Cigarro em alta
Veterana na bolsa e líder absoluta em seu setor, Souza Cruz passa ilesa pela turbulência

Se o mundo estivesse paralisado na década de 50, quando clássicos do cinema hollywoodiano enalteciam suas divas com cigarro em riste, seria perfeito. Mas, hoje, com as bandeiras em favor da responsabilidade social sendo empunhadas em todos os cantos do mundo, falar bem de cigarro é pedir para ser crucificado em praça pública. A Lente de Aumento não tem pretensões de se tornar o Jesus Cristo da vez, mas vai cumprir a sua missão de avaliar uma companhia sob o prisma do acionista e do seu desempenho em bolsa. E, portanto, reconhecer o destaque da Souza Cruz nos pregões dos últimos seis meses. A líder inconteste do mercado nacional de cigarros, com 62% de participação, passou ilesa pela volatilidade do mercado de capitais brasileiro, até agora. O valor das ações manteve-se praticamente estável ao longo de 2008, enquanto o índice Bovespa desvalorizou 41,2% no mesmo período.

“A ação da Souza Cruz sempre foi reconhecida no mercado como um papel defensivo e que, historicamente, não sofre com a mesma intensidade que outros segmentos a qualquer volatilidade”, diz o diretor financeiro, Luis Rapparini. O executivo observou, ainda, que a companhia destaca-se por ter uma agressiva política de remunerar os seus acionistas. “Nos últimos dez anos, temos distribuído 100% do lucro”. No período de 1999 a 2008, pelo regime de caixa, a Souza Cruz pagou o montante de R$ 7,8 bilhões.

Boa remuneração e crescimento, mesmo diante de um cenário de crise, são o mundo perfeito para um investidor —, ainda que ele já esteja acostumado aos solavancos mal-humorados do mercado. Um ingrediente a mais faz a diferença no caso da Souza Cruz: a companhia fundada por um imigrante português, nos idos de 1900, atua em todo o ciclo da cadeia produtiva, desde a fabricação e o processamento de fumo até a distribuição de cigarros (atendendo diretamente mais de 225 mil pontos de venda). Sediada no Rio e sob o sólido guarda-chuva da British American Tobacco — um dos maiores grupos de tabaco do mundo —, a companhia tem a vantagem de operar e liderar o setor na praça verde e amarela.

O Brasil é o segundo maior produtor de tabaco do mundo e, há 15 anos, segue imune na liderança da exportação global de fumo. Mais de 80% do fumo produzido no País — nos três estados do Sul e, em especial, no território gaúcho — são exportados. Apesar de um pequeno recuo (2,4%) em relação ao desempenho recorde de 2007, o país embarcou 688 mil toneladas em 2008, segundo o Ministério da Agricultura. E, melhor que isso, o faturamento do setor cresceu 22%, na mesma base de comparação, somando US$ 2,7 bilhões. A Souza Cruz acompanhou o ritmo do segmento. Baixou as cortinas de 2008 com lucro líquido de R$ 1,2 bilhão, alta de 20,9% sobre o ganho apurado em 2007 — segundo o balanço consolidado da companhia, que segue as regras do padrão contábil internacional IFRS, conforme foi autorizado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

A receita líquida de vendas somou R$ 5,3 bilhões no ano passado, 9,4% acima do registrado em 2007. Já o lucro operacional, antes do resultado financeiro, cresceu 22,5%, para R$ 1,6 bilhão. Embora tenha aumentado as vendas, a Souza Cruz vendeu um pouquinho a menos de cigarro no ano passado: queda de 0,3%, comercializando 78,6 bilhões de unidades. Ainda assim, as vendas da companhia recuaram menos que as do mercado, que apresentou retração de 2,3% em 2008, para um total de 126,5 bilhões de cigarros. Acredita-se que o brasileiro tenha fumado menos, sobretudo em razão de um aumento médio de 11% nos preços do produto. As fabricantes salgaram o valor para compensar a elevação média de 30% das alíquotas do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) ocorrida em julho de 2007, de acordo com o relatório da Souza Cruz.

O balanço recém-publicado cutuca, com elegância, a alta carga tributária, alegando que o peso dos tributos alimenta a expansão do mercado informal de cigarros. “Em que pese o progresso obtido pelas autoridades brasileiras, o mercado ilegal de cigarros no Brasil, compreendido pelo contrabando e pela comercialização sem o pagamento de todos os tributos, ainda representa 28% do mercado brasileiro de cigarros.” A Souza Cruz, em contrapartida, diz mais à frente o relatório, posiciona-se entre os dez maiores contribuintes do Brasil, gerando tributos sobre as vendas de R$ 5,7 bilhões em 2008 — alta de 2,4% em comparação com o ano anterior.

Impedida pela legislação de “aparecer” na telinha com comerciais, como qualquer fabricante de cigarros, a Souza Cruz adota um marketing criativo. No ano passado, as ações foram voltadas ao segmento “premium”. Lançou, experimentalmente, um programa batizado de “Carlton by Dunhill”, para avaliar a receptividade do consumidor diante da fusão das duas marcas. Quer aproveitar o prestígio da Dunhill, uma etiqueta internacional e presente em mais de cem países. Ao que consta, os fregueses, tanto os que aplicaram na bolsa quanto os que apostam no maço, apreciaram as investidas da companhia. Dona de um dos mais importantes e conhecidos portfólios do País — com marcas como Free, Hollywood, Lucky Strike e Derby —, a fabricante conseguiu ganhar 1,2% de participação de mercado num segmento em que já é líder. Nos pregões, os papéis fecharam fevereiro ao preço de R$ 48, uma valorização 2,56%, ante 1,69% do Ibovespa.

Para Luis Rapparini, a Souza Cruz (“que, em abril, completa 106 anos”) é reconhecida por sua governança corporativa. Desde que abriu o capital, em 1946, foi uma das três empresas que permaneceram no Ibovespa sem nenhuma interrupção em todo esse tempo. “É uma companhia que entrega resultado para o acionista.” Num período de dez anos, o valor de mercado da Souza Cruz teve crescimento de 230% — de R$ 4,1 bilhões, em 1999, para R$ 13,5 bilhões, em 2008.

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