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Chance de recuperar
Demanda por ativos de maior risco e recursos “sobrando” após a consolidação dos bancos podem agitar os negócios das gestoras independentes

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Depois do baque de 2009, quando começaram o ano com patrimônios reduzidos por uma súbita desvalorização de ativos e pesados saques de investidores ávidos por liquidez, os gestores de recursos independentes tiveram um reveillon bem mais animado. A busca por retornos polpudos voltou a ganhar espaço, conduzindo uma parcela importante dos recursos disponíveis no mercado para a indústria de fundos, especialmente para os produtos mais sofisticados. Além disso, para 2010, o mercado espera assistir a uma crescente pulverização de recursos entre os gestores — o que, se confirmado, será um importante ponto a favor das “assets” que estão fora do guarda-chuva dos bancos.

, Chance de recuperar, Capital AbertoO processo é resultado dos movimentos de consolidação. Itaú e Unibanco viraram um só, assim como fizeram as duplas Santander /Banco Real e Banco do Brasil/Nossa Caixa, tornando os recursos sob gestão ainda mais concentrados. Em outubro de 2007, segundo dados coletados pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), os cinco maiores gestores brasileiros abrigavam 55,5% dos recursos da indústria de fundos. No mesmo período de 2009, essa participação já era de 66,8%, num total de R$ 1,304 trilhão. Isso significa mais concentração também no portfólio dos investidores que aplicam nos fundos dessas , Chance de recuperar, Capital Abertoinstituições. Quem tinha uma parcela de recursos em produtos do Itaú e outra com o Unibanco, por exemplo, agora tem todo esse dinheiro aos cuidados de um único gestor, o que pode parecer um tanto arriscado para quem tem como filosofia diversificar sempre — como os fundos de pensão, por exemplo. Surgem aí oportunidades de ouro para outros gestores, e os independentes estão de olho nelas.

Eles acreditam que têm boas chances de levar um naco desse dinheiro que vai “sobrar” por algumas razões. Uma delas é a atual taxa básica de juros, localizada no menor patamar da história. A expectativa é de alta até o fim do ano, com manutenção da tendência de baixa no longo prazo, mas há poucas dúvidas de que o destino dos investidores é a busca crescente por ativos de maior risco — exatamente o que os investidores independentes têm para oferecer. Eles também se beneficiam de uma nova percepção de risco advinda da crise. Até a quebradeira de nomes importantes de Wall Street, a noção de segurança estava essencialmente atrelada às instituições de grande porte. Atualmente, ser grande não significa ser mais confiável.

Atualmente, ser um gestor de grande porte não significa necessariamenteser mais confiável

Mas ser independente também não significará ter uma vida fácil, e esses gestores estão cientes disso. O seu modelo de negócios está cada vez mais desafiador. Quem se deu bem nesse segmento nos últimos anos foram as gestoras enxutas, com baixo custo operacional e tocadas por um grupo de sócios oriundos de grandes instituições — mas os prognósticos indicam que esse desenho será cada vez menos possível. “É muito mais caro ser um gestor hoje”, comenta Paulo Veiga, diretor da Mercatto Gestão de Recursos.

Ele conta que quando iniciou as atividades da Mercatto, na década de 1990, precisou apenas da sua indicação como diretor responsável e mais 30 dias para que a CVM concedesse o registro. Recentemente, para dar o ponto de partida no braço de private equity da gestora, as exigências foram muito maiores — vão desde a apresentação de currículo de todos os tomadores de decisão até as políticas de compliance e risco. “Isso mostra como a estrutura ficou complexa e repleta de áreas que são geradoras de custo”, observa. A valorização do passe de profissionais de análise e vendas também vem contribuindo significativamente para esse aumento. “Os salários estão cinco ou seis vezes mais caros do que alguns anos atrás”, afirma Walter Maciel, da Quest Investimentos.

DESTINO E OPORTUNIDADE — Nesse contexto, exibir um patrimônio robusto torna-se fator de sobrevivência, e as consolidações passam a ser um caminho natural. Em setembro passado, Arsenal e Gávea uniram suas áreas de gestão. Um mês depois foi a vez de Mauá e Sekular também anunciarem uma fusão. “O mercado não comporta tanta gente. Uns provam que podem ficar, outros se juntam”, observa Veiga. Ele confirma que a própria Mercatto tem sido assediada por outras casas. Nenhuma das sondagens foi adiante por enquanto, mas Veiga reconhece que as propostas são boas e merecem ser levadas a sério.

Para recuperar margens de lucro, uma das soluções é ganhar novos nichos e ampliar a escala de recursos administrados

As fusões representam destino para alguns e oportunidade para outros. “Quanto mais consolidação, melhor para nós”, afirma Charles Aboulafia, da CAinvest, que enxerga um espaço promissor para continuar pequeno — um modelo que prefere chamar de “butique”. Seu objetivo é atrair clientes altamente qualificados através de produtos que não estejam no portfólio de outras instituições. Por isso, quanto mais os concorrentes se unirem para ganhar musculatura, maior será a percepção de valor sobre o diferencial de seus fundos, acredita Aboulafia.

O fundo mais antigo da CAinvest é o Opportunity Fund, que reabrirá para captações em julho — e, apesar do nome, não tem nenhuma relação com a Opportunity Asset, do empresário Daniel Dantas. Sua especialidade é comprar cotas de hedge funds no mercado secundário, uma prática ainda não usual no mercado de fundos do Brasil. A aplicação se beneficia da necessidade de liquidez de investidores que comprometeram capital em fundos com longos prazos de carência e de resgate, mas não poderão cumpri-los. A estratégia representou uma importante porta de saída durante a crise financeira e até hoje se beneficia do abalo. O outro fundo de Aboulafia é o Debt Fund, que começa o ano captando recursos e aplica especificamente em eurobônus emitidos por companhias brasileiras. “Os bancos atuam com os mesmos produtos e estratégias, esse é o campo em que os brasileiros ficam mais à vontade. Mas como o País foi um dos que menos apanhou na crise, há disposição do investidor em alocações de maior risco”, completa o gestor.

ANO DE CAUTELA — Quem está do outro lado do segmento, o das gestoras maiores, também precisará arregaçar as mangas. Quem ganhou mercado no pós-crise, com a derrocada de alguns independentes, tem agora a tarefa de manter essa clientela. “Conquistamos investidores em todos os segmentos, especialmente o corporativo e o varejo de alta renda que deixaram as casas de gestão de menor porte”, conta Carlos Takahashi, presidente da BB DTVM. “Vamos caminhar para a diversificação. Quem oferecer isso terá uma vantagem competitiva”, completa o executivo, que aposta em investimentos de prazo maior, como o crédito privado.

Outro desafio deste ano será recuperar as margens de lucro. Com a simplificação das estratégias para reduzir o risco em 2009, as taxas de administração também caíram, adaptadas ao novo perfil dos produtos. Uma das soluções é ganhar novos nichos de mercado para ampliar a escala de recursos administrados. A Modal Asset é uma das que apostam nisso. Está de olho nos R$ 45 bilhões que os fundos de pensão de estados e municípios têm em caixa e que, até então, praticamente só conheciam os títulos públicos. “São fundos novos, com entrada de recursos que supera o pagamento de benefícios”, diz Alexandre Póvoa, diretor de investimentos da Modal.

Lançar produtos novos, com maior risco, também é uma estratégia. A Bradesco Asset Management (Bram), gestora com R$ 172,9 bilhões em patrimônio e forte concentração em renda fixa (R$ 162,7 bilhões), tem novidades a caminho. “Estamos analisando o lançamento de um fundo imobiliário”, conta Denise Pavarina, diretora superintendente da asset. A Modal planeja lançar, ainda neste trimestre, seu primeiro fundo de previdência, na modalidade PGBL. A meta é manter o viés agressivo de gestão para se diferenciar dos produtos já oferecidos pelo mercado.

Este será também um ano de lidar com períodos de volatilidade. “Se fosse definir o que é preciso para ser um bom gestor em 2010, diria criatividade e velocidade”, diz Denise, da Bram. Victor Hugo, sócio da gestora Opus, lembra que haverá eleições presidenciais no segundo semestre deste ano. Além disso, o fato de existir um número menor de opções de ativos, especialmente em bolsa de valores, pode dar um trabalho adicional. “No ano passado, o leque de oportunidades era muito maior. Tinha empresa sendo negociada, inclusive, abaixo do valor de caixa”, diz André Vainer, da XP Investimentos. “Temos menos espaço para erros agora”, resume.


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