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Em busca da onda certa
Shinji Yamauchi

, Em busca da onda certa, Capital AbertoShinji Yamauchi, diretor executivo da divisão de negócios internacionais da holding japonesa SBI, tem uma lembrança marcante de quando esteve no Brasil pela primeira vez, na década de 1980. “Os taxistas trocavam a tabela de tarifas a cada cinco ou seis horas, por causa da hiper-inflação”, recorda. Mais de 20 anos depois, a economia do País se distanciou totalmente daquela cena e conquistou a confiança do executivo. Em agosto, a SBI anunciou uma joint venture com a carioca Jardim Botânico Investimentos (JBI), do ex-presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) José Luiz Osorio, que vai gerir um fundo de private equity com tamanho inicial de US$ 100 milhões, dirigido a investidores institucionais estrangeiros. Em entrevista concedida à CAPITAL ABERTO por telefone, Yamauchi falou do que espera para o futuro próximo dos brasileiros.

CAPITAL ABERTO: Por que a SBI escolheu investir em private equity no Brasil?

SHINJI YAMAUCHI: Sempre tentamos descobrir, no mundo todo, onde estão os grandes momentos de crescimento econômico. Não são poucas as razões para termos começado a reparar no Brasil de forma muito mais séria desta vez. Um requisito é observar se o país é rico em recursos naturais. E, no caso de vocês, há muito petróleo e um ambiente propício para a agricultura. Outro fator importante é a demografia. Além de estar entre as nações mais populosas do mundo, o Brasil também tem uma população bastante jovem. Uma sociedade jovem e numerosa tem uma grande fonte de trabalhadores e consegue se apoiar no consumo interno. A Indonésia é um desses países, e, provavelmente, teve um dos menores impactos negativos da quebra do Lehman Brothers. Com 240 milhões de habitantes, a Indonésia é autossuficiente economicamente, rica em recursos naturais e apresenta um crescimento de PIB elevado. Essas são as características gerais. O Brasil, além de tudo isso, vai receber a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016. Esses dois eventos vão liderar uma onda de crescimento.

A Copa e os Jogos Olímpicos têm tanta importância assim para o sucesso dos investimentos?

Se você olhar para três lugares onde as Olimpíadas foram organizadas, incluindo Tóquio em 1964, Seul em 1988 e Pequim em 2008, vai encontrar estatísticas muito interessantes. Do dia em que a capital japonesa foi escolhida como a sede dos jogos até eles efetivamente começarem, o índice Nikkei, da Bolsa de Valores de Tóquio, mais que dobrou. No caso da China, o índice Xangai se valorizou 847%, desde o anúncio até o início da Olimpíada de Pequim. Em sete anos, o crescimento do PIB desses países foi expressivo, dirigido por investimentos em infraestrutura, para que os jogos fossem realizados com êxito.
A economia brasileira também vai se beneficiar disso, ainda mais com uma Copa do Mundo nesse meio- tempo. Queremos surfar nessa onda e garantir que as empresas nas quais investimos também se aproveitem dela.

“Para nós, o Brasil é obrigatório, não podemos perder. Dentre todos os países que citei, ele é, no momento, o mais importante”

O senhor quer dizer que vai buscar, principalmente, empresas do setor de insfraestrutura?

Sim. Seu presidente anunciou o projeto do trem-bala, que vai ligar São Paulo e Rio de Janeiro. Serão necessários investimentos não só em trilhos, mas também em grandes estações. Ao redor delas, haverá um desenvolvimento real, com shopping centers e toda uma estrutura de serviços.
Isso gera um impacto econômico significativo. Esse é apenas um caso. Lugares próximos a São Paulo e ao Rio de Janeiro vão sentir os efeitos da Copa e dos Jogos Olímpicos. A minha animação é endossada pelas experiências de Tóquio, Seul e Pequim. Veja o exemplo do New Horizon Fund I, um dos nossos fundos de private equity na China. De 2005 até hoje, ele quadruplicou o seu valor. E os nossos parceiros locais já levantaram outros fundos. Se você surfa na onda, na hora certa, não terá apenas um fundo bem-sucedido, mas poderá ter o segundo, o terceiro, numa escala magnífica. A Jardim Botânico e nós olhamos para oportunidades que permitam que o segundo e o terceiro fundos sejam o dobro e o triplo do primeiro.

O senhor vê a BM&FBovespa como um canal para o momento de saída das empresas?

Essa é uma terceira razão da nossa decisão de investir no Brasil: a Bolsa. Boa parte da sua capitalização está concentrada em grandes companhias de recursos naturais, mas há muito espaço para empresas menores abrirem o capital. Essa é a boa notícia para o Brasil. Às vezes, sair de uma companhia é mais difícil do que identificar um bom investimento. Alguns países como o Camboja não têm bolsas de valores, mas recebem aportes de private equity. Quando os investidores vão sair de lá, precisam vender suas participações para alguém ou levar a empresa para uma bolsa estrangeira. Não é o caso do Brasil, que já tem a sua. De bom tamanho, mas dominada por poucas companhias de grande capitalização. As small caps ainda não se beneficiaram disso. Mas toda a infraestrutura está pronta.

Quais são os outros países aos quais vocês estão expostos?

Na Ásia, temos fundos na China, na Índia, na Malásia e no Vietnã. Na Rússia, que é um pouco instável, temos um fundo com uma firma doméstica, de US$ 100 milhões. Felizmente, não começamos a investir com ele antes da quebra do Lehman e só vamos começar a fazer isso agora. Estamos expostos à Europa Oriental, por meio de uma parceria com um banco húngaro de desenvolvimento, que investe em países vizinhos. Também temos um fundo que cumpre o Shariah, código de ética da religião muçulmana, para cobrir o mundo islâmico, com o governo de Brunei. Ainda investimos nos Estados Unidos, com sócios locais. Atualmente, estamos em discussão com um fundo soberano dos Emirados Árabes Unidos para criar uma carteira que cobrirá países da região conhecida como Mena (sigla em inglês que agrupa o Oriente Médio e o norte da África), como Egito, Gana, Marrocos, Nigéria, Quênia e Tunísia. Também pretendemos fazer algo parecido na Indonésia. Para nós, o Brasil é obrigatório, não podemos perder. Dentre todos esses países que citei, ele é, no momento, o mais importante.

Mas por que o Brasil entrou na mira só agora?

Na verdade, visitei o País 25 anos atrás. Naquele tempo, os taxistas reescreviam a tabela de tarifas a cada cinco ou seis horas, por causa da hiper-inflação. Trago esse exemplo para mostrar que, hoje, o sentimento em relação à economia do Brasil é completamente outro. O fluxo de capital está mais internalizado. As pessoas com dinheiro preferem mantê-lo no País a mandá-lo para fora. Consigo ver mais confiança e orgulho nos brasileiros. Mais para frente, isso ainda será acentuado, quando a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos forem executados com sucesso. Não tenho dúvida. Para onde o próximo vento estará soprando no mundo? É importante sentir isso para saber o momento certo de agir.

Vocês procuraram outra gestora aqui, fora a Jardim Botânico?

É claro que procuramos. Ainda tenho muitas coisas para aprender sobre eles. Por isso vou viajar com um fundador e um sócio sênior nos próximos meses, para que nos conheçamos melhor, enquanto fazemos um esforço de marketing com potenciais investidores. Acredito que a Jardim Botânico seja bem administrada, tenha sólida experiência na comunidade financeira e conheça o lado do mercado de capitais da economia. Mesmo começando pequenos, queremos ter sucesso sólido no longo prazo. Durante a discussão, a Jardim Botânico também demonstrou que tem vontade de se associar a gente como nós, da Ásia, particularmente do Japão. Há uma justificativa para isso: querem ser grandes no futuro e se expor ao exterior. E, hoje, o fluxo internacional de capitais é mais voltado para o Oriente do que para os Estados Unidos ou o Reino Unido. Por isso, posso dizer que houve uma boa química entre nós.

“Em 2004, diziam que era muito arriscado investir em private equity na China. Pensamos: ‘OK, se vocês não fizerem, nós faremos’”

“Não queremos passar muito tempo nos envolvendo demais com os administradores. Um critério de
seleção é que o negócio já seja bem gerido”

Muitas pessoas dizem que a chegada intensa de capital estrangeiro está inflando os preços no Brasil. Como pretendem lidar com isso?

É por isso que estamos lidando com private equity, que não tem preço listado. Podemos pagar valores relativamente mais baixos que os de bolsa. Para isso, acreditamos na capacidade da Jardim Botânico. Se você observar os índices dos mercados acionários dos países que receberam os Jogos Olímpicos… Talvez venhamos a concluir que os preços estavam baratos. É o que espero. Em 2004, diziam que era muito arriscado investir em private equity na China. Os japoneses falavam das restrições a capital estrangeiro, que não havia saída, que os preços eram altos demais, etc. Pensamos: “OK, se vocês não fizerem, nós faremos.”

Qual é o tipo de participação acionária que pretendem priorizar: minoritária ou majoritária?

Esperamos estar bastante ocupados com muitas companhias excitantes. Então não queremos passar muito tempo em nenhuma empresa específica do portfólio, nos envolvendo demais com os administradores. Um critério de seleção é que o negócio já seja bem gerido. É claro que vamos dar algum suporte, mas não desejamos mudar completamente a gestão.

Há possibilidades de sinergias entre as empresas brasileiras e as outras do portfólio da SBI espalhadas pelo mundo?

Isso depende da quantidade de recursos que conseguiremos alocar, mas deverá haver um alto grau de sinergia. Por exemplo, no setor de alimentos, apesar de não sabermos o quanto estaremos expostos a agricultura. Com 1,3 bilhão de habitantes, a China terá falta de comida. A qualidade dos alimentos é uma preocupação. O Brasil pode ajudar não só nisso, como também no setor de energia. Vocês são conhecidos pelo etanol, e esse é um tema relevante para a China. O Japão é pobre em recursos naturais, mas oferece muita tecnologia. Somos bons em economizar. O Brasil é farto em recursos naturais e tem alguma tecnologia. A China é um grande mercado para ambos. Deverá haver muitas sinergias entre empresas desses três países. Através de nossos fundos, já investimos em mais de 600 companhias.

Até agora só falamos dos pontos positivos. O que pode ameaçar seus planos?

De fato, uma coisa ruim já aconteceu. Quando fui para São Paulo, em novembro do ano passado, visitar firmas como a Jardim Botânico, houve um blecaute (em 10 de novembro de 2009, curtos-circuitos em linhas de transmissão da usina de Itaipu interromperam o fornecimento de energia elétrica a 18 estados brasileiros durante a noite). Me lembro da cidade inteira no escuro. Isso não acontece em nenhuma metrópole importante do mundo, ainda mais naquelas que aspiram a receber a Copa ou a Olimpíada. Para mim, essa notícia foi ao mesmo tempo ruim e boa. Com esse episódio, acredito que o governo reconheceu que será preciso muito capital para melhorar a infraestrutura e começou a se preparar para os eventos esportivos. Os benefícios logo chegarão.


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