O alemão Max Reichel lembra todos os dias o estalo que teve, há cerca de três anos. Foi no inverno de 2010 que o então consultor se mudou para São Paulo logo após terminar um MBA em Harvard. Contratado pela McKinsey & Company, durante o expediente se dedicava aos números de instituições financeiras, suas principais clientes. Mas, nas horas vagas, eram os valores cobrados pelos produtos do dia a dia que o incomodavam. Montar uma casa no Brasil é caro, constatou. Paga-se muito por mobílias padronizadas, bem diferente do que ocorre em Munique, Londres e Boston, cidades onde morou.
Bastou isso para que Reichel montasse o projeto da Oppa, loja virtual de móveis contemporâneos do Brasil.
Em poucos meses, Reichel já circulava com o projeto debaixo do braço. “Quando nos conhecemos, no início de 2011, ele tinha um plano de negócios num arquivo de PowerPoint e um conhecimento profundo do mercado”, recorda Hernán Kazah, sócio da Kaszek Venture. Em parceria com a discreta gestora brasileira Monashees, a Kaszek participou da primeira rodada de investimento recebida pela Oppa, em setembro de 2011. A expectativa é sair do negócio nos próximos cinco anos, preferencialmente por meio de uma abertura de capital em bolsa.
Reichel e sua equipe definiram o conceito dos produtos da Oppa: móveis charmosos com preços acessíveis que viessem a atender à demanda principalmente das classes B e C. Para entregar o prometido, a Oppa recorreu a jovens talentos. São eles os responsáveis pelo desenho das peças, pensadas para os vários ambientes da casa. Há desde kit de copos a sofás. A empresa, sediada em São Paulo, ainda não tem fábrica própria e utiliza a estrutura de terceiros para produzir os artigos.
Kazah, sempre que possível, reforça algumas qualidades de Reichel. A “visão estratégica” e o “nível
de energia” demonstrados pelo fundador da Oppa levaram o investidor a apostar na empresa, fazendo por alguém o que um dia fizeram por ele. Em 1999, em Buenos Aires, o argentino recebeu um aporte de um investidor-anjo para a companhia que havia criado pouco antes, a Mercado Libre.
Voltando de um MBA na Universidade de Stanford, o ex-corretor da bolsa de Buenos Aires e antigo gerente da Procter & Gamble argentina reuniu alguns amigos e fundou a plataforma de negócios e pagamentos online. Pouco tempo depois, a bolha da internet estourou e Kazah foi tocando a Mercado
Libre com muito esforço e pouco apoio. A empresa cresceu, se espalhou pelos países vizinhos — inclusive o Brasil, onde o nome foi traduzido para o português — e em 2007 fez uma oferta pública inicial (IPO) na bolsa americana eletrônica Nasdaq. “Entre 1999 e o IPO, a Mercado Livre recebeu capital de risco apenas uma vez”, lembra Kazah, que se desligou da companhia em 2011.
O argentino saiu da Mercado Livre disposto a incrementar o financiamento a empreendedores tecnológicos da América Latina. Ele e alguns antigos sócios montaram a Kaszek Ventures, com escritórios no Brasil, na Argentina e nos Estados Unidos. Entre capital próprio e de terceiros, a gestora administra um patrimônio de US$ 100 milhões, dos quais US$ 45 milhões estão empregados e outros US$ 55 milhões em garantia firme. Todos os recursos compõem apenas uma carteira com prazo de investimento de sete anos. “O planejamento é lançar outro fundo em 2015”, conta Kazah.
Até abril de 2013, a Kaszek tinha na carteira 20 empresas investidas — 13 delas brasileiras. A exemplo do que ocorre na Oppa, alguns desses investimentos foram feitos em parceira com a Monashees, contudo não apenas com ela. No caso da loja virtual de móveis, a mesa onde se encontram os sócios ganhou novos lugares cativos em setembro de 2012. Na segunda rodada de investimentos, outros dois fundos entraram no capital da companhia. Ao todo, a Oppa levantou US$ 13 milhões com os quatro gestores. Esse é um dos poucos números que a administração revela sobre a empresa, de capital fechado.
A dupla novata é composta de dois dos mais conhecidos fundos de venture capital do mundo. Um deles é o nova-iorquino Thrive Capital, que há cerca de 30 anos financia empresas incipientes de tecnologia e mídia. A outra carteira de capital de risco trouxe, além de recursos, muita publicidade. Afinal, difícil imaginar qual empreendedor não se orgulharia em dizer que sua organização bebe na mesma fonte que financiou o Facebook em seu início. O primeiro investidor da rede social, Peter Thiel, agora tem contato direto com Reichel. Os recursos vieram por meio do fundo Valar Capital, que tem Thiel como único investidor.
No já longínquo ano de 2004, Thiel aportou US$ 500 mil no então pouco conhecido site de Mark Zuckerberg. Em troca, encarteirou cerca de 10% da empresa, um bilhete premiado que garantiu a Thiel o incrível retorno de US$ 1 bilhão depois de o Facebook estrear na Nasdaq. Para Reichel, o conhecimento dos sócios sobre o setor é um diferencial. Embora eles não participem da gestão, quando o alemão tem alguma dúvida, pede conselho a seus investidores. “Escolho bem quem está à minha volta”, diz. Ao menos duas empresas listadas na Nasdaq confirmam a opinião.
Outubro Liberado
Experimente o conteúdo da Capital Aberto grátis durante todo o mês de outubro.
Liberar conteúdoJa é assinante? Clique aqui
Outubro Liberado
Experimente o conteúdo da Capital Aberto grátis durante todo o mês de outubro.
Ja é assinante? Clique aqui