O entregador toca o interfone; é a pizza de domingo. Junto com ela, vem a “maquininha”. E, pode reparar, a marca é quase sempre Cielo. “Eles têm uma vantagem tecnológica no pagamento móvel”, destaca Carlos Datozo, analista da BB Investimentos. Hoje, 49% das máquinas da Cielo não têm fios.
“Investimos R$ 700 milhões em PoS [sigla para ponto de venda em inglês; no caso, a máquina de cartão] nos últimos dois anos para compor o parque mais moderno do mercado e projetamos aportar mais R$ 300 milhões em 2013″, afirma Rômulo Dias, presidente da companhia.
O investimento faz sentido. Cada vez mais brasileiros usam o cartão como forma de pagamento. No ano passado, segundo levantamento da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), pouco mais da metade (52%) dos brasileiros tinha cartão de crédito de banco (aumento de nove pontos em relação a 2009); 62% possuíam o de débito (acréscimo de sete pontos); e 28%, o de lojas. No geral, 75% dos brasileiros têm acesso aos meios eletrônicos de pagamento e 71% costumam usá-los.
Entre 2009 e 2012, cresceu cinco pontos a participação dos meios eletrônicos (para 48%) nos gastos mensais das famílias. No comércio, eles já respondem por 58% do faturamento. Atuar nesse mercado é participar de um setor que, para os próximos anos, tem expansão anual prevista em cerca de 15%. É um dos motivos por que as ações da Cielo subiram 14,2% entre abril de 2012 e 9 de maio deste ano — no mesmo período, o Ibovespa acumulou perda nominal de 7,3%.
Porém, se na casa do cliente a venda só usa uma máquina, no restaurante a conta pode ser paga em muitas delas. Ali se evidencia a disputa entre as certificadoras, cada vez mais acirrada. No quarto trimestre de 2010, a parceria Santander/GetNet tinha 1% de participação no mercado. No primeiro trimestre deste ano, alcançou 4,7%. A Redecard, que fechou capital no ano passado, teve bom desempenho recente: saiu de 39,5% de fatia de mercado, no segundo trimestre de 2012, para 41,1% no primeiro trimestre de 2013.
A liderança ainda está nas mãos da Cielo, apesar de o ano passado não ter sido bom para a companhia, que tinha 57,1% de participação de mercado no segundo trimestre e terminou o ano com 54,1%. No primeiro trimestre de 2013, ela reagiu timidamente e esse percentual oscilou para 54,2%.
Os resultados do trimestre passado, na visão dos analistas do Itaú BBA, Regina Sanchez, Alexandre Spada e Tiago Batista, foram bons e implicam “upside de consenso de mercado”. A empresa obteve lucro líquido de R$ 640,9 milhões, com alta de 13,1%; a receita líquida aumentou 28,4 %. O resultado das finanças foi mais bem avaliado. “A receita financeira cresceu 4%”, assinala Gustavo Schroden, analista do Espirito Santo Investment Bank. “E a companhia ampliou em dois dígitos as receitas com antecipação de recebíveis”, completa Datozo, da BB Investimentos.
Só que, como alertam os analistas do Itaú BBA em seu relatório de recomendação, o resultado do primeiro trimestre “não é totalmente comparável com o primeiro do ano passado e com a nossa previsão, porque ambos referem-se à empresa de forma independente, ao passo que os números publicados incorporaram a Merchant e-Solutions (Me-S)”. Adquirida no início do ano, a Me-S é uma companhia americana considerada de excelência na oferta de soluções para pagamento eletrônico.
Mas não é apenas a incorporação da Me-S que torna mais difíceis as projeções dos analistas. “A redução do nível de divulgação fornecido pela empresa também dificulta a análise”, reclamam os analistas do BBA. Daltozo, do BB Investimentos, observa que a Cielo deixou de divulgar vários dados, inclusive o valor do aluguel da “maquininha”, depois que a Redecard fechou capital, no primeiro semestre de 2012. “O novo ambiente competitivo, como única companhia listada do setor, exigiu que adotássemos uma nova forma de apresentação dos nossos indicadores”, explica Dias, da Cielo.
O detalhe é que, embora a competição tenha aumentado, a ideia de haver apenas uma máquina na mesa do caixa do restaurante (reduzindo os custos dos comerciantes e gerando maior concorrência de preços), que aceitasse todas as bandeiras, ainda não vingou. Até por conta dos cartões de benefício. O voucher Visa Vale, por exemplo, só pode ser utilizado se o lojista tiver um terminal da credenciadora Cielo. O Ticket Restaurante é restrito à Redecard; e a GetNet captura e processa o voucher Sodexo.
Enquanto a máquina única está longe de ser realidade, o governo prepara uma regulamentação para o setor, no intuito de reduzir os custos para os usuários, especialmente os do varejo. O desenho definitivo e as consequências para as empresas de cartão, e para a Cielo em particular, ainda não são conhecidos. Contudo, no dia 20 de maio o Banco Central assumiu a supervisão do segmento e, em até 180 dias, definirá os critérios para fixação das tarifas de uso da máquina, entre outros dispositivos. “O cenário vai ficar mais desafiador, como temos dito ao mercado, mas a Cielo continuará focada em rentabilidade”, observa Dias.
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