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Contabilidade para intangíveis
Companhias se preparam para divulgar balanços dos ativos não expressos em suas demonstrações financeiras

No momento em que o setor financeiro comemora lucros recordes, calcados essencialmente no aumento de crédito para fomento da produção industrial, um outro movimento, no qual a produtividade é o que menos conta, começa a ganhar corpo. Trata-se da adoção de um balanço de intangíveis – aqueles ativos que, apesar de não serem palpáveis aos investidores em uma primeira análise, geram valor quando a companhia consegue administrar corretamente sua marca, seu portfólio de clientes e fornecedores e seu capital intelectual., Contabilidade para intangíveis, Capital Aberto

Companhias como Suzano e Petrobras já se preparam para lançar o demonstrativo. Em linhas gerais, seu objetivo é oferecer ao investidor mais subsídios sobre o quanto valem as companhias além do que o mercado pode enxergar nas demonstrações contábeis. “Está provado que as companhias têm sido precificadas não apenas pelo resultado gerado, mas, principalmente, pelo potencial que têm de criação de valor no futuro. Para nós, fica claro que o sucesso e os ganhos na gestão de ativos tangíveis estão intimamente ligados à boa utilização dos ativos intangíveis no passado recente”, avalia Fanny Schwarz, gerente da consultoria Symnetics.

Jorge Cajazeira, gerente de excelência empresarial da Suzano, conta que a companhia está, por ora, analisando, qualificando e quantificando seus bens intangíveis. No ano que vem, a expectativa é que o balanço de 2005 tenha um anexo no qual os intangíveis estejam devidamente mensurados e contabilizados. “Sem dúvida alguma estamos saindo na frente dos demais competidores desse mercado ao oferecer aos nossos acionistas dados que vão além dos que recebem normalmente. É um valor agregado que os fará compreender melhor nossa gestão e nossa capacidade de crescimento”, diz Cajazeira, para quem a adoção desse tipo de balanço pelas companhias é uma realidade iminente. “O sistema contábil do país deve mudar nos próximos dez anos, incrementando, sem sombra de dúvida, a importância dos ativos intangíveis”, vislumbra o executivo.

GESTÃO DE INTANGÍVEIS – De olho na mesma tendência, a Petrobras também começa a colocar em prática seus planos de lançar um balanço focado nos ativos intangíveis. Alexandre Korowajczuk, gerente da área de gestão de conhecimento da estatal, conta que vários workshops foram realizados ao longo de 2004 com funcionários de áreas estratégicas visando o nivelamento conceitual do que são e representam os bens intangíveis da companhia. Agora, a fase é de identificação e qualificação desses ativos. “Nosso objetivo é buscar quais são os intangíveis da companhia para, em seguida, alinhar seu potencial de geração de valor a nossa estratégia de mercado”, conta. A Petrobras também pretende desenvolver processos internos para melhorar a gestão dos intangíveis. “Nós queremos mostrar ao mercado que, mais do que contar com esses ativos, nós os protegemos dos competidores”, diz Korowajczuk.

A intenção da estatal é, num primeiro momento, publicar um demonstrativo de intangíveis mais parecido com um balanço social, desprovido de métricas para contabilidade desses ativos. O objetivo será apenas evidenciar os intangíveis e a estratégia aplicada para gerencialos. No futuro, indicaremos ao mercado quanto valem esses ativos”, conta.

VALOR DE MERCADO – Se a percepção é de que, em até dez anos, as finanças corporativas serão regidas sob novos paradigmas e as companhias mais empenhadas em dourar seus intangíveis serão melhor valorizadas, já existem no mercado iniciativas para testar essa premissa. O professor Alexandre Di Miceli da Silveira, do Laboratório de Finanças da USP, analisou em seu trabalho de doutorado os relatórios financeiros de 161 empresas divulgados entre 1998 e 2002 e o valor de mercado dessas companhias. No que diz respeito aos ativos imobilizados, sua conclusão vai ao encontro da tese de que máquinas, fábricas e outros tangíveis terão cada vez menos peso nos modelos de avaliação das companhias. Nas análises do professor, foi observada uma correlação inversa entre o percentual de imobilizado sobre as receitas e o valor da companhia em mercado.

A consultoria E-Consulting se debruçou sobre o assunto e desenvolveu uma metodologia que visa apoiar as empresas a identificarem, categorizarem, qualificarem e quantificarem esses ativos. Dentro dessa metodologia, a consultoria propõe quatro tipos de capitais integrados por diferentes quesitos impalpáveis que geram valor – institucional, organizacional, de relacionamento, e intelectual (veja quadro na próxima página). A E-Consulting também possui um modelo de balanço para bens intangíveis. Assim como o balanço patrimonial, ele é composto de ativos e passivos, com exceção do primeiro demonstrativo elaborado, que registra apenas os ativos. No segundo, ativos que tenham deixado de existir – do tipo, por exemplo, profissionais talentosos que saíram da companhia – são transferidos para as contas de passivo. Ao contrário do balanço patrimonial, como se pode perceber, ativo não precisa ser igual a passivo.

Uma das principais atribuições do balanço de intangíveis é proporcionar ao investidor o acompanhamento da evolução dos ativos e passivos ano a ano. E uma das maiores dificuldades é encontrar os modelos de cálculo apropriados para quantifica- los. “Como não há uma métrica única e já definida, nós propomos que, uma vez caracterizados e definidos quais são os intangíveis, as empresas adotem a prática que acharem mais conveniente para quantificação”, explica Daniel Domeneghetti, sócio-fundador e diretor de estratégia e conhecimento da E-Consulting.

Mas, para Domeneghetti, não será o valor atribuído ao intangível o ponto chave para o investidor, mas sim a variação no valor desses bens ao longo dos anos. “É claro que as empresas que adotarem esse instrumento (o balanço de ativos intangíveis) terão que detalhar ao mercado quais métricas foram usadas e o que se levou em consideração para chegar aos valores indicados. O mercado é quem vai avaliar se tais valores fazem sentido ou não. Obviamente, não caberão aqui preços supermensurados”, avalia Domeneghetti. Pela metodologia da E-Consulting, os intangíveis são contabilizados a partir de pesos que variam conforme a área de atuação da companhia. Para uma empresa de software, por exemplo, as patentes e o capital intelectual têm peso maior.

PEÇA DE AVALIAÇÃO – A importância da métrica utilizada na demonstração dos intangíveis, contudo, não é consenso entre os especialistas. Valdir Coscodai, sócio responsável pela área de risco e qualidade da PricewaterhouseCoopers, defende a correta mensuração dos intangíveis como um dos princípios a serem levados em conta pelas empresas. “Quem optar pela adoção desse tipo de divulgação precisa ter claro que ela pode funcionar como um elemento de avaliação da companhia em um processo de fusão ou incorporação”, observa. Ao mesmo tempo, o balanço de intangíveis tem o mérito de sinalizar para o interessado em uma aquisição que a companhia conhece seus intangíveis e sabe quanto valem.

Mais cauteloso na análise dos benefícios que um balanço de intangíveis pode gerar, o consultor Lélio Lauretti alerta para um possível otimismo excessivo quanto ao retorno desse tipo de estratégia. Para ele, é inevitável que as companhias caminhem no sentido de identificar e qualificar seus intangíveis. Mas ainda é difícil avaliar o reflexo que a iniciativa terá na visão do investidor. “Acredito que se esteja tentando traduzir em números o que ainda está no campo das idéias”, afirma Lauretti. Expressos ou não em valores, os intangíveis seguem ganhando espaço na comunicação corporativa.


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