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Captações à vista
As empresas que despontam como as mais fortes candidatas a levantar recursos com ações e debêntures em 2010

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No dia 15 de dezembro de 2009, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) recebeu o pedido de registro de oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) da Multiplus Fidelidade. A companhia, responsável pelos programas de benefícios a clientes e milhagem da aérea TAM, se uniu à Aliansce Shopping Centers e à International Meal Company Holdings (IMC), empresas que mantinham emissões de ações sob a análise do regulador até o dia 21 do mês passado. A Aliansce é uma administradora de shopping centers que quer reforçar seus negócios e seguir o caminho trilhado no mercado de capitais pelas rivais BR Malls, Iguatemi, Multiplan e General Shopping. A International Meal Company Holdings (IMC) integra essa indústria por meio da rede de restaurantes Viena, além de deter outras marcas como Frango Assado e Brunella e fornecer refeições para hotéis e aeroportos. Em comum, fora o fato de quererem estrear na Bolsa, as três têm o foco no varejo — um dos setores que devem dar a tônica dos IPOs deste ano.

As captações virão no embalo de números animadores do consumo interno. A pesquisa mensal do comércio (PMC) de outubro, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela que, no acumulado de janeiro a outubro de 2009, as vendas no varejo subiram 5,1%, puxadas pelos setores de hiper e supermercados, em comparação aos dez primeiros meses do ano anterior. O coordenador da pesquisa, Reinaldo Pereira, disse que as vendas em 2010 poderão ter um ritmo semelhante ao do ano de 2008, quando o aumento foi de 8,1%.

O otimismo vem acompanhado por uma boa dose de cautela. O ambiente externo ainda não apresentou sinais consistentes de recuperação, particularmente os Estados Unidos. O epicentro da crise global terá de atravessar 2010 lidando com uma imensa dívida pública, inchada pelos gastos com medidas anticrise e uma alta taxa de desemprego. “Se o déficit continuar aumentando e o desemprego não diminuir, os grandes investidores tenderão a migrar para os títulos de dívida pública, os treasuries, em detrimento das ações de empresas de emergentes como o Brasil”, diz Silvio Campos, economista-chefe do Banco Schahin. Preocupa ainda como o mundo reagirá à retirada dos estímulos econômicos e também como a China — maior consumidora global de commodities e principal exportadora de bens acabados — lidará com o caminhar cambaleante de seus compradores, sobretudo os Estados Unidos e a Europa.

Mercado de capitais tende a ser mais ativo no primeiro semestre e a perder fôlego depois, quando os juros subirem

Uma mostra desse clima de incerteza é a IMC, que em 18 de dezembro anunciou o adiamento de sua oferta. Naquele dia, sairia o valor final da operação, proposto na faixa de R$ 14 a R$ 17 por ação. A companhia colocou à venda 50 milhões de papéis na oferta primária e 7,14 milhões na secundária. Mas, alegando conjunturas nacional e internacional desfavoráveis, preferiu postergar as distribuições. Em comunicado oficial à CVM, adiou o pedido de registro de seu IPO e afirmou que, em 2010, “o mercado será monitorado de forma que seja avaliado o melhor momento de ingresso à bolsa”.

Um fator que deixou os investidores ressabiados foi a falta de informações sobre a postulante. A IMC é pouco conhecida, diz Peter Ping Ho, chefe de pesquisa da Brava Investimentos. “Empresas como a IMC poderiam adotar uma estratégia de divulgação de resultados ou de práticas de gestão, mesmo quando ainda têm o capital fechado”, comenta. Apesar disso, Ho identifica um forte apetite por IPOs de varejo e consumo.

Há uma ampla gama de empresas ligadas ao consumo de bens e serviços que terão boas oportunidades para reforçar o caixa com captações públicas e pegar carona no crescimento econômico. Companhias como Magazine Luiza e Azul Linhas Aéreas se encaixam nesse quadro, observa o estrategista-chefe de renda variável do Banco do Brasil Banco de Investimentos (BB-BI), Hamilton Moreira Alves. “Um sinal da força desse segmento são as consolidações, como a que ocorreu com a Casas Bahia (adquirida pelo Grupo Pão de Açúcar no início de dezembro)”, diz. Dentre as companhias com perfil consolidador, ele cita a Diagnósticos da América (Dasa), de serviços de saúde, e a Hypermarcas, que tem uma sobra de caixa de R$ 500 milhões e um interesse declarado por novas marcas.

ESPAÇO PARA MENORES — Ao contrário dos IPOs bilionários de 2009, as ofertas deste ano não serão necessariamente de grande porte. “Vai haver espaço para a redução do tamanho das operações”, prevê Alberto Kiraly, vice-presidente da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Emissões que se situem num intervalo entre R$ 600 milhões a R$ 800 milhões teriam condições de atrair os investidores. No escritório Machado, Meyer, Sendacz e Opice, as operações em gestação variam de R$ 600 milhões a R$ 3 bilhões, segundo o sócio Carlos Motta. Estão na lista emissões de companhias das indústrias de commodities, varejo e serviços.

O setor de infraestrutura também alimenta boas expectativas. Empresas ligadas à cadeia da construção civil e prestadoras de serviços de transporte e logística são candidatas naturais aos IPOs, em função das obras públicas em andamento e da expansão do número de moradias populares. Com prognósticos tão favoráveis, e desconsideradas as más notícias que possam vir do exterior, o volume de ações emitido no ano deve superar o de 2009, que ficou em R$ 32 bilhões. Na firma de auditoria Deloitte, cerca de 20 empresas se preparam para abrir o capital. “Esperamos várias captações logo neste primeiro semestre, que vão prover recursos para companhias em busca de consolidação”, diz José Paulo Rocha, sócio líder da área de corporate finance da Deloitte.

Para os analistas, a tendência é de que o mercado de capitais seja mais ativo no primeiro semestre e perca o fôlego posteriormente. Alves, do BB-BI, por exemplo, projeta um Ibovespa de 78 mil pontos para o fim de junho, um salto de 16,3% ante o fechamento do pregão em 17 de dezembro de 2009. No fim do ano, o índice alcançaria os 85 mil, apenas 8,97% maior que o Ibovespa de seis meses antes. Influi nesse cálculo a expectativa de uma elevação da taxa de juros no segundo semestre, que deve aumentar a atratividade das aplicações em renda fixa. De acordo com o Boletim Focus do Banco Central divulgado em 11 de dezembro, a Selic projetada para o fim de 2010 é 10,75%, dois pontos percentuais acima do juro de dezembro de 2009.

EMISSÕES DE DÍVIDA — Companhias com planos de expansão menos ambiciosos também devem encontrar um mercado receptivo para emissões de dívida mais longas em 2010. Os prazos de emissões de debêntures prometem se estender da média de três anos, praticada no ano passado, para cinco ou seis, diz o vice-presidente da Anbima, Alberto Kiraly. Bastante acessadas no primeiro semestre, o período mais conturbado de 2009, as notas promissórias não devem manter em 2010 o mesmo ritmo de captações. Com prazos de vencimento em torno de 180 dias, o instrumento deixou de ser uma alternativa interessante em um ambiente de estabilidade. As notas promissórias serviram mais como cobertura de passivos de curto prazo, comenta Alves, do BB-BI. “Agora que as coisas começam a retornar à normalidade, é natural que esse instrumento seja preterido, e que os emissores se voltem mais às debêntures”, diz Arthur Piotto, diretor de relações com investidores (RI) da Companhia de Concessões Rodoviárias (CCR).

A CCR está aproveitando a maior disposição dos investidores institucionais em alocar recursos em dívida corporativa. No fim de julho de 2009, a companhia aprovou duas séries de emissões. A primeira totalizou R$ 448,15 milhões a uma remuneração de 112% da taxa interbancária (CDI), com vencimento em 2012; a segunda, de R$ 150 milhões, à taxa fixa de 7,5% ao ano mais variação do IPCA, expirando em 2014. Em dezembro, a CCR emitiu outros R$ 250 milhões com um prazo de resgate ainda maior: 2016. “Temos percebido interesse por prazos de até dez anos, o que vem ao encontro das nossas necessidades”, comenta Piotto.

A rentabilidade maior das debêntures em relação a outros instrumentos de renda fixa, como os certificados de depósitos bancários (CDB) e os títulos de dívida pública, é um atrativo poderoso. Isso tem chamado cada vez mais a atenção, inclusive, dos grandes aplicadores pessoa física, que somaram 5,5% de participação nesse mercado em 2009. A Anbima, por sua vez, tem tentado combater a persistente falta de liquidez das debêntures. Em novembro, apresentou o projeto de criação de um índice de rentabilidade de debêntures, com a intenção de ajudar a divulgar o produto. Em 2009, a Andima (antes de se fundir com a Anbid e se tornar a Anbima) foi a Brasília pedir a extensão às debêntures do mesmo benefício fiscal concedido às aplicações em dívida pública. Os estrangeiros são isentos de tributação nos ganhos com títulos do governo.

As ofertas públicas de letras financeiras — novo tipo de título de dívida que funciona como uma espécie de debêntures para os bancos — são aguardadas como uma das principais novidades do ano. Alfredo Moraes, vice-presidente da Anbima, espera ver a primeira emissão dessa modalidade até fevereiro, e outras mais a partir do segundo trimestre. O mercado de dívida privada tem tudo para ser animado neste ano. A CVM computou 20 ofertas de debêntures registradas e dispensadas de registro em 2009, que somaram R$ 10,8 bilhões. O movimento é quase quatro vezes menor que o de 2008, quando foram realizadas 36 ofertas, num total de R$ 40 bilhões.


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