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Diante da nova 476, profissionais traçam perspectivas para ofertas de ações

, Vai melhorar, Capital AbertoO ano de 2014 foi pouco profícuo para as ofertas de ações. Houve apenas um IPO e um follow-on. O marasmo lembra a década de 1990, quando o empresário brasileiro não queria saber de abrir o capital. A história agora se repete, embora não com as mesmas motivações. Incertezas econômicas e políticas afastam as companhias do mercado. Neste ano, nenhuma emissão ocorreu, e quem pretendia se arriscar a fazê-lo desistiu. Como pano de fundo, porém, há o benefício da Instrução 476 para ações, que permite ofertas mais ágeis. Além disso, o cenário de liquidez internacional e de ajuste dos preços internos tende a viabilizar novos negócios assim que boas notícias surgirem. Para discutir os prognósticos para ofertas de ações em 2015, a capital aberto realizou, em março, a 13ª edição de seu Círculo de Debates. Confira os melhores trechos a seguir.

vai-melhorar1CAPITAL ABERTO: Entre fevereiro e março, a JBS Foods e a Ouro Verde cancelaram seus IPOs. Em análise na CVM, há as ofertas da Par Corretora de Seguros e da Telefônica Brasil. Diante desse cenário, qual é a perspectiva para emissões de ações em 2015?

Carolina Lacerda: O Brasil vem de um ano parado devido a uma série de desculpas como Copa do Mundo e eleições — acima de tudo, um período marcado por incertezas. O que tem impedido as ofertas não é a questão de preço ou janela, mas a crise de credibilidade do País. O investidor simplesmente não tem confiança para adquirir ações brasileiras. Hoje, outros países da América Latina, como Peru e Colômbia, estão se mostrando mais atrativos para o investidor estrangeiro que o Brasil. Infelizmente, nós dependemos desse comprador para as ofertas ocorrerem. Em função do cenário macroeconômico e político atual, acho difícil termos ofertas de ações no primeiro semestre. Talvez uma janela se abra em setembro, se as coisas se estabilizarem. O que há por ora é o movimento contrário, de companhias saindo da bolsa [leia matéria “Hora do adeus”].

Marcelo Sobreira: Eu concordo. As empresas que cancelaram ou suspenderam suas ofertas estão preparadas para acessar o mercado, mas a questão é resgatar a confiança do investidor. Uma boa notícia é a ampliação da Instrução 476 da CVM para ações. A flexibilidade trazida pela norma pode fomentar IPOs e follow-ons.

vai-melhorar3Rogério Andrade: No período pré-eleitoral, tínhamos várias operações engatilhadas. Mas, depois do resultado, o mercado silenciou. O telefone parou de tocar. Conversando com os nossos clientes, percebemos um retrocesso. Nos roadshows de 2001 e 2002, as empresas tinham que explicar primeiro quem era o Brasil para, depois, vender sua ação. Com o tempo, o País foi ganhando credibilidade e esse tipo de explicação se tornou desnecessária. As companhias, finalmente, podiam se concentrar em falar de seu negócio. Hoje, o tema Brasil voltou à mesa. O investidor diz: “Eu gosto muito do papel, eu gosto da companhia, mas nesse momento de instabilidade eu não estou comprando Brasil.” É simples assim. Nas últimas semanas, contudo, algumas companhias voltaram a nos procurar. Estamos conversando com cerca de seis interessadas em fazer uma oferta ainda este ano, a depender das condições de mercado. Algumas querem entender como é se listar no Brasil e nos Estados Unidos; outras, como é fazer a listagem de uma empresa brasileira com holding na Holanda, ou em qualquer outro país, diretamente nos Estados Unidos. E isso por um motivo: elas querem atrair os investidores internacionais mostrando que se submetem às regras de governança da Securities and Exchange Commission (SEC).

Pedro Guimarães: Para mim, esses momentos de crise são uma grande oportunidade para promovermos mudanças. Há dois anos, quando a bolsa estava abaixo do nível atual, foi feita a oferta da BB Seguridade. Uma operação de R$ 11,4 bilhões, com demanda absurda. Nos últimos meses, a seguradora chegou a valer mais do que o Banco do Brasil, apesar de seu lucro ser 20% inferior. Essa operação, para mim, é exatamente o que deveria ser feito agora. Você pega a franquia de uma grande instituição financeira, como o Banco do Brasil, e leva a mercado. Em época de taxas de juros e, particularmente, de inflação alta, os grandes vencedores são os bancos, as seguradoras e as operadoras de cartões.

CAPITAL ABERTO: O governo manifestou interesse em abrir o capital da Caixa Seguros. Haveria apetite por uma companhia que tem um banco estatal entre seus principais acionistas?

Pedro Guimarães: Não tenho dúvida de que choveria investidor para uma oferta da Caixa Seguros ou da Caixa Cartão de Crédito. Afinal, quantos bancos brasileiros têm a capilaridade da Caixa Econômica Federal? O desafio é a governança. Por que a BB Seguridade vale tanto? Porque, além de ser controlada pelo maior banco do hemisfério sul, o mercado confia em sua governança. Para mim, o IPO da BB Cartões deveria ter sido feito anteontem. Seria uma operação maior que a da BB Seguridade. A mesma coisa, a Caixa Econômica Federal. Além do mais, os bancos precisam de capital. Bradesco, Itaú e Banco do Brasil não têm capital para a Basileia III [acordo internacional que obriga os bancos a ampliar suas reservas como proteção anticrise] em 2018. Também acredito que, no segundo semestre, teremos o IPO da BR Distribuidora por um valor alto. Se há um ativo que vale ouro dentro da Petrobras, é ela.

Mauro Guizeline: Acho ótimo o ânimo do Pedro, mas, como a Carolina e o Rogério mencionaram, o Brasil passa por uma crise de credibilidade. Se o País perder o grau de investimento, sairá do time de primeira linha. Passará a disputar um volume muito menor de crédito, com spread [diferença entre a taxa de juro que o credor paga para captar e a que cobra para emprestar] bem mais alto. Essa é, obviamente, uma grande preocupação. Considerando o cenário atual, vejo um movimento não de ofertas públicas se concretizando, mas de fundos de private equity olhando alguns segmentos nos quais os ativos estão baratos. Naturalmente, esses fundos podem ser alavancadores de IPOs quando a janela se abrir.

Carolina Lacerda: Os private equities estão com apetite. Como eles captam em dólar, o momento é propício para comprarem ativos. Este é, sem dúvida, o ano do M&A [fusões e aquisições]. Concordo com o Pedro em que algumas ofertas grandes devem sair em 2015 por necessidade. É o caso da BR Distribuidora. Há também construtoras e empreiteiras em dificuldade, porém com bons ativos que interessam aos estrangeiros.

vai-melhorar2Marcelo Sobreira: Nessa linha dos private equities, vale destacar que tê-los como investidores âncoras favorece o sucesso da oferta de ações. No IPO da Smiles [que teve como âncora a General Atlantic], houve demanda de mais de sete vezes o livro, e a oferta saiu dentro da faixa de preço. No ano passado, a oferta inicial da Ourofino também contou com essa figura [o âncora foi novamente a General Atlantic]. Então, o ponto é: com uma boa história para contar, é possível ter o investidor âncora, que atrairá outros investidores.

CAPITAL ABERTO: Na visão de vocês, quanto o momento atual estaria destruindo a credibilidade do País e tornando o custo de oportunidade de investir no Brasil alto demais?

Pedro Guimarães: De fato, o investidor externo não está bem-humorado com o Brasil. Você vê, por exemplo, os bancos na Colômbia serem negociados a 16, 17, 18 vezes o lucro; e o Bradesco e o Itaú a 9, 10 vezes. É ridículo. Mas por que isso está acontecendo? Porque as pessoas preferem comprar Colômbia, Peru, México, Chile. Esses países fizeram seu dever de casa de governança; o Brasil, não. Mas eu tenho convicção de que a crise atual levará o País a passar por mudanças, dando espaço a coisas impensáveis. Alguém imaginaria o governo atual aceitando vender grandes ativos da Petrobras ou abrindo o capital da Caixa Econômica? Para mim, tanto os Correios como o Banco Central e o BNDES deveriam ter capital aberto. Como pode o BNDES financiar bilhões de reais por ano e a população não ter transparência sobre esses empréstimos?

Carolina Lacerda: Se o humor com o Brasil não é favorável, isso pode melhorar com um pouquinho de boa notícia. Já ajudaria muito. Diante da desconfiança, somente as companhias que tiverem histórico vão conseguir lançar ofertas este ano. Vai ser muito difícil uma empresa com um projeto no Power Point [pré-operacional] encontrar espaço. Essa seletividade, no entanto, é benéfica, pois garante que boas empresas acessarão o mercado.

vai-melhorar4Pedro Guimarães: Quando há momentos de estresse, é natural o investidor ficar mais seletivo. Eu lembro que, em 2013, foi feita uma oferta que tinha uma coisa maluca [a Biosev ofereceu ao investidor a possibilidade de vender suas ações de volta ao controlador após um prazo de 15 meses, pelo preço pago na oferta caso a cotação fosse inferior a certo patamar]. Para mim, a CVM não deveria ter aprovado essa estrutura. Quando a companhia começa a fazer muita ginástica para vender ações, é porque não deveria ir a mercado. Esse tipo de coisa, ao meu ver, tira a credibilidade do mercado de capitais brasileiro.

CAPITAL ABERTO: No início dos anos 2000, quando ainda não havia IPO no Brasil e se tentavam entender os motivos, a resposta era muito simples: as ofertas não ocorriam porque as empresas não queriam investir e, portanto, não precisavam acessar o mercado para se capitalizar. Quanto vocês acreditam que esse tipo de movimento pode estar acontecendo novamente?

Mauro Guizeline: É o que a gente vê no dia a dia com o cliente. Quando há um esforço muito grande em reduzir o endividamento, naturalmente os investimentos ficam para segundo plano. Está todo mundo em compasso de espera.

Rogério Andrade: Há muitos segmentos que precisam investir, como o de infraestrutura. O Brasil tem muita coisa para fazer nessa área. Só que aí entra em jogo o marco regulatório. Qual será a regra? O governo vai mudá-la no meio, como fez no setor elétrico?

Marcelo Sobreira: Concordo com o Rogério. Outra questão a ser ponderada diz respeito a crescimento e investimento. As empresas podem crescer orgânica ou inorganicamente. Isso traz a questão do uso dos recursos: é fundamental estar claríssimo para o investidor qual será o emprego do dinheiro obtido numa oferta. Para crescimento, aquisições ou reestruturação de dívida?

CAPITAL ABERTO: Para finalizar, seria interessante vocês comentarem suas perspectivas em relação à conjuntura econômica e política atual.

Pedro Guimarães: Eu prefiro viver um período turbulento como este e colocar a casa em ordem a passar mais cinco anos com a economia crescendo zero. O Brasil precisa passar por ajustes muito fortes; o momento de fazê-los é agora. Se a tarifa elétrica precisa subir 50%, que suba. Se a Petrobras precisa reconhecer R$ 30 bilhões ou R$ 90 bilhões de problemas em seu balanço, que reconheça. O número não ser crível é o pior dos mundos.

Rogério Andrade: Eu concordo com o Pedro e só espero que, democraticamente, a gente mude daqui a quatro anos. Porque meu medo é acontecer tudo isso e ficarmos na mesma.

vai-melhorar5Mauro Guizeline: O Brasil passa por uma crise política sem precedentes. Temos uma presidente que conseguiu errar tanto que nem o partido ao qual pertence a está apoiando. As perspectivas são complicadas do ponto de vista político, o que se reflete na economia.

Carolina Lacerda: Eu comecei o debate falando um pouco do apocalipse atual, mas a crise traz oportunidades, como o Pedro disse. Um dos grandes limitadores das operações de M&A em anos anteriores era a expectativa muito alta de preço dos vendedores. Isso está mudando. Acredito que daqui a dois ou três anos as coisas podem estar melhores. O investidor, como observei, só estão esperando boas notícias para investir no País.

Marcelo Sobreira: Eu também prefiro olhar a parte cheia do copo. Em relação à conjuntura, há muita liquidez no mercado internacional. A Instrução 476 para ações abre oportunidades e diversos setores têm registrado bom crescimento. Saúde animal é um setor que não existia em bolsa e agora existe. É com essa sustentação positiva que estamos construindo o pipeline de ofertas para 2015. E para os anos seguintes também.


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