Os títulos verdes, mais conhecidos como green bonds, foram responsáveis por uma captação de cerca de US$ 81 bilhões no mundo todo em 2016. O valor é bem superior ao registrado em 2015, quando somou US$ 42 bilhões, de acordo com estatísticas da Climate Bonds Initiative (CBI), organização internacional sem fins lucrativos dedicada ao fomento dos mercados de green bonds e de títulos climáticos. A vocação dos títulos de dívida vai ao encontro do que seu nome sugere: o financiamento de projetos sustentáveis. O Brasil, entretanto, pouco contribuiu para esse exuberante crescimento. Fibria, Suzano e BRF foram as únicas empresas nacionais a embolsar até agora recursos por meio de green bonds.
“O Brasil está atrasado nesse tipo de emissão. Mas a oferta de green bonds é uma tendência global que vai ganhar corpo”, afirma Marcelo Bacci, diretor financeiro e de relações com investidores da Suzano. Para as empresas, a oferta de títulos verdes é um meio eficiente para melhorar a reputação e acessar o bolso de um tipo específico de investidor — aquele que valoriza a adoção de boas práticas ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês). Especialmente na Europa, há fundos de investimento totalmente dedicados ao conceito, e grandes gestoras de ativos também criam produtos com essa roupagem.
Uma clara demonstração do interesse dos investidores pelos green bonds ocorreu no fim de 2015, durante a COP-21, conferência sobre o clima promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU) em Paris. Na ocasião, 27 investidores institucionais com US$ 11,2 trilhões de recursos sob gestão assinaram um documento se comprometendo a apoiar o mercado de títulos verdes. Em outubro de 2016 foi a vez de agentes do mercado de capitais brasileiro se integrarem à causa — entre os signatários estavam BTG Pactual, BB DTVM, Itaú Asset Management, Santander Asset Management, SulAmérica Investimentos e UBS Brasil, que juntos são responsáveis pela gestão de R$ 1,61 trilhão. “As emissões de empresas brasileiras mostraram que há alta demanda por esses papéis. O capital começa a se movimentar para o lado verde”, observa Tatiana Assali, do escritório para a América Latina do Principles for Responsible Investments (PRI), iniciativa da ONU que busca incentivar o setor financeiro a adotar padrões socioambientais em suas operações.
Além das companhias, governos têm usado o mercado de green bonds. De acordo com reportagem da agência de notícias Bloomberg, semanas após a Polônia ofertar, em dezembro, seus primeiros bônus verdes soberanos (no valor de € 750 milhões), a França se preparava para um roadshow de seus títulos verdes — funcionários do governo projetam que a oferta possa arrecadar pelo menos € 2,5 bilhões. A Nigéria, segundo a reportagem, também estaria na fila para o lançamento de green bonds.
Na opinião de Justine Leigh-Bell, diretora de desenvolvimento de mercado da CBI, a oferta de títulos verdes poderia ajudar o Brasil a sanar déficits históricos em setores como os de saneamento e infraestrutura e financiar a transição para uma economia de baixo carbono. O País, vale lembrar, é uma das nações que ratificaram o Acordo de Paris, compromisso mundial para redução das mudanças climáticas aprovado por aproximadamente 190 países.
Entre os compromissos assumidos estão a recuperação de 12 milhões de hectares de florestas e de 15 milhões de hectares de pastagens degradadas, além do aumento de participação (de 10% para 23%) das energias renováveis (solar, eólica e biomassa) na matriz elétrica nacional até 2030. Para alcançar essas metas, o Brasil precisará fazer investimentos de US$ 152 bilhões entre 2015 e 2030 — e com o caixa do governo depauperado, a saída pode ser atrair capital privado por meio da oferta de green bonds. “Construir fontes de energia além das hidrelétricas, investir em tratamento de água e esgoto e em sistemas de transporte público eficientes nas cidades são pontos em que o Brasil poderá se beneficiar com os títulos verdes”, diz Leigh-Bell.
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