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Caixa estreia no mercado de captações externas com operação bilionária, juros baixos e prazo longo

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Uma das financiadoras das obras relacionadas às Olimpíadas de 2016, a Caixa Econômica Federal (CEF) disputaria medalha caso houvesse a modalidade “captação internacional mais rápida”. Em outubro de 2012, a instituição enviou três equipes de road show para Estados Unidos, Europa e Ásia e, em menos de uma semana, estava concluída a operação que reforçou o funding da CEF em US$ 1,5 bilhão. Um montante robusto, dado que a instituição debutava no mercado internacional. Alguns investidores sequer tiveram o apetite saciado pela oferta bilionária. De acordo com os coordenadores da operação, a demanda pelos bônus da dívida passou dos US$ 9 bilhões.

Ainda nesse semestre, a Caixa fará outra captação internacional. “Dessa vez, vamos aumentar a oferta”, avisa Márcio Percival, vice-presidente de finanças e mercado de capitais da CEF. O executivo adianta que a operação deve ter uma parcela composta de dívida subordinada — títulos que pagam um prêmio superior, mas trazem benefícios contábeis. Ao subscrever os títulos e contabilizá-los no patrimônio de referência, a linha do balanço usada para calcular o limite de empréstimos e financiamentos dos bancos, a Caixa amplia seu potencial de alavancagem.

O sucesso da oferta, registrada em dólar, não impressionou apenas pela velocidade. De acordo com a instituição, é a primeira vez que uma emissora brasileira estreia no mercado de dívida internacional com uma operação em duas tranches, a primeira com prazo de cinco anos, e a segunda com dez anos.

A intenção, explica Percival, foi atender todos os públicos. Os títulos mais curtos captaram US$ 1 bilhão; os bônus mais longos, outros US$ 500 milhões.

A maior e mais positiva surpresa de todas foram os prêmios. Empresa fechada e estreante no exterior, a Caixa se comprometeu a pagar juros relativamente baixos. Foram 175 pontos-básicos acima dos treasures (títulos do Tesouro norte-americano), na tranche de 60 meses, e cinco pontos-básicos mais nos bônus de dez anos. Em números absolutos, os títulos remuneram 2,49% e 3,55% ao ano, respectivamente. “Isso significa que a CEF paga um pouco mais do que o governo brasileiro e menos do que o Banco do Brasil”, orgulha-se Percival.

A boa recepção pelos investidores se deveu também ao fato de o capital social do banco estar totalmente nas mãos do governo, o que diminui o risco aos olhos do investidor. “A CEF é a maior provedora de crédito imobiliário do País, além de ter uma participação forte em infraestrutura. Os investidores se encantaram com a importância sistêmica da Caixa na economia brasileira”, lembra Alexei Remizov, diretor-gerente de capitais externos do HSBC, um dos coordenadores da emissão.

Os recursos levantados na oferta internacional serão destinados para projetos de infraestrutura e saneamento. No ano passado, a CEF contratou R$ 34,6 bilhões para esse tipo de obra, crescimento de 67,5% em relação ao ano anterior. Apenas no setor de energia, 18 projetos foram contemplados, totalizando R$ 12,7 bilhões.

Percival ressalta que o perfil de investimento da Caixa a obriga a procurar dívidas longas, uma luta árdua no mercado brasileiro. A CEF não divulga a relação entre o prazo de crédito e o de funding. “Mas posso dizer que o acesso ao mercado de crédito internacional tem a ver com o esforço para alongar a captação”, pontua o executivo.

Remizov, que estava nos Estados Unidos no momento dessa entrevista, reconhece algumas mudanças no perfil de ofertas de dívida no mercado brasileiro. Em termos de prazo, a Letra de Crédito Imobiliário (LCI), com extensão de até dois anos, é um avanço. “Mas não conheço títulos de dívida com dez anos de duração.” Somadas as operações de LCIs e Letras de Crédito Financeiras, a Caixa levantou R$ 21,4 bilhões em 2012, atingindo um saldo de R$ 49 bilhões.

O mesmo vigor é visto nos outros segmentos de atuação da Caixa. A carteira comercial chegou a R$ 121,5 milhões, com crescimento de 53,2% no ano. O crédito imobiliário saltou 34,6% em 2012, fechando o ano com saldo de R$ 205,8 bilhões. “Alguns investidores internacionais me ligaram para parabenizar pelos resultados. Acho que na próxima oferta não vamos precisar de road show”, brinca Percival.

As ligações são indicativas da mudança de status da CEF, agora com opções de funding espalhadas pelo mundo. Os investidores norte-americanos adquiriram 49% dos bônus com prazo de cinco anos e 50% do lote de dez anos. Os europeus compraram, respectivamente, 35% e 29%. Os asiáticos tiveram participação bem mais modesta: adquiriram 5% em ambas as tranches, ficando atrás dos latino-americanos. O resultado mostra o mundo de oportunidades que a Caixa tem por explorar.


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