De bem com a crise
Metal Leve se beneficia de incentivos ao setor automobilístico e é destaque em dividendos

O mercado financeiro encontrou, há muito tempo, um tratamento de combate às rugas de gestores mareados pelas turbulências: o pagamento de dividendos. Instituições financeiras e concessionárias de serviços públicos são exemplos de fornecedoras tradicionais desse bálsamo — previsivelmente, os dois setores dominam a lista divulgada pela S&P Capital IQ, provedora de análise e informações financeiras, com as 20 companhias brasileiras cotadas a oferecer os maiores retornos na forma de dividendos (dividend yield) em 2012. Há apenas duas empresas menos óbvias nessa relação, e uma delas é a Mahle Metal Leve, fabricante de componentes de motores a combustão interna e filtros automotivos. Coincidentemente ou não, ela foi uma das companhias que mais se valorizaram na bolsa brasileira nos últimos seis meses terminados em 20 de junho, com alta de 45,5%.

A S&P Capital IQ calcula que a Mahle Metal Leve distribuirá 9,3% do valor da ação em dividendos durante o ano, o que lhe garante o quarto lugar na seleção (atrás de Transmissão Paulista, Equatorial Energia e AES Tietê). A gestora Humaitá Investimentos, que entre novembro de 2011 e fevereiro deste ano aumentou em 30% a participação no capital da companhia, projeta o mesmo percentual de dividendos para 2013 e chega a um dividend yield de 11% em 2014. “Houve um salto no pagamento de dividendos da Metal Leve a partir de 2011”, observa Piter Meyer, analista da gestora.

Em 2010, a companhia passou por uma reestruturação societária patrocinada por sua controladora, a alemã Mahle. A unidade de anéis de pistão do grupo foi integrada à Mahle Metal Leve e fez o lucro da companhia disparar. Essa linha do balanço, ao fim de 2011, registrou R$ 189,3 milhões, resultado 126,2% superior ao de 2010. Com a incorporação, em novembro de 2010, o capital social pulou de R$ 352 milhões para R$ 966 milhões.

Fabricante de autopeças, a empresa faz parte da cadeia produtiva de veículos leves, ônibus e caminhões. Em 2011, o País alcançou o posto de quarto maior mercado de automóveis do mundo. De acordo com dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos (Anfavea), as vendas no mercado interno cresceram 3,4% em relação ao ano anterior, chegando a 3,6 milhões de unidades. As exportações subiram mais. Somados os três grupos, foram vendidos ao exterior 541 mil veículos, um aumento de 7,7%. Foi um ano histórico para o setor.

No primeiro trimestre de 2012, entretanto, as vendas no mercado interno recuaram 10%. Ainda assim, tanto a Mahle Metal Leve como seus investidores parecem ter digerido bem o resultado. Na demonstração financeira do período, a companhia aponta a incidência de fatores não recorrentes como a queda da demanda por veículos médios e pesados fruto da entrada em vigor da regra Proconve 7, que obriga a fabricação de motores a diesel menos poluentes — e mais caros — desde o início do ano. A produção dessa categoria de automóveis caiu 33,5% no primeiro trimestre. “Os caminhões ficaram, em média, 15% mais caros. Sabendo disso, donos de frotas fizeram encomendas no último trimestre de 2011, o que desregulou o resultado”, esclarece Rafael Barros, gestor da Humaitá. Ele acredita, todavia, que as vendas de veículos com esse perfil devem se recuperar no decorrer do ano.

“Escolhemos investir na Metal Leve não só pela participação no mercado de automóveis novos, mas também pela reposição de peças”, explica Barros. De acordo com o resultado do primeiro trimestre, a composição do faturamento da companhia é bastante equilibrada. Cerca de 35% das vendas foram feitas para equipamentos de veículos novos no mercado brasileiro, atingindo R$ 199 milhões. Outros 25% vieram da reposição de peças, conhecida no jargão da indústria como aftermarket, que teve aumento de 1% em relação ao mesmo período de 2011. “A proporção do aftermarket no faturamento da Metal Leve cresce junto com o aumento da frota, o que a deixa menos dependente do desempenho das montadoras”, ressalta Meyer.

Os 40% restantes do faturamento vêm do mercado externo, basicamente decorrentes da demanda de carros novos. O aftermarket além das fronteiras representou apenas 4% das vendas no primeiro trimestre, que foram afetadas positivamente pela recuperação gradativa do mercado norte–americano, o mais importante segmento automotivo do mundo. Dos R$ 216 milhões faturados no exterior, cerca de 45% vieram das Américas do Norte e Central. A valorização do dólar jogou a favor, “aumentando a rentabilidade da operação”, informou a companhia na divulgação dos resultados.

Um relatório do Itaú BBA de 21 de maio destacou os benefícios da política fiscal do governo para as companhias do setor. A estratégia de Brasília é incentivar a indústria com cortes no Imposto de Produtos Industrializados (IPI) e redução de tributos nas operações de crédito ao comprador de veículos. Visto que o apetite do brasileiro por crédito aponta fadiga, a medida não empolgou tanto quanto o anúncio do benefício para as montadoras que usarem 55% de conteúdo regional nos seus carros. A partir de 2013, ganhará desconto de 30% no IPI a montadora que alocar 55% do custo com peças na região do Mercosul. “Esse incentivo é bom para as montadoras. Mas é melhor ainda para as fornecedoras, como a Metal Leve”, anima–se Meyer.

Nessa gincana fiscal, ganharão outros dois pontos percentuais de desconto no IPI as montadoras que investirem em pesquisa e desenvolvimento. É mais uma vantagem estratégica para a Metal Leve, reconhecida entre as empresas de autopeças pela alta tecnologia de seus produtos.

, De bem com a crise, Capital Aberto


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