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Convicções abaladas

Se tem uma coisa boa nas crises é o seu impacto sobre convicções aparentemente inabaláveis. É comum nesses momentos algumas verdades bem disfarçadas pelo tempo e pelos fatos virem à tona.

Um exemplo é a pretensão de que o mercado de capitais brasileiro estava bem resolvido no quesito transparência. Depois da criação dos níveis especiais de listagem pela Bovespa e as adesões ao seu patamar máximo de excelência, o Novo Mercado, parecia que a obscuridade nas informações devidas aos acionistas era coisa do passado. Em duas avalanches, uma seguida da outra, o mercado brasileiro percebeu que as coisas ainda não eram bem assim.

Primeiro veio a crise da Agrenco, com suspeita de fraudes contábeis, que levantou dúvidas sobre as práticas corporativas das novatas listadas em bolsa nos anos recentes. Ficou nítido ali que algumas empresas correram para aproveitar a janela do IPO e aderiram à cartilha do Novo Mercado sem uma assimilação verdadeira dos valores da boa governança. Agora, no pior momento da crise do subprime, companhias tradicionais como Aracruz e Sadia deixaram escapar que não dão tanto valor para a transparência como parecia. Contratos de derivativos milionários as expunham a riscos cambiais estratosféricos e não eram informados ao investidor.

Pior do que transparência, talvez, seja a falta de controles internos — outra questão que parecia mais bem resolvida nas empresas brasileiras, principalmente depois que várias delas aderiram, por tabela, à lei norte-americana Sarbanes-Oxley. Faz sentido pensar que, se essas companhias não tinham exata noção do risco que estavam correndo, também não iriam reportar essa informação aos seus acionistas. Mas, em tempos de modelos sofisticadíssimos de mensuração e gestão de riscos, ainda existe espaço para esse tipo de descontrole?

Nem a contabilidade escapou do desmanche de convicções. Quando todos já estavam certos de que o registro dos ativos por seu valor justo — capaz de aproximar os balanços da vida real — era a oitava maravilha do mundo contábil, defensores desse modelo vieram a público pedir uma pausa para reflexão. Disseram que, quando uma crise arrasa com o preço dos ativos, o conceito do valor justo pode ser cruel demais e, inclusive, irreal, uma vez que ninguém vai se desfazer desses bens na bacia das almas. Como assim? Quer dizer então que essa crise não é realidade? É claro que é. Mas talvez a contabilidade não tenha mesmo de ser tão “real” assim, sob o risco de ser também “injusta”.

Interessante que o Brasil está justamente no momento de adaptar a sua contabilidade ao padrão internacional e adotar o valor justo. Isso é bom, porque assim “compramos” o conceito conhecendo suas virtudes e fraquezas. Da mesma forma, a crise foi um teste para as práticas de transparência e governança das companhias brasileiras. Investidores e reguladores têm agora a oportunidade de também reavaliar virtudes e fraquezas.


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