Há um ano, a Gol despertava a desconfiança dos investidores. A alta do dólar pegou muitas empresas de surpresa. No setor aéreo, no qual o preço do querosene de aviação é cotado na moeda norte-americana, não foi diferente. A falta de liquidez das ações combinada com o caixa reduzido da Gol gerou, inclusive, boatos de que a companhia daria um default nos contratos de combustível.
Ciente de que precisava reverter essa situação, a Gol iniciou uma análise sobre companhias aéreas em todo o mundo. O estudo concluiu que as donas dos melhores desempenhos operacionais tinham uma característica pouco usual para o setor, tipicamente alavancado: um caixa forte. Algo como 20% do faturamento anual dessas empresas permanecia disponível para a utilização imediata. Essa, contudo, era uma realidade distante da vivida pela Gol na época. No terceiro trimestre de 2009, a companhia apresentava receita em torno de R$ 1,5 bilhão e caixa de R$ 162 milhões.
A situação começou a mudar no início do terceiro trimestre de 2009. Esses números não contabilizavam a oferta de ações feita pela companhia em outubro do ano passado, cuja parte primária atingiu R$ 627 milhões. O estudo realizado pela Gol, que fundamentou a estratégia de fortalecer a liquidez da empresa, foi bem recebido no mercado. De junho a novembro, a ação da companhia valorizou 184,2%, enquanto o Ibovespa subiu 23%.
Uma tremenda evolução que Leonardo Pereira, vice-presidente de finanças da Gol, prefere creditar a outros indicadores além do caixa robusto. A necessidade criada pela oferta de ações fez com que a companhia estreitasse a comunicação com investidores de todo o mundo. Mais de 60% da oferta da Gol, que também é listada em Nova York, foi subscrita por estrangeiros. “Participei de mais de 200 reuniões até o início de dezembro”, relata o executivo.
A qualidade dos indicadores apresentados aos investidores também evoluiu. A Gol, há cinco trimestres seguidos, registra lucros operacionais. Basicamente, no setor aéreo, o lucro é resultado da relação entre dois indicadores: a taxa de ocupação e o break even. Este último indica a porcentagem de ocupação necessária para custear a operação. De pouco adianta forçar a elevação da taxa de ocupação se o break even subir na mesma proporção. Nesse sentido, a Gol parece ter encontrado o equilíbrio. Nos últimos trimestres, encheu de 61% a 66% os voos com o break even entre 56% e 61%.
Dados de novembro mostram um aproveitamento ainda melhor da sua capacidade de transporte, com uma taxa de ocupação de 72,5%. Diferentemente da TAM, muito forte nos trechos internacionais, a Gol foca os voos domésticos. “As perspectivas para o Brasil são melhores do que as internacionais. O modelo de negócios da Gol, hoje, é mais atraente que o da TAM”, aponta Brian Moretti, analista da Planner Corretora.
A estratégia da Gol pode trazer um resultado contundente em breve. Nos próximos meses, de acordo com Moretti, a companhia deverá ultrapassar a participação da TAM no mercado interno.
A disputa, em novembro, apontava 42% de market share para a Gol e 44% para a concorrente, dona da liderança há anos.
O vice-presidente de finanças garante que a liderança, caso chegue, virá naturalmente. “O market share é um dado menos importante.” Para ele, a dianteira no mercado doméstico é um título simbólico — o verdadeiro prêmio que a Gol pode entregar ao mercado é o lucro constante. Mas, para se ter uma ideia do que o crescimento da companhia no mercado doméstico significa em números, dos R$ 14,5 bilhões vendidos por toda a indústria no terceiro trimestre de 2009, R$ 6,1 bilhões foram para o cofre da Gol. Em comparação com o mesmo período de 2008, o indicador RPK — que mede o número de passageiros pagantes transportados por quilômetros voados — registrou crescimento de 25% no setor; analisando apenas o desempenho da Gol, a evolução chegou a 31%.
E esses números podem ser alavancados com a inauguração, em dezembro, de uma loja no Largo 13 de Maio, no bairro de Santo Amaro, em São Paulo. O plano é vender passagens aéreas para o público de baixa renda. A unidade vai aceitar todos os meios de pagamento, mas quem tiver o cartão Voe Fácil, da Gol, poderá pagar em até 36 vezes (em promoções específicas, sem juros). Hoje, o plástico tem 1,8 milhão de usuários.
Para este ano, a companhia também pretende dobrar as alianças internacionais. Atualmente, possui quatro parceiras nos mercados mais importantes do mundo: American Airlines, KLM (Holanda), Air France e Iberia (Espanha) atendem aos clientes Gol e Smiles — programa de milhagem da antiga Varig, incorporado pela Gol — em trechos de longa distância. “É a forma mais segura que encontramos de oferecer rotas internacionais aos clientes”, avalia Pereira. Em outras palavras, trata-se de aproveitar a atuação já consolidada das aliadas no ainda tumultuado mercado internacional para não correr o risco de abalar o caixa. No que depender da Gol, ele agora seguirá gordo.
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