Foram seis meses, entre a decisão tomada pelos gestores em São Paulo e a dispersão dos títulos de dívida em Santiago para que o Banco Pine pudesse se tornar a primeira companhia brasileira a desbravar o cobiçado mercado de crédito chileno. O pioneirismo do banco foi concretizado em dezembro do ano passado, com uma oferta equivalente a US$ 72 milhões em huaso bonds, título semelhante à debênture e idealizado para companhias estrangeiras interessadas em acessar os robustos investidores institucionais chilenos.
No ano de 2011, mudanças na regulação chilena facilitaram a captação de recursos por instituições, empresas e governos estrangeiros naquele país. A Superintendencia de Valores y Seguros (SVS, a equivalente chilena da Comissão de Valores Mobiliários) permitiu, inclusive, que empresas fechadas em seus países de origem acessassem o mercado por meio dos huasos.
Mas diante da baixa procura inicial — até meados de fevereiro de 2012, apenas o Pine e mais três instituições haviam utilizado o instrumento —, o Ministério da Fazenda local enviou ao Congresso novas regras para emissão dos huasos. Uma delas desobrigava os emissores estrangeiros a traduzirem para o espanhol suas informações corporativas, inclusive as financeiras. A razão para tanta facilidade é o descompasso entre as ofertas nos mercados de ações e dívida chilenos. Os ativos locais também já não são suficientes para abrigar a enorme montanha de dinheiro administrada pelos investidores institucionais do Chile, país conhecido por seu sistema basicamente privado de previdência e por restrições de investimento dos lucros do cobre — o maior produto chileno — em empresas locais.
O Pine usará os recursos captados para a concessão de capital de giro e em operações de hedge para a clientela, a maioria formada por empresas com mais de R$ 500 milhões de faturamento. A duração dos huasos, de cinco anos, é considerada longa para o mercado de dívida brasileiro. “No Chile, entretanto, esse é o prazo para uma companhia novata. Será possível estendê-lo nas ofertas futuras”, afirma Norberto Zaiet Júnior, vice-presidente de negócios do Pine.
Segundo o executivo, já estão programadas novas expedições ao mercado de dívida chileno. O Pine tem autorização para ofertar mais US$ 210 milhões em huasos. Há a expectativa de que a remuneração nas ofertas futuras recue em relação à primeira, que ficou em 6%.
Em tradução livre, huaso significa, no Chile, forasteiro, alguém que chega de outras localidades e possui hábitos diferentes — um papel familiar ao Pine, que possui intimidade na captação de recursos em outros países. “Foi mais um passo na diversificação de funding do banco”, destaca Zaiet Júnior.
Em 2012, o Pine captou US$ 37,5 milhões no mercado islâmico. Foi a segunda vez que um banco com controle brasileiro usou o murabaha, uma espécie de empréstimo sindicalizado. O pioneiro foi o próprio Pine que, um ano antes, havia feito operação idêntica. Com lastro em contratos de commodities do banco, o murabaha é um dos poucos instrumentos financeiros que se adaptam à sharia — restrito conjunto de leis islâmicas que proíbe algumas práticas comuns ao Ocidente, como a cobrança de juros. Ao final do prazo, o Pine remunera o empréstimo pagando a valorização dos contratos empenhados.
A estratégia está em linha com o cenário atual. Dragada pela crise no BVA, instituição interditada pelo Banco Central brasileiro em outubro do ano passado, a confiança dos investidores nos bancos médios diminuía, o que levou o Pine a acessar seus canais no exterior para fortalecer o caixa. A instituição encerrou 2012 com R$ 1,8 bilhão disponível, o equivalente a 50% dos depósitos a prazo.
André Riva, analista da filial brasileira da corretora mexicana GBM, acredita que a série de captações internacionais do Pine provoca um efeito secundário interessante ao banco. “Ele está se tornando mais conhecido internacionalmente. Vejo isso como uma forma de melhorar, também, a liquidez do papel”, afirma, lembrando que as ações do banco na bolsa ainda são pouco negociadas. Em fevereiro, o Pine anunciou um aumento de capital de até R$ 86 milhões para a entrada da instituição de fomento francesa Proparco, disposta a comprar R$ 27 milhões em ações do banco. Como se vê, os voos do Pine no exterior estão despertando a atenção e o apetite dos investidores estrangeiros.
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