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Lucros à vista
Em meio às boas notícias daqui e aos maus ventos de lá, Brasil se torna alvo dos investidores portugueses

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“Que o mar unisse, já não separasse”. Com esse verso do poema O Infante, Fernando Pessoa pretendia enaltecer a coragem dos portugueses ao desbravar novos mundos. Escritas no início do século 20, as palavras do poeta guardam contemporaneidade. O Brasil, mais especificamente seus mercados financeiro e de capitais, desperta novamente a atenção dos lusitanos, que enxergam na ex-colônia um eldorado para os seus investimentos. Segundo dados da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), o regulador do mercado de capitais em Portugal, em dezembro o Brasil foi o terceiro principal destino dos fundos de ações portugueses, concentrando 9,8% dessas aplicações, atrás do mercado doméstico (23,5%) e dos Estados Unidos (20,4%).

O bom desempenho da economia brasileira nos últimos anos, o fortalecimento do real em relação ao euro e a crise na Europa explicam por que o Brasil tornou-se foco dos investidores portugueses. Tradicionais instituições financeiras daquele país vêm ampliando a oferta de produtos voltados à antiga colônia. O Banco Carregosa, originado da Corretora e Financeira de Corretagem L.J Carregosa, fundada em 1833, lançou em fevereiro do ano passado o fundo Carregosa Brasil Valor-FIM Aberto, com 100% de ativos brasileiros, sobretudo ações de companhias listadas na BM&FBovespa. A expectativa é um crescimento médio anual de 11% do patrimônio do fundo nos próximos sete anos.

João Pereira Leite, diretor de investimentos do Carregosa, enaltece o bom momento econômico e financeiro do Brasil. Ele afirma que a situação do País, apesar dos problemas estruturais e das denúncias de corrupção que derrubam os ministros do governo Dilma Rousseff, é vista com otimismo pelo mercado português. Para compor a carteira do Carregosa Brasil Valor, Leite programa viagens rotineiras ao Brasil. “Minha preferência é por companhias listadas no Novo Mercado, pois apresentam mais transparência e melhor governança”, explica, acrescentando que também prioriza as companhias com boas práticas de relações com investidores e cujos negócios estejam diretamente ligados à dinâmica da economia brasileira. Ele observa que certa vez desistiu de investir em uma empresa que atua na área de serviços de infraestrutura para a população por constatar que a companhia privilegiava decisões políticas em detrimento da satisfação dos acionistas.

O Carregosa Brasil Valor não é o primeiro portfólio da instituição baseado em ativos brasileiros. Em 2007, o banco encerrou um fundo fechado dedicado a investimentos no País. Para 2012, o Carregosa planeja a abertura de um escritório de representação em São Paulo, ainda no primeiro semestre.

Uma relação da CMVM com os mercados onde está investida a maior parte dos ativos dos fundos de investimento mobiliários registrados em Portugal mostra que o Brasil saiu da 10ª posição, em dezembro de 2008, com 2% do volume total dos ativos, para o 6ª lugar, em dezembro de 2010, com 5,3%. Em 2011, caiu à 9ª posição, refletindo a postura mais conservadora de alguns gestores de recursos devido à crise europeia. Nílvio Fecchio, chefe de distribuição e produtos da Besaf-BES Ativos Financeiros, nota que esse temor vem diminuindo desde a virada do ano, o que pode favorecer ainda mais o Brasil em 2012. “Verificamos uma sensível mudança do comportamento do investidor, pois a curiosidade por produtos baseados em ativos brasileiros aumentou”, ressalta.

, Lucros à vista, Capital AbertoDesde 2006, a Besaf mantém um fundo com 100% de ativos brasileiros, composto de renda fixa e variável. O ES Brasil-Fundo Flexível apresentava, na primeira quinzena de janeiro, 60% dos recursos concentrados em renda variável. Com aporte inicial mínimo de € 1 mil e aplicações subsequentes mínimas de € 250, o fundo é destinado basicamente a pessoas físicas. Em janeiro, somava um patrimônio de € 49 milhões.

O fundo tem o objetivo de superar a rentabilidade do Ibovespa. Segundo Bruno Lima, chefe de renda variável da Besaf, os papéis que formam a carteira têm em comum a liquidez — dentre eles, Vale, Petrobras e companhias das áreas de energia e finanças.

Nas análises da gestora, o Brasil já era promissor muito antes da crise do subprime, que depreciou os mercados americanos em 2008 e forçou os investidores a procurar praças alternativas, com mais oportunidades de liquidez, como o Brasil. De acordo com Lima, a partir de 2012, a Besaf vai fortalecer sua política de distribuição internacional, e o ES Brasil será um dos destaques.

Nuno da Rocha Correia, diretor coordenador de Business Development, Marketing & Communication do Banif, diz que o Brasil é uma das primeiras opções aos olhos das instituições financeiras portuguesas.”Fazer negócios em um país com afinidades culturais e diplomáticas, e que fala a mesma língua, é muito mais fácil”, comenta. “O mundo mudou muito e temos que nos adaptar”, lembra Pedro Duarte, CEO do Carregosa, que tem um interesse particular pelo mercado imobiliário brasileiro.

O segmento também atrai a gestora Selecta Gestão de Ativos, do grupo português Mello. Com mais de dez anos de atuação no mercado português e um patrimônio administrado de R$ 1,3 bilhão, ela possui sete fundos imobiliários fechados direcionados a 30 investidores institucionais localizados em Portugal, Espanha, Suíça, Alemanha e Luxemburgo. A Selecta fincou sua bandeira no Brasil há cerca de dois anos e registrou, em 2011, na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o fundo de participações denominado Selecta 1.

José António de Mello, presidente da Selecta em Portugal, revela a pretensão de captar R$ 200 milhões, com foco na geração de renda com aluguéis de imóveis de escritórios e instalações utilizadas pelo mercado de turismo. A exemplo da atuação da gestora no mercado português, o Selecta 1 será destinado a investidores institucionais, como fundos de pensão. Quase dois séculos depois da independência, não há dúvidas de que o florão da América ressurge cheio de encantos no horizonte dos portugueses. E com muito mais moral desta vez. Ainda bem.


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