empresa pouco conhecida, de controle familiar, instalada em uma cidadezinha no sul do País de aproximadamente 35 mil habitantes e disposta a fazer uma emissão de ações totalmente fora dos moldes tradicionais. Sem medo de dar a cara para bater, a Renar Maçãs, pioneira no cultivo da fruta no Brasil, abriu a temporada de Ofertas Públicas, Em terra de gigantes, Capital Aberto Iniciais de ações (IPO) com uma emissão de apenas R$ 16 milhões – volume que não se via desde 1996, quando realizada a oferta de R$ 12,3 milhões da Panex S.A. (considerando-se a inflação no período).

Fundada em 1967 pelos irmãos de origem alemã René e Arnold Frey, no município de Fraiburgo, Santa Catarina, a companhia é a primeira de agronegócios a entrar na bolsa depois de um longo período de decadência do setor no mercado de ações. Com o controle transferido para grupos multinacionais, a maior parte das empresas do segmento fechou o capital, deixando sem representação no pregão um dos setores mais pujantes da economia, responsável pela forte recuperação das contas externas nos últimos anos.

Com faturamento de R$ 44,3 milhões nos primeiros nove meses de 2004, bem inferior ao de grande parte das empresas listadas (apenas 9,1% das companhias presentes na bolsa têm receita limitada a este patamar), a Renar resgatou costumes que aparentemente haviam entrado em completo desuso com o domínio do mercado pelas grandes instituições financeiras.

O mais importante deles é a emissão de pequeno porte. Com o processo de globalização dos mercados de capitais, a regulamentação do investimento estrangeiro no mercado brasileiro, na década de 90, através do Anexo IV, e a entrada de bancos de investimentos estrangeiros no País, o mercado de ações doméstico vinha sendo conduzido na esteira das ofertas vultosas vistas lá fora, o que minava o espaço para operações menores, conta Joubert Rovai, ombudsman da Bovespa.

O modelo de distribuição também é diferente do que se viu nos últimos anos. Nada de grandes bancos como líderes ou co-líderes da operação. Voltada basicamente a investidores pessoa física – uma vez que o volume ofertado mal serve de aperitivo para os grandes investidores institucionais – a emissão conta com uma rede de distribuidores formada, exclusivamente, por corretoras de valores.

A Renar resgatou ainda uma prática de colocação já praticamente esquecida. No lugar do sistema de bookbuilding plenamente difundido pelos grandes bancos, em que o mercado forma o preço do papel, ou dos tradicionais leilões, a Renar preferiu ficar com o jeito mais simples e menos ambicioso de emitir ações. Tirou do baú as ofertas a preço fixo, em que a companhia diz logo de cara quanto quer receber pelos papéis. Se o mercado concordar com o preço, negócio fechado. Se não, a operação mica. “Foi possível optar pelo preço fixo porque se tratava de uma operação pequena. Qualquer prejuízo com a determinação prévia do valor da ação não seria tão expressivo”, explica Ricardo Nogueira, superintendente de operações da Bovespa, que não via ofertas com preço fixo há pelo menos dez anos.

CORAGEM PARA INOVAR – Enquanto muitos assistiam com desconfiança a Renar alçar vôo no mercado de capitais – e alguns contavam os dias para ela se esborrachar no chão após romper os dogmas defendidos pelos bancos – os administradores da exportadora de maçãs encaravam a empreitada com a tranqüilidade habitual de quem vive fora dos grandes centros. Preferiam pensar que seu desprendimento para inovar poderia até ser útil a companhias que, pelo ramo de negócio ou faturamento, se sentissem intimidadas a fazer o mesmo. “O mercado está carente de novas empresas. Se a operação for bem sucedida, haverá uma importante quebra de paradigma que abrirá caminho para novas aberturas nesta mesma linha”, afirma o diretor financeiro da companhia, Elvito Coldebella.

A primeira parte da aposta deu certo. Segundo dados da Elite Corretora, coordenadora da operação, 34,3 milhões em ações foram reservadas, mais que o triplo da oferta de 10 milhões. Foram atendidos 1,980 milhão de pedidos sem rateio e 200 mil ações foram destinadas ao clube de investimento dos funcionários. Os estrangeiros ficaram com cerca de 5% dos pedidos e 1,5% do investimento. Se todas as ofertas tivessem sido atendidas, a operação atingiria R$ 54,9 milhões.

Se para investidores institucionais e grandes intermediadores a emissão era insignificante, para a área financeira da Renar os R$ 16 milhões vieram na medida certa para atender sua necessidade de capital de giro. Sim, é isso mesmo. A Renar não foi a mercado de capitais para financiar audaciosos projetos de crescimento, mas para fazer frente ao capital de giro necessário para atender aos crescentes pedidos dos 17 países aos quais dirige suas exportações, responsáveis por 60% do faturamento.

Segundo Coldebella, o mercado de capitais foi a fonte escolhida por diversas razões. Em primeiro lugar, por ser visto como importante canal de crescimento para o País. “Preferimos contribuir para o desenvolvimento desta fonte de recursos do que pagar juros aos bancos”, afirma. Também contou a favor a preocupação da companhia em profissionalizar a gestão. Desde 2000, apenas um filho do atual controlador, entre quatro, participa da administração.

A transparência exigida pelos investidores, na visão de Willy Frey, principal acionista da Renar, torna mais eficaz o processo de sucessão e ajuda a institucionalizar e perenizar o negócio. Ao mesmo tempo, a entrada de novos sócios, o compartilhamento de decisões e a cobrança por resultados contribuem para aprimorar o desempenho da companhia, avalia. A emissão de ações é vista ainda como forma de abrir um canal para novas captações, por meio de outros títulos, nos próximos anos. “O início deste relacionamento é importante para futuras oportunidades. Quem sabe, para uma emissão de debêntures mais adiante”, diz Coldebella.

GOVERNANÇA ALIADA – Atraídos pelos predicados do mercado de ações, os controladores da Renar ganharam confiança para colocar suas idéias em prática. Para isso contribuiu a crença de que boas propostas de governança corporativa poderiam ajudar a conquistar o respeito e a poupança dos investidores. Foi assim que a Renar decidiu listar suas ações no Novo Mercado, concedendo direito de voto a todos os acionistas e suportando custos pesados (e até desnecessários) para uma companhia do seu porte, como a divulgação de informações financeiras em US GAAP – exigência do Novo Mercado que tem prazo de dois anos para ser implementada. “Iniciativas positivas como o Novo Mercado diminuíram os temores de aplicar em bolsa, o que estimula novamente a utilização deste canal”, afirma Frey.

Ainda que a pouca intimidade com as questões relacionadas a governança tenha ficado evidente, os controladores não economizaram disposição para seguir as regras do jogo. Quando obteve o registro de companhia aberta na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), em dezembro, a companhia incluiu em seu estatuto social a concessão de tag along de 100% aos acionistas minoritários, garantindo-lhes igual tratamento em caso de alienação do controle. Historicamente, a exportadora de maças já revelava certa vocação para uma relação de transparência entre os sócios e uma gestão profissional. Sociedade anônima desde 1977, possui auditoria externa há 15 anos e um conselho fiscal que funciona há oito ininterruptamente. Tipo da bagagem que pega bem para uma companhia que chega com a cara e a coragem para começar diferente.


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