Menores entram no jogo
Bancos veem oportunidades de bons negócios com emissões de dívida privada de empresas médias

, Menores entram no jogo, Capital AbertoBanco de porte médio, o Indusval — que abriu o capital na BM&FBovespa na onda de ofertas públicas iniciais de ações de 2007 — continua tendo boa parte de seu caixa irrigada por empresas também médias. O modelo de exploração dessa fonte de receitas é que se diversificou: a instituição quer se firmar no nicho de coordenação de ofertas de títulos de dívida de emissores que faturam de R$ 400 milhões a R$ 1 bilhão por ano. Motivados pelas perspectivas positivas para a renda fixa privada, alguns bancos veem nesse segmento uma nova frente de negócios. O desafio é provar as vantagens dessas operações para empresários acostumados com formas mais simples de financiamento e superar as tradicionais barreiras do mercado de dívida no Brasil.

Para Francisco Cote Gil, vice-presidente comercial do Indusval & Partners — marca do banco desde o ingresso da gestora de private equity Warburg Pincus no bloco de acionistas controladores, em março deste ano —, as empresas menores tenderão a emitir debêntures ao perceberem que elas podem oferecer taxas inferiores e prazos mais longos que os de outras modalidades de endividamento. O potencial do mercado de títulos corporativos no Brasil, aliás, foi um dos fatores que levaram a Warburg Pincus a ingressar no banco. Do lado dos investidores, existe o apetite crescente por renda fixa. Profissionais do mercado são unânimes em afirmar que os fundos de investimento e os family offices têm voltado suas atenções para debêntures e outros papéis de renda fixa privada. A sombra da crise internacional encoraja esse movimento. “Investidores de fundos multimercados estão migrando recursos para fundos de crédito privado, por conta da elevada volatilidade no mercado de ações”, diz Renato Otranto, superintendente de mercado de capitais do BES Securities.

Era natural que gestores de fundos de investimento, family offices e áreas de gestão de fortunas buscassem, primeiramente, títulos privados de companhias de grande porte, que, em princípio, dão maior segurança. A exposição a ofertas de empresas menores é, portanto, uma evolução disso, observa Nuno Correia, corresponsável pela área de global markets no Brasil do Deutsche Bank.

Uma boa notícia é a redução dos prêmios pagos pelas debêntures para seduzir os aplicadores, propiciada pelo interesse dos investidores. Um exemplo é a oferta de debêntures de R$ 300 milhões feita pela varejista Lojas Renner em julho: a demanda superou a oferta em três vezes. A expectativa era que os papéis pagassem CDI, a taxa de juros interbancária, acrescida de 1,3% ao ano, porém a forte procura baixou o pagamento para CDI mais 1,1%. “O ‘fechamento’ (queda, no jargão do mercado) de taxas para as empresas de porte médio ainda não aconteceu, mas acredito que deverá ocorrer”, prevê Correia.

A percepção de que os investidores estão cada vez mais dispostos a comprar papéis de dívida privada também levou o Banco Pine, outra instituição financeira de porte médio, a se posicionar no segmento. No ano passado, o banco contratou nove funcionários para tocar a área de mercado de capitais, cuja proposta é oferecer alternativas de captação a companhias que faturam de R$ 500 milhões a R$ 1,5 bilhão. O alvo preferencial, conta o diretor vice-presidente de finanças Norberto Zaiet, são as empresas de capital fechado. “Geralmente, elas tomam dinheiro a prazos curtos, pagando juros elevados. Sugerimos soluções para melhorar a estrutura de capital”, afirma. Uma das propostas é usar recebíveis como garantia para montar operações com prazos maiores e custos menores — seja por meio da emissão de debêntures ou da securitização de direitos creditórios, por exemplo.

MERCADO PEQUENO — As ofertas de debêntures de empresas de tamanho médio têm ajudado a engordar o volume de emissões calculado pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima). As distribuições de debêntures do início do ano até julho atingiram montante 17% maior que o do mesmo período de 2010, alcançando a marca de R$ 29 bilhões. Quando se leva em conta o número de ofertas, o crescimento é bastante expressivo, da ordem de 40%. “Neste ano, houve mais operações, e os tíquetes estão menores”, observa Jorge Simão, superintendente de tesouraria e distribuição do BES Securities. Isso é explicado, em parte, pelo ingresso de empresas de porte médio nessas captações. Elas ofertam debêntures a valores inferiores aos usuais.

Todavia, a quantidade de investidores que participam dessas emissões ainda está muito aquém do potencial. Grande parte delas nem chegou perto do máximo de 20 compradores permitidos pela Instrução 476, da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que regulamenta as ofertas de distribuição com esforços limitados de venda. Dos R$ 29 bilhões de debêntures emitidas neste ano, R$ 26,4 bilhões foram captados com esforços restritos — nesse caso, bem restritos, frise-se. Geralmente, as debêntures ficam somente com um investidor: o banco que coordenou a operação. O benefício é que, na captação por meio de debêntures, não há incidência do imposto sobre operações financeiras (IOF), o que barateia o custo do dinheiro para a empresa.

Foi justamente o que aconteceu com a emissão da Prolagos, concessionária de saneamento da região dos Lagos, no Rio de Janeiro: os papéis repousam na carteira do HSBC, o coordenador da operação. Carlos Roma, presidente da Prolagos, sabe que o mercado de capitais pode ser extremamente importante para trazer dinheiro à empresa, que fatura cerca de R$ 130 milhões por ano. “Os bancos de fomento não terão recursos suficientes para financiar a necessidade de investimento em infraestrutura no Brasil”, diz ele, habituado a recorrer a instituições de fomento para financiar suas atividades. Os recursos captados pelas debêntures serão usados para quitar dívidas de curto prazo e realizar investimentos.

O próximo passo do mercado será fazer das debêntures não só empréstimos improvisados, mas instrumentos eficientes para a captação de empresas com faturamento abaixo do bilhão de reais. Esse trabalho tem um quê de educativo, pois as debêntures são palavras exóticas para uma fatia considerável do empresariado brasileiro. Existe até preconceito contra esses papéis: “Muitos consideram que emitir debêntures custa caro. É necessário desmistificar isso”, diz Carlos Ratto, diretor comercial da Cetip, a principal plataforma de negociação de títulos de dívida privada do País.

Também será preciso tirar algumas pedras do caminho. O obstáculo maior é a avaliação de risco. Para que os papéis saiam da hibernação na carteira dos bancos, as emissoras têm de melhorar a avaliação de seu risco de crédito. “Os investidores institucionais só compram títulos com ratings superiores a ‘AA menos’”, lembra Ignacio Lorenzo, responsável pela área de distribuição de crédito do Banco Santander. As empresas de médio porte, normalmente, têm notas inferiores. Mas esse filtro imposto pelos investidores não é um impeditivo, pondera o executivo. Como compensação, as emissões podem oferecer garantias mais sólidas e taxas atraentes.

Testes de Crise impulsiona renda fixa

A deterioração do cenário econômico internacional pode estimular as ofertas de dívida privada, segundo a leitura de muitos dos participantes do mercado. Para Marcelo Ribeiro, diretor da Pentágono DTVM, que atua como agente fiduciário na emissão de debêntures, o mercado de renda fixa deve continuar a se desenvolver, devido à necessidade de financiamento das empresas brasileiras. “Ainda é cedo para se fazer prognósticos, mas é possível que as grandes companhias, que emitem títulos no exterior, se voltem para o mercado interno”, acrescenta Alberto Kiraly, superintendente de banco de investimento do Votorantim.

Se a liquidez no mercado internacional se reduzir, custará mais para as empresas captarem recursos fora do País. Assim, elas tenderão a buscar dinheiro por aqui. O incentivo às ofertas de debêntures será ainda mais forte se o Novo Mercado de Renda Fixa da Anbima (leia texto da seção Em Pauta na página 66) deslanchar. Esse projeto tem como objetivos pulverizar as ofertas e ampliar a liquidez dos papéis de longo prazo no mercado secundário. O governo federal também editou a Lei 12.431, em junho passado, com o intuito de promover as emissões de títulos de dívida — mais especificamente, os ligados a projetos de infraestrutura. Até agora, nenhuma oferta seguiu esses parâmetros porque a lei ainda não foi regulamentada. “O passo está lento devido mais ao aspecto regulatório do que à conjuntura internacional”, diz Ribeiro, da Pentágono. (L.D.C)


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