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De bem com o mercado
Bancos brasileiros enfrentam o aumento da inadimplência, a desaceleração do crédito e os juros menores. Mas não perdem o prestígio que conquistaram com investidores

, De bem com o mercado, Capital AbertoA combinação dos ingredientes “crise financeira” e “bancos” pode ser explosiva — que o digam as 37 instituições financeiras norte-americanas que quebraram na mais recente turbulência global. Ainda bem que, no Brasil, a pancada só conseguiu dar uma leve bambeada nas pernas. Segundo estudo da Economática, dentre os 21 bancos da América Latina e Estados Unidos com ativos superiores a US$ 100 bilhões, apenas sete apresentaram oscilação positiva em 2009, até o dia 29 de junho. Desses, quatro são brasileiros: Banco do Brasil (o campeão, com 82,3%), Bradesco (55,6%), Itaú Unibanco (47,1%) e Santander (19,9%). Eles fisgaram o quarto, o quinto e o sexto lugares, respectivamente, no ranking de desempenho das ações no período. As três primeiras posições ficaram com Morgan Stanley (68,99%), Goldman Sachs (59,84%) e American Express (50,31%).

Para orgulho nacional, esse quadro apareceu estampado na edição de março da The Economist. Segundo a revista britânica, os bancos brasileiros tornaram-se uma exceção no setor em meio à turbulência financeira. A ausência de papéis subprime, como aqueles que encantaram os bancos norte-americanos, nas carteiras de crédito das instituições locais contribuiu decisivamente para esse feito. “Seus ganhos com as operações diárias são tão altos que eles não precisaram assumir riscos tolos”, diz a matéria, referindo-se aos altos spreads praticados no Brasil.

A boa saúde dos bancos brasileiros foi confirmada por peritos. O Relatório de Estabilidade Financeira (REF), divulgado em 12 de junho pelo Banco Central, aprovou o desempenho das instituições brasileiras em testes de estresse. O exercício avaliou a capacidade de enfrentar grandes oscilações no risco de crédito e nas taxas de juros e câmbio durante a crise. No segundo semestre de 2008, o Índice de Basileia (IB) — medidor de quanto de capital próprio a instituição financeira precisa ter para carregar o risco de suas operações de crédito — subiu de 15,5% para 17,5%, bem acima do patamar mínimo exigido no País (11%) e lá fora (8%).

LUCROS MENORES, MAS LUCROS — O que mais surpreende nos bancos brasileiros é que, mesmo sem grandes exposições a risco, eles apresentam bons resultados. E conseguem manter-se no azul até nos piores momentos. Veja-se o primeiro trimestre do ano. Os números da última linha não foram melhores que os de igual período do ano passado, mas nenhum dos três maiores bancos brasileiros apresentou prejuízo. “É louvável, principalmente se pensarmos o quanto o setor sofreu em todo o mundo”, opina Aloísio Lemos, analista da corretora Ágora.

“Bancos brasileiros ganham muito com o spread e não precisam assumir riscos tolos”, diz The Economist

O Bradesco registrou lucro líquido de R$ 1,7 bilhão, 9,6% menor que o do mesmo trimestre de 2008. Os ganhos do Itaú Unibanco foram de R$ 2,01 bilhões, uma queda de 27,6%. No Banco do Brasil, o lucro líquido totalizou R$ 1,6 bilhão, contra R$ 2,3 bilhões no primeiro trimestre do ano passado. A precaução contra calotes no crédito foi um dos motivos para os ganhos mais enxutos. “Como a crise afetou a capacidade de empresas e pessoas de cumprirem seus compromissos financeiros, tivemos de elevar nossa provisão para créditos duvidosos (PDD) em mais de R$ 1 bilhão”, diz o vice-presidente e diretor de RI do Bradesco, Domingos de Abreu. Nos três primeiros meses de 2009, o PDD do Bradesco foi de R$ 11,4 bilhões, ante R$ 10,2 bilhões no quarto trimestre do ano passado.

As provisões são um reflexo dos fatos. No Bradesco, a inadimplência com vencimento superior a 90 dias subiu de 3,6% no último trimestre de 2008 para 4,3% no primeiro trimestre. O aumento dos calotes foi mais agudo entre as empresas grandes: saltou de 0,3% para 0,8%. Nas médias e pequenas, cresceu de 2,5% para 3,6%. No mesmo período, a taxa de inadimplência do Itaú Unibanco passou de 4,8% para 5,6%. No Banco do Brasil, de 2,4% para 2,7%. A tendência é que as precauções contra calotes, em especial os esperados das empresas, continuem em patamares similares ao longo do ano. “Os empreendedores sofrem mais com os efeitos da desaceleração econômica”, acredita Jayme Alves, da Spinelli.

Esse cenário fez com que a grande vocação dos bancos comerciais, o crédito, tivesse um papel reduzido em seus lucros do primeiro trimestre. No Bradesco, representou 15%, ante 25% na comparação com o mesmo período do ano anterior. A mudança nos percentuais de evolução do crédito também é significativa. Depois de dois anos galopando a taxas de ao menos dois dígitos, os empréstimos desaceleraram. No Itaú Unibanco, atingiram R$ 272,7 bilhões, um incremento de apenas 0,3%. Os números agregados confirmam esse movimento. Segundo o Banco Central, o crédito cresceu 30% em 2008. Em maio deste ano, em relação ao mesmo mês do ano passado, a evolução foi mais modesta: 20,5%.

Se o crédito perdeu espaço nos ganhos das instituições em 2009, as operações de tesouraria seguiram no sentido oposto. No Bradesco, esse tipo de operação foi responsável por 17% do lucro líquido do primeiro trimestre de 2009, contra 6% no mesmo período do ano anterior. “Isso se deveu, principalmente, à valorização dos títulos públicos detidos pelo banco e à nossa posição nos credit default swaps (CDS)”, diz Abreu.

AJUDA DE BRASÍLIA — A despeito da perda de força do crédito, as expectativas são positivas. Boa parte desse otimismo deve-se a uma mãozinha do governo federal, que, com o desejo de manter o consumo interno aquecido, aprovou redução na cobrança do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre vendas de veículos e itens da linha branca (geladeiras, freezers, fogões, máquinas de lavar e secadoras). A medida de Brasília deu resultado e turbinou as vendas desses produtos.

Outro motivo é o potencial de crescimento do crédito imobiliário, que hoje corresponde a 5% do volume total de operações de crédito no País. A demanda reprimida é enorme. “A reativação da atividade econômica, com o custo de dinheiro mais baixo e prazos mais longos, fará o crédito imobiliário explodir nos próximos anos, assumindo o papel que dele se espera”, acredita Aloísio Lemos, da Ágora.

Outro sinal favorável ao fortalecimento do crédito é a diminuição do spread bancário, uma consequência da queda da taxa básica de juros. De acordo com o Banco Central, essa taxa foi de 28,1%, em maio, 0,1% menor em relação ao mês anterior. “O spread disparou no segundo semestre de 2008, devido ao aumento da percepção de risco, mas agora parece seguir uma tendência de retração”, diz Lemos. O Banco do Brasil anunciou, em 15 de junho, redução média de 0,15% ao mês em algumas taxas de juros. A iniciativa teve impacto sobre os níveis de crédito. O banco ampliou em R$ 11,6 bilhões as linhas para pequenas e médias empresas, em junho. No mês anterior, o limite para pessoas físicas já havia sido estendido para R$ 13 bilhões.

A redução na taxa Selic para 9,25% ao ano também foi bem vista por especialistas. Apesar de as taxas altíssimas sugerirem uma vida fácil para os bancos, entende-se que um ambiente com juros mais “civilizados” será salutar a todo o ambiente econômico. “Juros baixos são sempre bons para os bancos, pois estimulam a economia e aumentam a demanda por crédito”, opina Abreu. Taxas menores significam também risco reduzido de inadimplência e mais sustentabilidade para as instituições financeiras. Sim, é isso mesmo: não há tempo ruim para os grandes bancos brasileiros.


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