O relatório do auditor mudou para melhor: mas ainda é pouco?
Ilustração: Rodrigo Auada

Ilustração: Rodrigo Auada

O ano era 1903 e a siderúrgica americana U.S. Steel apresentava pela primeira vez em seu balanço financeiro anual o parecer de um auditor independente. Disposto em um lugar de pouco destaque, espremido entre as colunas de ativos e passivos, o veredito se resumia a quatro palavras: “audited and found correct”. Mais de um século depois, o relatório de auditor independente ainda não alcançou a sua missão: informar aos analistas e investidores o que os auditores pensam dos balanços. A partir deste ano, um novo modelo de relatório do auditor passou a vigorar no Brasil, basesado em seis normas lançadas pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC) e baseadas nos padrões internacionais de auditoria.

No novo formato, a opinião do auditor aparece logo no início do documento, seguido da seção “principais assuntos de auditoria” (PAA). “Esses temas não são necessariamente um problema, mas requerem atenção do auditor por exigirem um nível maior de julgamento”, explica Tadeu Cendon, sócio da PwC.

De acordo com levantamento da PwC, a primeira leva de relatórios elaborados conforme o novo modelo teve uma média de 2,7 PAAs. Impairment, reconhecimento de receitas e provisões de receitas foram os tópicos que mais geraram assuntos relevantes para os auditores. “O resultado foi muito parecido com o observado em outros países em que o relatório foi adotado”, afirma Rogério Garcia, diretor técnico do Ibracon (Instituto dos Auditores Independentes do Brasil). “Não vejo a publicação de poucos PAAs como algo ruim. Isso faz com que o leitor se concentre nos assuntos que o auditor realmente considerou mais significativos para o trabalho”, avalia.

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Um ponto que precisa ser melhorado, na visão de Edison Fernandes, sócio do Fernandes, Figueiredo, Françoso e Petros Advogados, diz respeito às explicações contidas no documento. “Há situações, por exemplo, em que o auditor afirma no parecer que determinadas premissas foram avaliadas, mas não diz quais são elas”, observa Fernandes. Além disso, ele acredita que faltou nos relatórios uma explicação para os destaques dos PAAs. “Não basta ressaltá-los”, acrescenta o advogado. Diretor de corporate finance da ProxyCon e ex-presidente da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec), Reginaldo Ferreira Alexandre concorda. “Faltou o essencial em muitos relatórios. A informação mais útil é a conclusão”, afirma.

Marcelo Fridori, superintendente de auditoria da Sabesp, questiona, contudo, o benefício de um documento tão detalhado. “Será que tanta informação não poderia atrapalhar o investidor?”, pondera. Outra preocupação diz respeito à possibilidade de o relatório, ao prover mais informações, acabar divulgando ao mercado dados que possam impactar a competitividade das companhias. “O auditor precisa pensar bem em como reportar cada informação, para que não sejam divulgados dados estratégicos”, diz Laenio Pereira dos Santos, diretor de contabilidade da SulAmérica.

Há o temor de que informações constantes dos relatórios sejam utilizadas por instâncias julgadoras. “Já aconteceu mais de uma vez de um órgão como o Cade usar informações do auditor”, afirma Renato Faria, do Navarro Advogados. “É válida a preocupação de que esses dados venham a ser usados como confissão?”, questiona. Para Pereira, da SulAmérica, não há risco de confissão quando o que está em questão é uma nota adequada. “O balanço ideal dessas informações é a busca que temos pela frente”, arremata Fridori.

Os diferentes atores do mercado concordam em um ponto: o novo parecer do auditor colocou em curso uma importante transformação cultural. “O nível da nossa interação com as empresas aumentou muito. Especialmente no caso das que não têm comitê de auditoria”, destaca Cendon, da PwC.

Confira no vídeo outras opiniões sobre o novo relatório do auditor.

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