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Conexões virtuais
Mídias sociais são usadas por profissionais do mercado internacional para discutir estratégias e melhorar resultados. No Brasil, porém, essa realidade ainda é distante

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Quinta-feira sim, outra não, a agenda de Patrick Kiss, um atarefado gerente de relações com investidores (RI), está ocupada nos fins de tarde. Nesses dias, ele se reúne com colegas de profissão para discutir pesquisas e iniciativas relacionadas à atividade. Novidades são sempre bem-vindas, e qualquer pessoa pode pedir para participar dos encontros. Ficou interessado? Pois saiba que o endereço do encontro é exatamente no meio do caminho entre o escritório do alemão Kiss e os profissionais de RI de todo o mundo. Chegar lá é bem fácil: basta seguir até o twitter.com e entrar em #IRChat.

O idioma usado pelos seguidores é o inglês, limitado a 140 caracteres por tweet. Mas os prolixos têm outras opções. Ambientes na web que juntam profissionais do mercado de capitais são cada vez mais comuns na Europa e nos Estados Unidos. Entre os norte-americanos, o Seeking Alpha é uma das redes mais conhecidas. Criada por gestores de carteiras, é um espaço para debates sobre investimentos, geralmente em torno de artigos analíticos. Nem todos podem escrever no site, porque os administradores se reservam o direito de selecionar os participantes. Com a promessa de agregar o conteúdo mais interessante de blogs especializados em finanças corporativas mundo afora, os editores publicam mais de 250 textos diariamente. Na rede, o usuário pode identificar, seguir e comentar os autores mais populares sobre determinado tema (os responsáveis pelo site não atenderam ao pedido de entrevista).

O StockTwits, por sua vez, é baseado em ferramentas consagradas no Twitter e no Facebook. Como no microblog, os usuários escrevem seus comentários com 140 caracteres e podem acompanhar os palpites de todos sobre as ações listadas em bolsa. O ambiente é categorizado em tópicos como opções, futuros e empresas fechadas, por exemplo. Ali, internautas postam suas impressões e ganham reputação e importância à medida que são recomendados pelos outros. O alemão Kiss afirma que, “apesar de mais avançadas, redes como o Seeking Alpha e o StockTwits são muito focadas nos ativos de empresas listadas nos Estados Unidos”, o que acaba limitando a interação de agentes de outros países nas discussões.

DE GESTOR PARA COTISTA — Cumpre papel parecido, porém na Espanha, a rede social Unience. Lançada em 2007 por Nicolas Oriel, então desenvolvedor de sistemas do banco espanhol Bankinter, o site une participantes do mercado para discutir e analisar estratégias de investimentos. Mais de 30 mil internautas fazem parte da plataforma.

Dentre eles está Marc Garrigasait, presidente da gestora espanhola Coala Sicav, que ostenta mais de 2.700 seguidores no Twitter. No ambiente do Unience, ele fala do desempenho da carteira de sua asset e comenta assuntos diversos sobre finanças e economia. Mas para o investidor Javier Carillo, cliente da Coala Sicav e também participante da rede, Garrigasait deveria dar mais detalhes sobre sua estratégia.

Para o atual administrador do site, Vicente Varo, a rede dá visibilidade aos gestores de fundos e, para os investidores, proporciona discussões importantes. O Unience permite, por exemplo, acompanhar a composição e os retornos das carteiras de ações de algumas gestoras. Hoje, o site registra, em média, acima de 10 mil visualizações diárias, segundo o BizInformação. Cerca de 25% do público é formado por profissionais do mercado, e outros 25%, por pessoas que afirmam conhecer bem o mercado. O restante são pessoas físicas.

Mais abrangente, o site LinkedIn se destaca dentre as mídias sociais com perfil corporativo. O endereço surgiu para ser uma rede de contatos profissionais. Nos seus vários grupos de discussão, também há conversas sobre os mercados de capitais de vários países. Uma pesquisa realizada neste ano pela gestora de recursos American Century Investments dá uma ideia do alcance do LinkedIn e de outras mídias sociais nessa fatia do público. Dos 300 profissionais de finanças entrevistados, 55% podem ser encontrados no LinkedIn. Mais da metade desses participantes — 27% — declarou usar a ferramenta para fins profissionais. Outras 11 redes sociais foram pesquisadas, e 86% dos entrevistados são membros de ao menos uma delas. Esse número vem crescendo. Na pesquisa do ano anterior, a participação era de 73%.

A evolução tem tudo para continuar. Quando questionados sobre o futuro, 77% dos profissionais disseram ter planos de usar as mídias sociais para benefício profissional. Monitorar mercados e notícias, ler comentários de autoridades sobre os assuntos e compartilhar informações lideraram a lista de interesses dos norte-americanos nessas ferramentas da internet.

, Conexões virtuais, Capital AbertoDISTANTE DO BRASIL — Os internautas brasileiros ostentam títulos relevantes nas mídias sociais. São maioria no Orkut — representam 50,6% dos usuários —, ocupam o terceiro lugar no Twitter e somam mais de 14 milhões de perfis no Facebook. O comportamento de vanguarda, entretanto, parece desconsiderar os benefícios profissionais dessas ferramentas. Na maioria das vezes, companhias abertas e corretoras usam o espaço virtual para promover ações de marketing e falar com investidores pessoas físicas. Quase não há diálogo entre investidores institucionais e empresas.

Uma enquete presente desde novembro do ano passado no site do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (Ibri), cujo objetivo é averiguar o uso das mídias sociais de maneira profissional pelos RIs, comprova essa realidade. Apesar de ter sido divulgada no site da instituição e em seu grupo de discussão no LinkedIn, a pesquisa recebeu apenas 17 respostas até o fechamento desta edição. Dos que responderam, 47% disseram não usar as mídias na área de RI.

O LinkedIn é a única rede em que profissionais do mercado de capitais brasileiro têm atuação destacada. Um fórum criado pelo Ibri conta com 550 participantes. A administração fica a cargo de Luís Fernando de Oliveira, gerente de RI da companhia de motores elétricos WEG. Exemplo de profissional conectado, Oliveira está no Twitter, em que ultrapassou a marca dos mil seguidores, e é o mais atuante do grupo. Para ser incluído, o usuário precisa ter o seu perfil aprovado por ele. “Aceito todo o mundo, pois um número maior de participantes aumenta a qualidade da discussão”, afirma. Por enquanto, os debates também não têm sido profundos.

Os comentários são escassos e os textos postados, em sua maior parte, citam notícias que usuários encontram em sites da mídia tradicional e, por acharem interessante, divulgam.

INTERAÇÃO EM FALTA — No entendimento do gerente de RI alemão Kiss, não se trata de um atraso dos brasileiros. A característica se deve mais à estratégia das companhias. O Ibri, através de Oliveira, vem tentando mudar esse panorama ao propagar os benefícios que essas ferramentas trazem às ações. “Um relacionamento mais próximo com os investidores aumenta a liquidez dos papéis”, diz ele. A gerente de planejamento da Dialeto Social Media, Bruna Galvão, conhece bem a forma como as empresas brasileiras conversam pela internet. “O problema é que no Brasil as companhias buscam muito mais dizer do que compartilhar informações na web. Não há interação.” Segundo ela, os benefícios do uso desses sites são ampliar a visibilidade e melhorar a comunicação. Mas isso demanda esforços e vontade de interagir, o que nem todas têm.

O espanhol Marc afirma, categoricamente, que a participação nas mídias compensa financeiramente para os gestores de fundos. Mas tudo isso, é claro, exige tempo e dedicação. Não basta criar os perfis, é preciso mantê-los atualizados — uma tarefa para a qual os profissionais do mercado de capitais brasileiro não parecem mostrar muita disposição.


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