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Sites de RI esbanjam tecnologia com recursos como RSS, vídeos e podcasts, mas o desafio continua sendo se comunicar bem

, Conteúdo high-tech, Capital AbertoPerdeu o último evento de apresentação de resultados da sua companhia preferida? Vá até o site de Relações com Investidores (RI) e veja, ouça e leia os números e os comentários da administração. Lá dá para assistir ao vídeo da reunião e acompanhar na tela os mesmos slides mostrados na palestra. Agora, cá entre nós: você até pode ter uma boa desculpa, mas não foi por falta de aviso que deixou de comparecer ao evento. Era só ter se cadastrado no site para receber, no celular, qualquer notícia da companhia. E aí, gostou do website? Não? Bem, então é só clicar em “feedback” e manifestar a sua opinião.

O exemplo acima se baseia em um caso real. Trata-se da holandesa de correios TNT, considerada benchmark em tecnologia e divulgação de dados em website pelo IR Global Rankings 2008. O levantamento, coordenado pela MZ, consultoria e provedora de serviços de RI, aponta as melhores práticas mundo afora desse departamento-chave das companhias abertas, principalmente no que se refere à comunicação on-line. Até o fechamento desta edição da CAPITAL ABERTO, a MZ não havia divulgado a pesquisa deste ano. Mas as parciais fornecidas à reportagem indicam que os sites de RI estão cada vez mais abastecidos de tecnologia para interagir com investidores.

Numa amostra de 110 companhias analisadas pelo IR Global Rankings, dos continentes europeu, asiático e americano, 48% aplicam a tecnologia RSS, que permite ao usuário ver uma notícia logo que ela é publicada no site sem precisar entrar na página original. No Brasil, 72% de 50 empresas que participaram voluntariamente da pesquisa recorrem a essa ferramenta. Em relação à oferta de arquivos de áudio, 26% das companhias do grupo estrangeiro adotam os chamados podcasts, enquanto no País esse percentual é de 19%. Na amostra global, 21% oferecem vídeos, como os de pronunciamentos de executivos. Aqui, essa taxa é de 15%.

Os melhores exemplos estão lá fora, mais especificamente na Europa. O site de RI da alemã Basf, além de se destacar em aspectos técnicos, chama a atenção pelo conteúdo. Investidores pouco familiarizados com jargões financeiros têm à mão um respeitável glossário com termos do mercado. Se o leitor é letrado em terminologia financeira, mas leigo em química, pode vasculhar o glossário para descobrir que o 2-etil-hexanol é um tipo de álcool utilizado na fabricação de plásticos. No quesito governança, o site também não decepciona. Qualquer visitante do endereço pode ver que o presidente do conselho executivo da empresa, Jürgen Hambrecht, embolsou € 3,4 milhões no ano fiscal encerrado em 2006. Os ganhos individuais de todos os membros do conselho executivo e do de supervisão — a forma como é dividido o conselho de administração na Alemanha — ficam expostos ali.

A febre dos dispositivos de comunicação móveis, como BlackBerry e celulares inteligentes, foi detectada pela companhia. Por isso ela possibilita a portadores desses aparelhos receber notícias, press releases de resultados, calendário de eventos e ficar de olho na cotação da ação. A Basf, é claro, não está sozinha nas inovações. A compatriota Bayer, que já tinha ações negociadas no mercado no fim do século 19, quando o telefone ainda era uma novidade, oferece os mesmos serviços. E ainda se sobressai no aspecto “responsividade”, o que significa que a equipe de RI é rápida para responder às consultas do público feitas on-line.

Companhias devem estudar formas de participar das comunidades virtuais para ajudar a construir sua própria imagem

WIKIS: POR QUE NÃO? — Atender prontamente às solicitações do acionista é fundamental. Em tempos de web 2.0, estágio atual da internet em que a colaboração para a construção de conteúdo é a norma, a busca por maior interatividade nos sites de RI é caminho inevitável. Gustavo Poppe, diretor da MZ, é um dos defensores dessa idéia. “A aplicação do conceito de web 2.0 é uma tendência mundial”, diz ele. Poppe lembra o caso do www.wikinvest.com. Trata-se de um wiki — tipo de site cujo conteúdo é produzido e editado coletivamente e que tem como maior referência a popular Wikipédia. O Wikinvest conclama seus usuários a ajudarem a criar o maior portal de pesquisa de investimento do mundo. A receita para isso é incentivar os investidores a comentar as histórias por trás dos números das companhias.

Um ponto fraco da gigante de tecnologia Apple, por exemplo, segundo o wiki, é o fator canibalização: a proliferação de iPhones, o sonho de consumo de nove em cada dez fãs de produtos high-tech, virá à custa da perda de prestígio dos iPods, sucesso absoluto de vendas da marca. “De forma colaborativa, as comunidades virtuais ajudam a formar uma opinião global sobre as companhias. Os sites de RI terão de se integrar a isso”, prevê Poppe. Não que as empresas devessem criar wikis em seus sites oficiais. Afinal, controlar o que dizem milhares de acionistas exigiria esforços hercúleos. Mas elas precisam estudar formas de participar desses fóruns para também se tornarem agentes da construção de sua imagem. Até porque esses ambientes facilitam o relacionamento com o investidor de varejo.

É presumível que essas mudanças não ocorrerão da noite para o dia. Tradicionalmente, corporações demoram a absorver as últimas tendências tecnológicas, sobretudo quando qualquer passo em falso pode afetar o preço das ações. Veja o exemplo dos blogs. Em novembro de 2007, a Dell, fabricante de computadores, foi a primeira companhia aberta a montar um blog do departamento de RI. Isso mesmo, essa singela ferramenta, sinônimo de colaboração na internet há pelo menos cinco anos, foi implementada pela primeira vez numa área de RI no ano passado. Contudo, embora devagar, algumas inovações vêm para ficar. A implementação de vídeos, como se vê, é uma delas. Já a adoção da linguagem de programação XBRL (sigla para Extensible Business Reporting Language) para a publicação de informações financeiras, alardeada há dois anos como a “revolução dos balanços”, parece se encontrar na fase anterior.

Comemorado por ser um mecanismo interativo de balanços, que permite ao usuário comparar dados de companhias concorrentes de modo instantâneo e rico em detalhes, o formato XBRL ainda não decolou. Cerca de 70 empresas arquivam seus relatórios nessa linguagem na Securities and Exchange Commission (SEC), dentro de um programa de adesão voluntária. No mundo, em torno de 500 estão experimentando a tecnologia, segundo Gustavo Poppe. Mas, no sites de RI, o que se encontra, na maioria das vezes, são os rígidos PDFs. A Microsoft é uma das poucas empresas a divulgar informações financeiras em XBRL em seu site. “Hoje, todo o mundo olha para essa linguagem, e não sabe direito como funciona, nem identifica utilidade”, diz Alexandre Germani, diretor da Media Group, agência de comunicação corporativa especializada em mercado de capitais e sustentabilidade. Mas o XBRL deslanchará conforme for se aprimorando, acredita.

SEGREGAÇÃO DUVIDOSA — Uma solução corriqueira nos sites de RI brasileiros é a personalização de conteúdo. Homepages distintas são desenvolvidas para servir a investidores institucionais, pessoa física e analistas. Para Germani, existe a tendência de as companhias, cada vez mais, tentarem dirigir sua comunicação conforme o interlocutor. “Segmentação é reescrever uma parte do site de uma maneira que seu público entenda. Em vez de simplesmente fornecer o índice de endividamento, não seria mais interessante dizer se ele deve ser baixo ou alto?”, questiona. Segundo o executivo, o Itaú está trilhando um caminho interessante. Em seu site de RI, não são apenas os links disponíveis que mudam conforme o usuário. O conteúdo tam- bém é trabalhado de forma diferente. Por meio do serviço “Meu RI”, com login e senha, o internauta consegue até escolher quais conteúdos deseja ver na página principal.

Mas a onda de segmentação que tomou os sites de RI brasileiros tem detratores. “Não é a coisa mais inteligente a ser feita”, diz Dominic Jones, fundador da IR Web Report, consultoria canadense de comunicação on-line de RI. No site www. irwebreport.com, ele reúne análises de sites de RI e cobra um preço por elas. Para Jones, há três razões básicas para se evitar a segmentação. A primeira é o fato de ser extremamente difícil prever o que cada investidor quer. Em segundo lugar, “é um insulto à inteligência de investidores individuais pensar que eles não podem compreender determinadas informações”. Por último, essa divisão de páginas levanta a suspeita de que a companhia pratica disclosure seletivo.

Se ela distribui informações conforme a sofisticação dos investidores, acaba beneficiando alguns deles. “Essa percepção de que companhias favorecem alguns investidores em detrimento de outros mina a confiança no mercado de capitais.” Nos Estados Unidos, investidores pessoa física protestaram quando descobriram que analistas tinham acesso privilegiado a informações. E esse desconforto se tornou assunto político quente durante a administração Bill Clinton e do então chairman da SEC, Arthur Levitt. “Acentuar diferenças baseando-se na sofisticação do usuário é muito perigoso, especialmente se a companhia espera atrair investidores internacionais”, conclui Jones.

O grande problema da maior parte do sites de RI, na opinião de Jones, é o fato de as companhias não assumirem o comando. Elas esperam que seus fornecedores, como a MZ ou a Thomson Financial, os gerenciem. Mas só a empresa pode assegurar que cada página esteja devidamente atualizada. Isso, claro, envolve custos, como a de uma equipe editorial para a manutenção do site. Também não é interesse dos fornecedores que as habilidades de gestão dos websites sejam desenvolvidas internamente. “Os provedores sabem que, uma vez que o cliente adquire essa capacidade, ele vai considerar sua tecnologia inflexível e cara em relação ao que pode fazer”, alfineta o canadense. Mas Jones acha isso um exagero. Companhias sempre vão precisar dos consultores para ferramentas específicas e expertise. Já a responsabilidade pelo conteúdo não deveria ser de ninguém mais que a companhia. O melhor indicador de excelência de um site não é o quanto high-tech aparenta ser, mas, sim, a qualidade e a agilidade com que anuncia informações novas e relevantes.


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