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Sites de RI atraem investimentos das companhias, ampliam as informações disponíveis para o investidor e conquistam o aval das autoridades como veículo oficial de divulgação

ed06_p038-044_pag_3_img_001Se as boas práticas de relações com investidores viraram um elemento essencial na avaliação das companhias abertas e de sua política de governança corporativa, então a regra do jogo é caprichar em cada detalhe. Afinal, pode estar aí a chance de investidores enxergarem bons motivos para pagar o apregoado prêmio por governança que as pesquisas já demonstraram existir e que algumas companhias decidiram fazer por merecer. Nesse contexto, os sites de relações com investidores, ferramenta essencial na comunicação com o mercado, já viraram até motivo de disputa. E de muito trabalho para aparecer bem na fita (ou melhor, na tela) exposta diariamente aos usuários dessa tecnologia.

Disposta a aguçar a ambição das companhias que querem fazer do seu o melhor site, a MZ Consult, empresa especializada em consultoria na área de relações com investidores, realizou em janeiro a sexta edição do IR MZ Awards. Um total de 262 companhias de 33 países participaram do evento inscrevendo suas páginas de RI na internet. Foram três prêmios, dois deles voltados aos melhores sites e um para relatórios anuais online, a versão digital dos tradicionais cadernos impressos publicados pelas companhias para divulgar as atividades do ano (mais informações à pág. 43). A MZ e uma comissão de jurados elegeram os melhores sites do mundo e os mais avançados por região e por indústria.

Na lista dos cinco mais (chamada de TOP 5), dois sites de RI de empresas brasileiras marcaram presença: Petrobras (3º lugar na pontuação) e Unibanco (4º lugar). Em primeiro ficou o site da Bayer e, em segundo, o da Reuters. Em quinto, o site da SCA Svenska Cellulosa, produtora sueca de papel e celulose. A Petrobras também ficou com o primeiro lugar da América Latina e venceu o prêmio setorial entre as companhias de óleo, gás e petroquímica. Outras duas brasileiras foram eleitas na premiação por segmento: Unibanco, na área de bancos e serviços financeiros, e Ambev, na indústria de bebidas e alimentos (ver os resultados na tabela à página 42). “O Brasil ced06_p038-044_pag_4_img_001onta com uma elite de sites criados por empresas que gastaram tempo e dinheiro com essa tecnologia nos últimos anos”, afirma Márcio Veríssimo, consultor da MZ e um dos avaliadores dos sites.

De fato, não é desprezível o gasto para manter um site de primeira linha. Alexandre Germani, sócio- diretor da Media Group, consultoria especializada na produção de sites para as áreas de RI, conta que a despesa de implantação, apenas com serviços de terceiros, varia de R$ 30 mil a R$ 80 mil. Outros R$ 2 mil a R$ 4 mil mensais são necessários para manter a base tecnológica em perfeito estado. Se quiser algo diferente, do tipo uma transmissão ao vivo pela internet de determinado evento – a chamada webcast –, lá se vai mais R$ 1,5 mil.

Mas ao mesmo tempo em que implicam custos novos, os sites de RI permitem ganhos de eficiência significativos para o trabalho dessas áreas. Telefonemas para obter dados quantitativos são substituídos por ligações ou reuniões dedicadas a decidir questões mais estratégicas e relevantes para a definição de tendências. Assim, as companhias economizam gastos com equipes para atendimento às demandas de informações dos investidores e, ao mesmo tempo, dão chance a esses últimos de utilizar o tempo que possuem com os executivos das companhias para fazer perguntas mais importantes e aperfeiçoar o seu trabalho. Em última instância, pode-se considerar que a evolução dos sites permite ampliar a eficiência das análises e, portanto, do mercado.

Os sites também permitiram às áreas de RI se adaptar ao volume de informações obrigatórias nos novos tempos. Listagens de ações em bolsas estrangeiras exigem a tradução das informações financeiras para o inglês e ainda a divulgação dos balanços pelas normas norte-americanas ou internacionais. “Seria impossível transmitir todo o conteúdo exigido atualmente sem a ajuda de um site”, analisa Geraldo Travaglia, diretor-executivo e corporativo do Unibanco.ed06_p038-044_pag_5_img_001

Primeiro colocado no segmento de bancos e instituições financeiras e segundo na classificação para América Latina, o Unibanco trabalhou duro para chegar até esse ponto. Em 1999, quando lançada a primeira versão do prêmio MZ Consult, havia obtido a 35ª colocação. No ano seguinte, depois de empreender uma série de esforços para melhorar o site, chegou à 6a posição.Hoje o site de RI é um dos mais fortes veículos do Unibanco para comunicação com o mercado. Segundo Travaglia, 5.500 nomes estão cadastrados no site para receber notícias da companhia, entre analistas, administradores de recursos, intermediadores e jornalistas. Mais de 100 e-mails são recebidos por dia e, das oito pessoas que compõem a equipe de RI, três cuidam de tarefas relacionadas ao site em tempo integral. “Precisamos de contato constante com a clientela”, afirma.

Relacionamento também é a palavra-chave para a Petrobras. E não apenas com investidores. Carlos Henrique Dumortout Castro, gerente de divulgação a mercado da companhia, conta que a área de RI é a mais visitada do site e que recebe interessados de todos os tipos. Dezenas de consultas cheespecial gam diariamente e são repassadas às respectivas áreas conforme o caso.

A empresa tem hoje 19,6 mil pessoas cadastradas no site de RI para receber informações. Os gastos com manutenção estão estimados entre R$ 3,5 mil e R$ 4 mil mensais e os serviços tomam parte do tempo de dois funcionários da área de RI e de outras duas pessoas de informática. Grande parte do trabalho corresponde à busca diária de informações para atualização do site nas mais diversas áreas da companhia. “Esse é o mais difícil”, comenta Castro.

O Bradesco, quarto colocado entre os melhores da América Latina, também vem despendendo esforços para cuidar do site de RI. No final do ano passado, com um investimento de R$ 50 mil, o endereço na internet foi totalmente reformulado para incorporar novidades como o áudio de reuniões realizadas com analistas, bancos de dados e ferramentas para análise do comportamento das ações. De 26 páginas de conteúdo, pulou para 75 e o banco já tem uma média de 41 mil visitas por mês, boa parte delas aos relatórios e planilhas. Segundo o vice-presidente e diretor de relações com investidores do banco, José Luiz Acar Pedro, as mudanças foram bem recebidas e, numa pesquisa com quase 500 internautas, mais de 60% aprovaram a navegação no site.SITES BRASILEIROS TÊM FALHAS A SUPERAR – A MZ parte de seis premissas para avaliar os melhores sites de RI: conteúdo (que tem o maior peso na pontuação geral), tecnologia, interatividade, design, adequação ao tempo real e flexibilidade de linguagem e moeda (ver ilustração). Cada uma delas tem um subgrupo de outras premissas que, no total, atingem 100 itens.

Ao avaliar todos os sites inscritos para a premiação, Veríssimo, da MZ Consult, diagnosticou alguns pontos que, no geral, poderiam ser melhorados por boa parte dos sites de companhias brasileiras. Informações estratégicas do negócio, por exemplo, que proporcionem ao investidor uma visão de tendência e se somem às já apresentadas nos balanços e no relatório anual, são pouco freqüentes no Brasil em relação a outros países, afirma.

Ele também notou que o Brasil tem poucos casos de empresas que dedicam uma seção especial do site para tratar de governança corporativa, detalhando questões como o funcionamento do conselho de administração, dos comitês e a remuneração dos executivos. Observou ainda que os sites brasileiros não têm a tradição de transcrever as apresentações realizadas em eventos. “Algumas empresas chegam a arquivar o áudio ou até o vídeo do evento, mas seria interessante apresentar também uma transcrição dos principais discursos a fim de facilitar a consulta do investidor”, afirma.

ARMADILHAS DO MUNDO VIRTUAL – Mas a principal falha dos sites e a que mais contou para a perda de pontos foram os dados desatualizados. Neste quesito, os problemas para a companhia podem não se restringir ao desagrado dos investidores ou ao desfalque de pontos em premiações como a promovida pela MZ. Segundo Gregory Harrington, advogado do escritório Linklaters, os problemas podem ser com o órgão regulador, pelos menos para as companhias com ações listadas em uma das bolsas norte-americanas e submetidas às regras da Securities and Exchange Commission (SEC). O uso da mídia eletrônica para divulgação de informações foi regulamentado pela comissão em dezembro de 2000.

A SEC avalia que as companhias têm o dever de atualizar as informações divulgadas em press releases ou em apresentações caso os dados contidos no documento sejam alterados em função de novos acontecimentos. Tais informações, se mantidas no site como se fossem atuais, podem induzir o investidor a um entendimento equivocado dos fatos, justamente o que quer evitar a SEC.

Para se precaver de problemas com o órgão regulador, Harrington recomenda que todos os informativos sejam datados e que sempre contenham a ressalva de que, após a data mencionada, a informação pode não mais ser verdadeira e que a companhia não se compromete a atualizá-la. Sugere também que os arquivos antigos sejam guardados separadamente em espaços reservados para tais informações.

Outro cuidado a ser tomado pelas companhias é quanto às projeções de resultados. É essencial fazer a ressalva de que as informações se tratam de projeções e evitar qualquer dado que possa confundir o investidor. Cabe atentar para armadilhas da legislação como as regras que valem para as transcrições de discursos publicadas no site. Embora no discurso não seja obrigatório o detalhamento dos fatores de risco que envolvem eventuais projeções realizadas, nos documentos escritos a exigência se aplica. Portanto, discursos ou apresentações transcritas no site devem conter os fatores de risco caso mencionem projeções futuras.

Um terceiro motivo de cautela são os chamados hyperlinks, portas de entrada para páginas de outros sites. Textos contidos nesses endereços virtuais e que tenham relação com a companhia podem ser considerados “adotados”, ou seja, ratificados pela empresa. Um exemplo são os relatórios de recomendação de compra ou venda das ações produzidos por analistas. Se obtidos através de um link a partir do site da empresa, eles podem fazer parecer que a companhia analisada concordou com as informações ali presentes.

Para se prevenir de mal-entendidos gerados pelos hyperlinks, as companhias devem, segundo Harrington, fazer a ressalva de que não se responsabilizam pelo conteúdo de sites de terceiros e evi tar referências a informações dos sites a que os hyperlinks dão acesso.

Relatório anual on-line: economia na forma e foco no conteúdo

Outro recurso da internet que vem mudando os meios tradicionais de relacionamento entre companhias e investidores é o relatório anual on-line. Algumas empresas, inclusive, já quebraram um tabu e decidiram substituir o pomposo caderno que entregavam anualmente a investidores, clientes e fornecedores por um CD com menos presença e muito mais conteúdo.

Na premiação da MZ Consult para os melhores relatórios on-line, duas companhias brasileiras apareceram entre as vencedoras: Perdigão, no setor de alimentos e bebidas, e Itaú, na área de bancos e serviços financeiros.

“Acreditamos que a navegabilidade tenha sido o grande diferencial do nosso relatório”, afirma Wang Wei Chang, vice-presidente de finanças e relações com investidores da Perdigão. A companhia manteve a versão impressa do relatório anual e decidiu investir também no formato on-line para adequar o material à demanda de informação dos investidores.

Por ser uma peça também de divulgação das atividades da companhia para os seus mais variados relacionamentos, o relatório impresso tende a não atender ao detalhamento exigido pelos investidores. “Temos um enfoque diferente na versão on-line porque sabemos que somente terá interesse pelo material quem precisar de informações mais detalhadas”, conta Wang.

Na internet, o antigo relatório transforma-se em um versátil material de divulgação e pesquisa. Permite exibir vídeos, conferências, links diversos para detalhamento das informações, campanhas de marketing, recursos de animação e planilhas para uso dos investidores. O relatório virtual também ganha de longe no quesito orçamento, com valores substancialmente inferiores aos do impresso.

Ao analisar os cerca de 80 relatórios submetidos a sua apreciação por empresas de todo o mundo, contudo, a MZ avaliou que, na maior parte dos casos, os relatórios anuais on-line ainda servem mais à economia de custos que à versatilidade da informação. “Muitas companhias simplesmente converteram a versão impressa para um formato digital com menu de navegação”, diz o relatório de avaliação da MZ.

Chang, da Perdigão, aposta no potencial do material on-line substituir o tradicional impresso ao longo dos próximos anos. Sua expectativa é de que o conteúdo mais abrangente e a facilidade de consulta às informações acabem por conquistar os usuários.

As páginas na internet também podem ser um problema no momento das ofertas públicas de ações ou outros títulos, as chamadas operações de underwriting. Nessas situações, toda a atenção é merecida. Em uma oferta para investidores qualificados, por exemplo, no modelo denominado pela SEC de 144-A, é proibida qualquer divulgação da operação para investidores em geral no mercado norte-americano. Tal procedimento tira o caráter restrito da versão 144-A e pode ser suficiente para que um advogado não dê o seu aval à operação, condição essencial para seguir com a oferta.

SITES TENDEM A VIRAR VEÍCULO OFICIAL – Os sites ainda não têm status para substituir os meios tradicionais de comunicação com investidores nos Estados Unidos. Mas, na opinião de Harrington, isso vem mudando nos últimos anos e a tendência é de que os sites venham a ser aceitos, em algum momento, como ferramenta oficial para a disseminação ampla e equânime das informações.

Exemplo disso foi dado pela norma que regula a divulgação dos códigos de ética no mercado norte- americano. É permitido às companhias apresentar o código completo apenas no site, desde que devidamente informado no relatório anual que o investidor o encontrará na internet. A mesma liberdade, contudo, ainda não foi permitida para os relatórios anuais exigidos pela Bolsa de Nova York. Nesse caso, a empresa só pode se eximir de enviar a cópia impressa do documento caso seja formalmente autorizada por cada investidor a fazê-lo.

No Brasil, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) não tem regras específicas para as informações divulgadas através dos sites de relações com investidores. Mas já permitiu que eles fossem utilizados em benefício da redução dos elevados custos de manutenção de companhias com o capital aberto.

A Instrução 358, de janeiro de 2002, permitiu que os fatos relevantes fossem publicados em versão resumida nos jornais e divulgados na íntegra através dos sites de RI. A nova Instrução 400, que substitui a antiga Instrução 13 na regulamentação das ofertas públicas de títulos e valores mobiliários, também abre espaço para que a internet reduza custos. Os anúncios de início das distribuições poderão ser, assim como os fatos relevantes, divulgados em forma resumida nos jornais e em versão completa na internet. Com o interesse das companhias e o aval dos reguladores, o espaços virtuais conquistam rapidamente seu lugar nas relações entre empresas e investidores.

Investidor exige site atualizado e preza o contato com o RI

É preferível não ter um site de relações com investidores do que ter e mantê-lo desatualizado. A reclamação é unânime entre um grupo de dez analistas, de diferentes corretoras e setores, consultados pela Capital Aberto. É frustrante, segundo eles, entrar no site de uma empresa atrás da sua última demonstração financeira e encontrar apenas resultados de períodos anteriores.

“Muitas empresas não se dão ao trabalho de atualizá-lo, o que demonstra pouco caso com o mercado de capitais”, diz Eduardo Hajime, especialista em petroquímica da corretora Hedging Griffo.

Mas a atualização está longe de ser tudo para a maioria dos especialistas de mercado. O grande apelo de um site está no detalhamento de algumas informações além do que é apresentado nas demonstrações financeiras oficiais. A abertura dos custos e despesas da companhia, por exemplo, seria bem-vinda.

“Colocar os dados financeiros na internet não é tão importante pois podemos consegui-los na CVM”, afirma André Segadilha, analista do setor elétrico da corretora Brascan. “Balanço no site praticamente todas as empresas com liquidez em bolsa têm. O que seria importante para nós é um maior nível de detalhamento”, diz Renato Onishi, que acompanha os setores de eletricidade e saneamento pela Unibanco Asset Management.

Quatro elementos foram citados como ferramentas importantes por todos os analistas consultados: cronograma de reuniões, apresentações, transcrição de conference calls, histórico da empresa e de dados financeiros, como os dividendos. “Quanto maior o número de informações melhor”, afirma Luciana Machado, analista de siderurgia e mineração da Fator Doria Atherino.

Mesmo usando cada vez mais os sites de RI das empresas, os analistas não abrem mão do telefone na hora de tirar suas dúvidas. Apenas dois dos profissionais entrevistados apontaram o canal de comunicação on-line na internet como o principal meio de relacionamento com o investidor. Ainda assim, fizeram a ressalva de que o site atende, principalmente, o pequeno investidor. “É preferível que o RI esteja sempre disponível para falar diretamente”, diz Ricardo Silva, da Itaú Corretora.


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