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Com muita sede ao pote
Aquisições em série deixam investidores da JBS desconfiados

, Com muita sede ao pote, Capital AbertoA JBS, maior empresa de processamento de proteína animal do mundo, está sentindo na carne os efeitos da voracidade com que efetuou aquisições de grande monta em um período de tempo relativamente curto. Se, de um lado, as novas conquistas fortaleceram a companhia, tornando-a maior e mais completa; de outro, provocaram insegurança nos investidores quanto ao tamanho da conta a ser paga. Como resultado, as ações da empresa amargaram queda acumulada de 26,74% nos seis meses encerrados em 31 de janeiro.

“As sucessivas aquisições causam apreensão, pois pressupõem obtenção de financiamento, seja por meio da oferta de debêntures ou de ações, que poderiam acabar diluindo a base acionária”, observa o analista Cauê Pinheiro, da SLW Corretora. Para se ter ideia do apetite da JBS, a companhia anunciou, em setembro de 2009, de uma só vez, a incorporação do frigorífico brasileiro Bertin — na época um dos três maiores do País —, e a compra da Pilgrim’s Pride, segunda maior processadora de carne de frango dos Estados Unidos. Já em 2010, uma nova investida resultou no arremate do frigorífico australiano Rockdale Beef.

Mas foram os rumores, ainda no ano passado, de que a empresa estaria em negociações para adquirir outro gigante norte-americano do setor de alimentos, a Sara Lee Corp, que contribuíram para reforçar a fama de insaciabilidade da JBS. “Se a companhia já estava alavancada, em função das compras anteriores, as notícias de uma possível nova aquisição desse porte geraram mais incerteza”, ressalta Mariana Peringer, analista do Banco do Brasil Banco de Investimento. “Além disso, a JBS havia sinalizado que passaria a priorizar a distribuição. A eventual incorporação sugeria outra diretriz, de diversificação de portfólio e criação de marcas próprias”, acrescenta.

O diretor de relações com investidores (RI) da JBS, Jeremiah O’Callaghan, admite que as seguidas aquisições tenham chamado a atenção sobre o nível de endividamento, embora não considere preocupante o atual índice, de três vezes a geração de caixa, ante a média de dois no setor. “A alavancagem se deu muito em função do aumento da necessidade de capital de giro, dada nossa maior participação no mercado internacional”, diz ele, assegurando que as compras da Bertin e Pilgrim’s ocorreram em conformidade com a capacidade financeira da empresa e já foram absorvidas. Já os rumores de aquisição da Sara Lee nunca foram confirmados nem desmentidos pelas companhias envolvidas.

Dúvidas à parte, os analistas apontam como outra dificuldade para a JBS o aumento de preços das commodities agrícolas em 2010 (soja, 30%, e milho, 38%), em especial na operação dos Estados Unidos, onde a criação do gado com ração é mais comum. “Claro que a alta afeta todo o setor, mas se ela induz uma elevação do preço da carne bovina, por exemplo, há um natural aumento do consumo da carne de frango, o que leva investidores a migrar para companhias mais consolidadas nesse mercado”, explica Mariana, do Banco do Brasil. “A JBS foi surpreendida em um momento de reestruturação e captura de sinergias, quando mais precisa de capital de giro.”

À inflação dos insumos, O’Callaghan adiciona uma variável específica: a JBS paga o preço de ser global. “Estamos presentes em diversos países e cerca de 70% da receita vem de fora da América Latina, o que resulta em um perfil às vezes difícil de ser interpretado”, explica. “Se há desemprego nos Estados Unidos ou enchente na Austrália, as pessoas logo imaginam, por falta de conhecimento de nossas operações, que somos atingidos. Não é bem assim.” Para ele, a atuação globalizada da JBS minimiza sua exposição aos efeitos das variações econômicas regionais.

De fato, a julgar pelo relatório do terceiro trimestre de 2010 (o mais recente disponível), a companhia vem administrando com eficiência as adversidades setoriais. Se o lucro líquido consolidado recuou 11,9% ante o mesmo período de 2009, para R$ 133,5 milhões, a receita líquida cresceu 68%, de R$ 8,4 bilhões para R$ 14 bilhões na mesma base de comparação, ficando praticamente estável em relação ao trimestre anterior. O Ebitda consolidado mais do que triplicou, alcançando R$ 1,02 bilhão, enquanto a margem avançou de 3,5% para 7,3%. O principal destaque coube à unidade de carne suína da JBS USA, cuja margem operacional alcançou históricos 11,8%.

Diante dos números, o vice-presidente sênior do HSBC Securities em Nova York, Pedro Herrera, não tem dúvidas: “A performance dos papéis abaixo do valor patrimonial não encontra respaldo nos fundamentos da empresa. Os negócios estão se recuperando da crise mundial, com aumento da demanda e de preços do setor. Minha recomendação para 2011 é positiva.” Seu otimismo é compartilhado por Mariana, do BB, que vê boas perspectivas para a companhia, com ganho de margens, à medida que as sinergias se tornarem realidade.

A dieta da empresa para 2011 inclui a busca de eficiência operacional. “Obtendo melhores resultados a custos mais baixos, vamos aumentar o valor percebido da companhia pelos investidores”, diz O’Callaghan. Porém, os analistas concordam que, para isso, a JBS deve moderar seu apetite e concentrar-se na digestão do que já deglutiu. “Novas aquisições, novas incertezas”, resume Pinheiro, da SLW.


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