Quando estrearam na Bolsa, em dezembro de 2006, as ações ordinárias da Brasil Ecodiesel valiam cerca de R$ 12,00. Em 30 de setembro passado, a cotação dos papéis fechou bem longe do preço inicial, a R$ 0,97. Analistas consideram pequenas as possibilidades de as ações retomarem o patamar de estreia, até mesmo no médio prazo. Não só porque à época da oferta pública inicial (IPO) o mercado vivia momentos de euforia, mas também porque a companhia passou por uma série de problemas operacionais e administrativos que ainda busca equacionar.
Sem muitas explicações ao mercado, no início do mês passado, o conselho de administração da Brasil Ecodiesel demitiu seu então diretor-presidente Mauro Antonio Cerchiari, que estava no cargo de principal executivo da companhia havia um ano, e seu diretor de relações com investidores, Charles Mann de Toledo. O presidente interino da empresa, Eduardo de Come, se limitou a dizer que a mudança não implica uma alteração no planejamento estratégico, que inclui a busca por maior integração com a cadeia produtiva, por mais eficiência e a “desimobilização”, com a venda de fazendas desativadas.
A reestruturação da companhia, concluída em agosto de 2009, estava dando bons resultados. Envolveu a conversão de dívida em ações, uma capitalização de aproximadamente R$ 180 milhões e a redução da dívida líquida, que era de R$ 290 milhões e passou para um caixa líquido de R$ 37,3 milhões no fim do ano. Operacionalmente, a companhia também deu uma virada: produziu 152 mil m³ de biodisel, dos quais 75% foram obtidos no segundo semestre. Foi um feito e tanto, se considerarmos que a produção chegou ao patamar mais baixo em abril, de 2.580 m³, e se chegou a especular sobre a a continuidade das operações.
O processo também envolveu a desativação de duas plantas que produziam biodiesel a partir da mamona e se tornaram economicamente inviáveis. Nessa reestruturação, ela passou a ser uma companhia de capital pulverizado. Seus papéis entraram na carteira do Índice Bovespa (Ibovespa) e do IbrX-50 em maio deste ano.
Tudo parecia estar se acertando, até que, em março, uma notícia abalou as suas perspectivas de curto prazo — e, por tabela, suas ações. Ela perdeu o Selo Combustível Social em quatro de suas seis usinas, por conta de pendências relativas ao ano de 2007. O selo é dado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) a empresas que se comprometem a estimular a inclusão social por meio da compra de matéria-prima oriunda da agricultura familiar. Ele dá direito a participar de modo mais vantajoso dos leilões de venda de biodiesel da Agência Nacional do Petróleo (ANP) que ocorrem trimestralmente, em dois lotes: um destinado a participantes com o selo, e outro a companhias sem o distintivo.
A participação no primeiro lote, que concentra 80% do volume total do leilão, é de extrema importância, pois é nele que a Petrobras faz as suas compras. Além disso, os preços máximos fixados para a compra são os mesmos nos dois lotes, só que, no segundo, os descontos que as companhias concedem ao comprador são mais agressivos. Apesar de a Brasil Ecodiesel ter perdido o selo em quatro usinas, duas já estavam desativadas, e, portanto, o impacto ocorreu somente na outra metade, a de Iraquara (BA) e a de Itaqui (MA). A companhia, que vinha comercializando volumes crescentes nos leilões, viu as vendas despencarem após a perda do selo social. No primeiro trimestre do ano, a empresa vendeu 69 mil m³ de combustível. No segundo, foram 34 mil m³. O faturamento caiu de R$ 164 milhões para R$ 121 milhões.
“A empresa teve um baque nas receitas, mas disse que tentaria compensar com o aumento das vendas no leilão sem selo. Mas vimos que isso não foi possível”, afirma o analista Erik Scott, da corretora SLW. No leilão do primeiro trimestre de 2011, De Come espera que as duas usinas tenham recuperado o selo.
A expectativa do analista Victor de Figueiredo, da Planner Corretora, é que a Brasil Ecodiesel termine 2010 sem prejuízo, já que os impactos da perda do selo foram localizadas no segundo semestre. “Como 90% dos seus custos são variáveis, a companhia deve terminar o ano com pequeno lucro”, projeta.
Apesar de todos esses reveses, no fim de setembro, os papéis tiveram uma retomada, reduzindo a queda no ano, que chegou a ser de 20% em agosto, a 11%. A recuperação foi atribuída a rumores de que Brasília aumentará o percentual de mistura do biodiesel no diesel mineral, que hoje é de 5%. O governo deseja incentivar o uso de combustíveis renováveis e diversificar a matriz energética e vem paulatinamente elevando o percentual.
Mas De Come não espera isso já para 2011, pois, ao mesmo tempo que o governo considera o mercado maduro para aumentar a proporção de biodiesel para 7%, também sinaliza que gostaria de elevar a produção a partir de outras matérias-primas. Hoje, a principal fonte utilizada é a soja.
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