Na primavera do ano passado, estação em que a natureza sugere flores, a crise norte-americana do subprime distribuía espinhos pelo Brasil. Diante de um frondoso cardápio de temores — com escassez de crédito, queda nos preços de commodities e risco no mercado de derivativos — a ALL América Latina Logística se viu de mal com o mercado. As units da maior operadora logística de carga do País, dona de mais de mil locomotivas, 31 mil vagões e mil veículos rodoviários, despencaram mais de 30% de maio até novembro de 2008, quando a companhia aterrissou na banda vermelha de Lente de Aumento, sob o título “Fora dos trilhos”. Quase um ano depois, a ALL volta à seção, dessa vez, no lado azul. Desde a última análise que a coluna fez dos papéis da empresa, cotados a R$ 7,77, até o dia 27 de agosto, eles valorizaram 75,8%.
A companhia voltou aos holofotes dos analistas que, agora, indicam a compra dos seus papéis. O que aconteceu? O especialista do Santander, Caio Dias — que, nem mesmo durante a crise, sugeriu a venda das ações da ALL — acha que houve exagero por parte do mercado na época. “Existia um nervosismo no ar e ninguém queria correr riscos.” Naquele momento, os gestores da ALL foram pegos no contrapé do pesadelo dos derivativos que castigaram algumas empresas brasileiras, a exemplo de Sadia e Aracruz. A onda de boataria foi tanta que a companhia chegou a soltar, pela primeira vez, uma prévia dos resultados, para acalmar os ânimos do mercado. “Queriam saber se tínhamos exposição em derivativos, risco em moeda estrangeira e chegaram até falar que estávamos quebrados”, relatou, na ocasião, Rodrigo Campos, superintendente de Controladoria e Relações com Investidores (RI). Agora, mesmo com a casa em ordem e bem longe dos derivativos, a área de RI da ALL não pôde conceder entrevista, porque está em road show no exterior.
Apesar de apresentar queda nos lucros — culpa do recuo na movimentação de fertilizantes — o board da ALL brindou o resultado do segundo trimestre do ano. Ao divulgar os dados em conferência com analistas, o presidente da empresa, Bernardo Hees, enalteceu a capacidade da ALL de crescer mesmo em um cenário de recessão. A receita líquida avançou 6,5% no segundo trimestre do ano, em comparação com igual período do ano anterior, para R$ 750 milhões. O aumento foi motivado pela expansão do volume ferroviário, que passou de 9,1 para 9,7 bilhões de toneladas por quilômetro útil (TKU), impulsionado pelo crescimento de 10,1% no segmento de commodities agrícolas e de 6,4% no de produtos industriais. Com isso, no acumulado dos seis primeiros meses do ano, o Ebitda consolidado cresceu 4,2% para R$ 638, milhões, devido, principalmente, ao aumento de receita e ao volume ferroviário no Brasil.
A retração no lucro, segundo a empresa, se deu devido à redução na movimentação de fertilizantes, à quebra na safra argentina e ao aumento nas despesas financeiras. Por isso, o ganho somou R$ 60,1 milhões, com diminuição de 34%. A movimentação de fertilizantes, que costuma ser maior no segundo semestre, foi antecipada em 2008, criando distorção nos dados de comparação. Isso, porém, não foi motivo para rever o guidance para o ano. Confiante no segundo trimestre — o mais forte para a companhia, pois é quando se escoa a safra — a ALL manteve a previsão de crescer entre 10% e 12% no Brasil em 2009.
“Com o dólar apreciado em relação ao real, fica interessante para o País importar fertilizantes”, afirma Dias. No caso da ALL, observa o analista, a vantagem é que, por ser importado, o fertilizante torna-se uma “carga de retorno”, permitindo que os vagões dos trens da companhia que desembarcaram mercadorias no porto retornem à base com carga. “Não tem custo e, o melhor, gera receita.” Para o especialista, a empresa conseguirá cumprir o guidance este ano. Ele projeta que o papel alcance R$ 17,50 em 2010.
O cenário futuro da ALL se desenha atraente devido a empreendimentos em curso, já anunciados, mas que ainda não geram resultado no caixa da companhia. Um deles é a construção da extensão ferroviária de 260km até Rondonópolis, cujas obras já foram iniciadas e contam com financiamento do BNDES. Outro é um projeto com a sucroalcooleira Cosan, que deve injetar R$ 1,2 bilhão na companhia. Parte dos recursos será alocada na duplicação, ampliação e melhoria do importante corredor ferroviário da ALL que liga Bauru a Santos.
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