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Copia e cola
Dizem que é por pressa, insegurança ou até receio de inovar. Mas o fato é que as novatas resolveram padronizar a comunicação das suas áreas de RI

, Copia e cola, Capital Aberto

 

Experimente navegar aleatoriamente por alguns sites de Relações com Investidores (RI) de empresas que ingressaram em bolsa nos últimos anos. Não será difícil perceber a incrível semelhança entre eles, seja na forma quanto no conteúdo. Boa parte, como os de Datasul, ALL, Santos Brasil e Tecnisa, possui uma estrutura de navegação baseada em uma barra de opções na lateral esquerda da tela, com detalhes a respeito da companhia, governança corporativa e informações financeiras. O restante do site fica destinado a notícias, cotações e documentos para download, como balanços, atas de assembléia e prospectos. Sim, é isso mesmo. Ferramentas de comunicação como os endereços eletrônicos de RI, que até bem pouco tempo atrás acirravam disputas entre as companhias para mostrar quem é mais criativo, estão muito parecidas. Não fossem as cores que identificam a linguagem visual de cada empresa, passariam, praticamente, por iguais.

Uma razão para tanta semelhança é de ordem comercial. Uma mesma consultoria de Relações com Investidores, a MZ Consult, hoje líder do mercado, foi contratada por grande parte das empresas que se lançaram em bolsa nos últimos anos. Rodolfo Zabisky, fundador e CEO da consultoria, afirma que a padronização dos sites de RI é resultado do alinhamento das companhias às melhores práticas internacionais. “Estamos em contato direto com o que há de melhor no segmento em todo o mundo. Tão logo entregamos um produto para determinado cliente, outro percebe e passa a querer também”, afirma Zabisky, que conta com 256 clientes no Brasil e no exterior. Segundo o executivo, a opção de seus clientes por recursos tecnologicamente avançados, como navegação em um só clique e segmentação de informações de acordo com o público investidor (veja quadro na página 42), mostra que o mercado brasileiro está antenado com a simplificação da oferta de informações de investimento pela internet.

Diego Barreto, coordenador de RI da imobiliária Lopes, observa que essa simplificação tem dois lados. É interessante à medida que ajuda o internauta a identificar logo de cara a informação que deseja. Mas peca quando a mesmice atinge também o conteúdo. “A padronização da informação é o que não pode ocorrer. O site da CVM tem o propósito de dar transparência ao investidor, mas o do RI tem o papel de servir de suporte à decisão de investimento”, opina.

Preocupação ainda maior é demonstrada quando o fenômeno do “copy and paste” chega a documentos que refletem valores e prática de governança, como as políticas de divulgação exigidas pela Instrução 358 da CVM. Vários casos ilustram a falta de criatividade desses conteúdos. Na seção “Período de Silêncio” das políticas de divulgação da MDias Branco e da Usina São Martinho — supostamente, um assunto que mereceria um tratamento particular de cada empresa —, os textos são idênticos, até mesmo nos deslizes da língua portuguesa: “A companhia observará o período de silêncio que será de duas semanas antes da data prevista da divulgação de seus resultados trimestrais ou anuais e se estende até a data das suas teleconferências para discussão pública dos mesmos (sic)”.

“A regra da CVM estabelece as informações mínimas que a política de divulgação deve conter. O problema é que a maioria das companhias está se preocupando em dar apenas o mínimo”, afirma Geraldo Soares, diretor executivo do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (Ibri). Rodolfo Zabisky, da MZ Consult, concorda: “Boa parte das empresas segue a linha de fazer exatamente o que manda a lei”. O diretor de RI da Lopes acredita que há uma razão mais prática e menos comportamental para o “copy and paste”. “A dinâmica que um processo de IPO envolve, combinada com o curto tempo de realização, acaba levando a essa padronização”, diz. Nessas horas, por insegurança ou inexperiência, a preferência é por seguir o modelo que está dando certo. “Existe um senso comum do que é bom e as empresas vão nessa tendência — o que já é uma boa notícia, diga-se de passagem. Mas poucas ousam ir além disso”, afirma Barreto.

Para Geraldo Soares tal explicação não se justifica. Ao contrário, ele julga que, justamente por serem novas, as empresas deveriam mostrar a preocupação de trazer algo diferente. “Informação não é commodity. Se a companhia quiser que o investidor leia o que ela tem a dizer, precisa fazer algo diferente das demais.” E se a correria do IPO tiver sido a razão para não inovar, nada impede que elas procurem ousar depois de passada a abertura de capital. “A criatividade, o empenho e a qualidade das áreas de RI definirão quem realmente está focado no relacionamento”, opina Geraldo Soares, do Ibri. “A padronização é um desserviço à comunicação como um todo, pois faz com que os novos acionistas pensem que o mercado é isso que estamos vendo.”

DESCUIDO DE UNS, SORTE DE OUTROS — Para as equipes de RI que sempre buscaram fazer algo diferente, a padronização de comunicação a que as novatas se submeteram representa uma oportunidade de se diferenciar ainda mais. Em sua política de divulgação, a Net trata com profundidade temas como ato ou fato relevante, deveres e metodologia de divulgação, conta João Elek, diretor financeiro e de RI da companhia. Ela segue o modelo denominado Divulgação Exemplar, uma certificação conferida pelo escritório de advocacia Linklaters, pela auditoria KPMG e pela MZ Consult baseada nas melhores práticas internacionais. Enquanto na política básica todas as formas de divulgação — jornais, website, reuniões — são abordadas em um mesmo item, na política de divulgação exemplar cada meio de comunicação ganha um item exclusivo, com descrições muito mais pormenorizadas, por exemplo.

A Gol pertence à turma que mostra um esforço de fazer algo a mais. O site da companhia aérea destina um espaço exclusivo para informações a investidores de renda fixa, com ratings de crédito, descrição dos títulos de dívida em circulação e dados sobre composição e custo do endividamento da empresa. O esforço tem dado resultado: nos últimos dois anos, a Gol recebeu cinco prêmios do IR Global Rankings, nas categorias website de RI e práticas de divulgação de informações financeiras. “Percebemos uma redução significativa no número de consultas telefônicas e por e-mail ao departamento de RI, já que o site deu conta de resolver diretamente essa demanda por informações”, informou a empresa por meio de sua assessoria de imprensa. Os benefícios da diferenciação, como se vê, podem ir longe.

Comunicação empacotada invade sites de RI

O novo hit entre os sites de RI é a segmentação do conteúdo de acordo com o perfil do internauta. Das 93 companhias listadas no Novo Mercado da Bovespa, 33 perguntam aos usuários que visitam seus sites de Relações com Investidores (RI) se eles querem acessar as informações disponíveis para analistas, investidores pessoas físicas ou investidores institucionais. Destas, 27 usam os serviços da MZ Consult. O padrão das páginas é tão evidente que até mesmo os ícones da tela que representam cada perfil de investidor são idênticos.

A idéia é facilitar a vida do usuário. Mas basta fazer a experiência de navegar nesses sites para perceber que, em vez de reelaborar o conteúdo de acordo com os interesses e o repertório de quem está lendo, as companhias estão apenas redistribuindo a informação. Nada disso configura uma forma de informação seletiva, visto que há sempre um ícone “homepage” nos sites de RI onde todo o conteúdo está presente. O problema está na navegação. Não é difícil imaginar um usuário apressado à procura de uma informação no site e aborrecido por não ter a menor idéia de em qual divisão irá encontrá-la.

Guilherme Vilazante, da corretora do banco UBS, não utiliza a ferramenta no dia-a-dia. Ele conta que já empacou diante dos pequenos ícones de perfis: “Dá a impressão de o site estar parado. Até eu passar o mouse e conseguir perceber que há uma segmentação, demora muito. Não uso”. Um analista da Planner Corretora, que preferiu não se identificar, não vê muita diferença entre as páginas segmentadas. As informações que ele geralmente busca não estão no ícone dedicado aos analistas, e sim na homepage.

Isso não quer dizer que a segmentação, em si, seja ruim. Se bem utilizada, com conteúdos específicos, ela pode contribuir de forma efetiva para melhorar a comunicação com o investidor e diferenciar a companhia. O professor de lingüística da Fundação Getulio Vargas Izidoro Blikstein afirma que é impossível manter mensagens universais quando existem diversos públicos-alvo. Para ele, é necessário traduzir o conteúdo, e não apenas para os acionistas individuais, mas também para os investidores institucionais. “O especialista não quer uma linguagem simples. Ele aferra-se ao seu jargão profissional como sinal de competência”, afirma Blikstein.

O site da Lopes traz um pouco dessa idéia. Na área dedicada às pessoas físicas, os resultados trimestrais são apresentados em uma planilha compacta, de leitura mais fácil, apenas com os destaques. Ainda assim, é difícil precisar exatamente o grau de informação que o investidor pessoa física deseja e até que ponto vai a sua inexperiência.

Por isso, a melhor maneira de aperfeiçoar a comunicação é apurando os resultados do modelo adotado. Barreto, da Lopes, fez isso e teve um retorno positivo. Segundo ele, a segmentação do conteúdo gerou um crescimento de 23% no número de acessos e de cliques e de 72% nos arquivos baixados.
(V. M)


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