Tempo bom?
O mercado tem tudo para ser agitado em 2012. Só falta saber se a Europa vai deixar

, Tempo bom?, Capital Aberto

O ano não foi propício para quem queria ofertar ações. As 23 que conseguiram o feito em 2011 levantaram um total de R$ 19 bilhões, entre distribuições iniciais e subsequentes, o menor volume desde 2006. Foram 11 aberturas de capital, sendo dez no primeiro semestre e uma no segundo — a da Abril Educação, em julho, a última a encontrar a janela aberta para estrear —, e 12 emissões de empresas já listadas. Um inverno longo, provocado pela tormenta europeia, que deixou represada uma fila de empresas à espera da oportunidade certa para ingressar na Bolsa. Se a crise arrefecer e o apetite por risco dos investidores voltar, haverá entre 15 e 20 empresas de setores variados, com destaque para os voltados ao mercado interno, a postos para abrir o capital, segundo estimativas do Bradesco BBI e do escritório de advocacia Machado Meyer.

As duas primeiras semanas de dezembro sinalizaram um horizonte menos nebuloso em 2012. Depois de três meses sem pingar nenhum pedido de registro na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), duas empresas anunciaram a intenção de abrir o capital: a Brasil Travel, uma holding com diferentes empresas do setor de turismo, como agências, site de viagem e até casa de câmbio; e a SeaBras, do grupo norueguês Seadrill, prestadora de serviços para empresas de exploração de petróleo. As duas fazem companhia ao grupo espanhol Isolux, da área de infraestrutura, cuja oferta está registrada desde o fim de agosto. Executivos do mercado apontam que, entre as interessadas em fazer uma oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), também estão a operadora de turismo CVC; a Taesa, braço da área de transmissão da estatal mineira Cemig; e a CPFL Renováveis, empresa de energias renováveis da holding CPFL Energia.

Mas a retomada depende da redução das incertezas na Europa. “É difícil precisar quando isso vai ocorrer. Tudo depende de a poeira europeia baixar. Se isso acontecer, a retomada poderá ser rápida”, analisa Renato Enijsman, diretor do Bradesco BBI. O banco de investimento tem em sua carteira de clientes cerca de 15 candidatas a abrir o capital em 2012. “A Bolsa se tornou uma opção de captação interessante para as companhias fazerem caixa e crescerem organicamente ou por aquisições.” Ao mesmo tempo, diz ele, o investidor brasileiro quer diversificar o portfólio, e o internacional tenderá a ficar exposto ao crescimento do Brasil, cujas perspectivas são muito mais positivas que as da Europa.

Uma prova da inclinação dos estrangeiros ao País é a captação concluída em dezembro pela Petrobras, a primeira emissão de títulos em libras esterlinas feita por uma companhia brasileira em dez anos. Foi captado um total de £ 700 milhões (pouco mais de US$ 1 bilhão), com uma demanda superior à oferta. “Isso mostra o apetite do investidor estrangeiro pelo Brasil”, afirma Eduardo Muller, diretor do Santander. Não se trata de um caso isolado. Fundos globais de ações dedicados à América Latina registraram no início de dezembro a maior captação semanal desde o fim de julho. Foram levantados US$ 50 milhões, de acordo com a consultoria norte–americana EPFR Global.

A advogada Eliana Ambrósio Chimenti, do Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados, também tem conversado com empresas interessadas em ingressar na Bolsa. “Há grupos de vários setores, como infraestrutura e varejo, esperando uma janela. Se ela se abrir, poderão sair várias ofertas ao mesmo tempo”, diz ela. O ambiente receptivo, no entanto, deverá ser pouco democrático. Na opinião de Fernando Zorzo, do Pinheiro Neto Advogados, 2012 não será um ano de pequenas e médias emissões. “Serão operações acima de R$ 500 milhões e, na maior parte, perto de R$ 1 bilhão”, resume. O motivo para esse recorte é o clima de incertezas, que leva os investidores a visarem empresas com relevância econômica e cujos papéis tenham liquidez. Na carteira do Pinheiro Neto, cinco companhias aguardam a possibilidade de abrir o capital em 2012.

DEBÊNTURES DO CRESCIMENTO — Se no mercado de ações ainda pairam muitas dúvidas, no de renda fixa o cenário parece mais claro com a perspectiva de estreia dos títulos de longo prazo para infraestrutura. Há grande expectativa de que, em 2012, seja feito o primeiro lançamento de debêntures sob o Decreto 7.603, publicado em novembro de 2011, que definiu condições para a aplicação da Lei 12.431. A norma reduziu para 0% e 15% o imposto de renda devido, respectivamente, por pessoas físicas e jurídicas, sobre rendimentos de debêntures de longo prazo.

Outro impulso às debêntures de infraestrutura foi dado recentemente, quando o governo zerou o imposto sobre operações financeiras (IOF) para estrangeiros aplicarem nesses papéis. A alíquota estava em 6%. “A medida melhorou a equação financeira dos projetos, mas ainda há dúvidas sobre como criar um mercado secundário dessas debêntures”, ressalta Marina Anselmo, do Mattos Filho Advogados, que tem falado com emissores e instituições financeiras a respeito de empreendimentos que poderão ser financiados pelos títulos.

Para a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (ABDIB), os investimentos no setor poderão somar R$ 922 bilhões entre 2011 e 2015. A área de petróleo e gás será o carro–chefe, com recursos de R$ 424 bilhões, seguida pela de transportes e logística, com R$ 172 bilhões. “Após uma operação (de debêntures) bem–sucedida, deverão surgir outras nos próximos anos”, presume Paulo Godoy, presidente da ABDIB. De olho na demanda bilionária do País por obras de infraestrutura, os bancos apostam nas debêntures. Em um evento em 10 de janeiro, em Cancún, o Santander vai destacar o cenário promissor para investidores externos adquirirem esses papéis. “Estamos confiantes de que estrearemos uma operação desse tipo no primeiro semestre”, diz Eduardo Muller, diretor de mercados de dívida do Santander. O executivo acredita que as boas perspectivas de desenvolvimento do Brasil, o real fortalecido e uma taxa de retorno elevada tornam esses papéis atrativos. “O fluxo de caixa é de longo prazo e em reais, o que significa uma opção de diversificação de investimento em momento de insegurança na Europa”, completa.

O mercado de debêntures também deverá continuar a ser acalentado pela Instrução 476 da CVM. O regulamento prevê muito mais agilidade na aprovação desses títulos quando os esforços de venda são restritos a investidores qualificados. Até outubro de 2011, as debêntures emitidas pela 476 somaram R$ 38 bilhões, ao passo que os papéis lançados sob a Instrução 400 da CVM, voltadas à distribuição ampla dos papéis, atingiram cerca de R$ 3 bilhões. “Essas emissões vieram para ficar. Por serem mais ágeis e eficientes, saem ao gosto das empresas”, justifica Eliana, sócia do escritório Machado, Meyer, Sendacz e Opice.

RECEBÍVEIS EM PAUTA — Outra perspectiva positiva para 2012 é a securitização de recebíveis para a área de petróleo e gás. A Petrobras pretende investir US$ 224,7 bilhões entre 2011 e 2015, dos quais 95% destinam–se a projetos no Brasil. Serão erguidas quatro novas refinarias no País, contratadas dezenas de embarcações e construídas plataformas para que a empresa atinja uma meta ambiciosa: elevar sua produção dos atuais 2,1 milhões de barris por dia de óleo para 3,1 milhões de barris em 2015, e 4,9 milhões em 2020. Para chegar a esses números, a companhia terá de gerir centenas de fornecedores, auxiliando–os a equacionar o caixa e a financiar os investimentos. “Vários projetos superam US$ 3 bilhões, e os FIDCs (fundos de direitos creditórios) serão instrumentos cada vez mais usados”, acredita José Carlos Meirelles, sócio do Pinheiro Neto Advogados.

O ano também promete ser bom para os certificados de recebíveis imobiliários (CRIs). A queda da taxa de juros reais, o aumento do salário mínimo — que deverá injetar mais de R$ 60 bilhões na economia em 2012 — e o crédito imobiliário mais acessível tendem a manter aquecida a indústria de construção civil, que já enxerga uma eventual escassez de recursos da poupança para financiá–la nos próximos dois a três anos. Como alternativa, grandes incorporadoras e construtoras começam a procurar novas formas de captação. “Devemos ver mais movimentação de CRIs, além de lançamentos de debêntures e até de ações por construtoras e incorporadoras”, estima Muller, do Santander. Até novembro, as emissões de CRIs somaram R$ 11 bilhões, uma alta de 60% em relação a 2010. Para o executivo, a demanda por esses papéis tende a crescer, principalmente, dentre investidores pessoa física de alta renda, cujo hábito de aplicar em CRIs ainda é baixo.


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