É preciso ser craque
O talento para pinçar as ações certas fará toda a diferença na bolsa de valores em 2013. Opções boas e óbvias estarão fora do cardápio

, É preciso ser craque, Capital AbertoNeste ano pródigo em crises internacionais, os investidores encontraram um oásis no Brasil: as ações de empresas voltadas para os setores de consumo e varejo. De 1º de janeiro a 16 de novembro de 2012, o índice de consumo (Icon) da BM&FBovespa subiu 33,4%, enquanto o Ibovespa desvalorizou 2,4%. Quem planeja 2013, no entanto, não avista os mesmos paraísos. A expectativa de analistas e gestores é de um acanhado alívio na precária situação econômica mundial e de um afunilamento nas opções de investimento. Os papéis de companhias focadas no mercado interno estão caros. Os que recebiam a alcunha de defensivos, como os das elétricas, tornaram-se uma incógnita após as regras impostas pelo governo federal para renovação das concessões. Tudo indica que o próximo ano não será fácil para quem investe em ações. Os prognósticos são de que o mar estará turvo e de que os refúgios, se existirem, serão menos óbvios. Será preciso ser craque para se dar bem.

O cenário privilegia a escolha habilidosa dos papéis. A perspectiva é de que a estratégia chamada de stock picking (seleção dos ativos) seja fortalecida, em detrimento das análises setoriais ou das tacadas de market timing, que visam a acertar a hora de entrar e sair de determinado mercado. “Cada vez mais, os investidores irão olhar para cada ativo individualmente, e não para temas”, acredita Bruno Garcia, gestor da BNY Mellon Arx. Em termos macroeconômicos, há mais otimismo. Espera-se que a economia cresça cerca de 4% em 2013, bem mais que os estimados 1,5% deste ano (de acordo com o último relatório Focus, do Banco Central).

A perspectiva de crescimento favorece as ações dos setores de varejo e consumo, mas, em razão dos preços elevados, é preciso ser seletivo. Lucas Tambelini, economista da área de pesquisa da Itaú Corretora, lembra que o setor de consumo está sendo negociado a um múltiplo preço/lucro por ação (P/L) de 20, enquanto a bolsa como um todo está no patamar de 11. Na mais recente carteira de ações sugeridas pela Itaú Corretora, divulgada em outubro passado, havia apenas um papel do setor de consumo, o da Ambev. Já Daniel Castro, sócio da DLM Invista, aposta nas ações de Saraiva Livreiros e de Alpargatas. Segundo o gestor, ambas estão sendo negociadas com desconto em relação aos seus pares.

Além de refletir o crescimento esperado para o País, a valorização dos papéis de consumo e varejo tem outra explicação: nesses setores, ao contrário do que ocorreu com os bancos, as empresas de telecomunicação e as elétricas, é pouco provável a intervenção do governo. O prognóstico põe os papéis de consumo e varejo na seleta de investimentos defensivos — e, como tal, eles devem “trazer poucas decepções e não muitas alegrias”, observa Rodolfo Amstalden, analista da Empiricus Research.

Porém, diante de um cenário econômico incerto, procurar abrigo em papéis menos arriscados não soa como má ideia. “O mercado tem privilegiado companhias com modelos de negócios resilientes, forte geração de caixa e previsibilidade”, diz Castro, da DLM. Dentre as empresas com essa característica ele escolhe a Valid, que atua na oferta de produtos e serviços em sistemas de identificação, telecomunicação e meios de pagamento. Outros focos são as concessionárias de rodovias e as empresas de shopping centers. Elas, ao lado das companhias que investem em imóveis comerciais, também estão no radar de Tambelini, da Itaú Corretora — os papéis da administradora de shoppings BR Malls e da empresa de investimento em imóveis comerciais BR Properties fazem parte da carteira indicada pela corretora.

Já Amstalden considera que um dos setores mais atraentes é o imobiliário, que reage positivamente à queda dos juros e ao fluxo de investidores de fora. As grandes e médias incorporadoras, afirma ele, fizeram a lição de casa em 2012: reduziram o número de lançamentos para evitar a queima de caixa e frearam os custos por meio da revisão de parcerias com empresas regionais. Na visão do analista da Empiricus, esses ajustes beneficiarão, principalmente, Cyrela e Gafisa, que poderão recompor suas receitas e pensar na retomada dos lançamentos em 2013.

RISCO ELEVADO — As empresas do setor elétrico, ao contrário, não devem ganhar espaço na carteira dos gestores tão cedo. Desde a intervenção do governo no segmento, a percepção de risco tornou-se elevada demais até para os afeitos a fortes emoções. As elétricas com concessões vencendo entre 2013 e 2017 que aceitem renovar os contratos sob os parâmetros da Medida Provisória 579 terão que reduzir as tarifas de energia em cerca de 20% a partir de 2012. Como o baque na receita é quase certo para a maior parte das companhias, os investidores preferem ficar de fora até que o horizonte clareie. (Veja matéria na página 24)

O setor de telecomunicações também não suscita grande entusiasmo, embora analistas e gestores enxerguem oportunidades pontuais. O que pesa é principalmente a elevada necessidade das empresas de investirem para melhorar seus serviços de telefonia celular. No segundo semestre de 2012, algumas operadoras tiveram a venda de novas linhas de celulares suspensas pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) devido à baixa qualidade dos serviços ofertados, e a expectativa é que os aprimoramentos requeridos drenem boa parte da geração de caixa dessas companhias no próximo ano. A preferência de Castro, da DLM Invista, no setor recai sobre a Vivo, cuja cobertura de rede requer menos investimentos.

“Cada vez mais, os investidores irão olhar para os ativos individualmente, e não para temas”

O ânimo com o setor bancário, apesar das intervenções do governo, é bem maior do que com as elétricas. A aposta é que o crescimento do Brasil em 2013 aumentará a demanda por crédito e, com ela, os números da última linha dos balanços dos bancos. Em 2012, essas instituições sofreram duplamente: de um lado, a inadimplência subiu; de outro, o governo forçou a redução dos spreads por meio da queda dos juros cobrados pelas instituições públicas e controlou o aumento das tarifas bancárias. A expectativa dos analistas é que os spreads continuem a cair e que, para compensar, os bancos concedam mais crédito e operem com volumes maiores. Mas esse processo não deve acontecer da noite para o dia:

“A deterioração da taxa de retorno (o return on equity — ROE) tende a ocorrer, especialmente porque o crescimento das linhas de crédito deve ser lento. As ações de bancos não estão caras, mas também não são barganhas”, avalia Eduardo Roche, chefe de renda variável da Modal Asset Management. (Leia também a matéria na página 14).

Analistas esperam que o ROE dos grandes bancos brasileiros, antes em torno de 20%, cairá para o patamar de 16% — ainda bem superior ao de uma instituição como o Goldman Sachs, por exemplo, cuja taxa de retorno é de 9%. Além disso, os bancos podem ver suas margens de manobra novamente coibidas pelo governo, que não parece estar satisfeito com a graduação da queda dos spreads.

Apesar de trazer insegurança, a atitude de Brasília é considerada positiva por alguns investidores. A pressão regulatória visa a impulsionar os investimentos no Brasil, que precisa substituir o consumo como o principal vetor de crescimento da economia no médio e longo prazos. “O governo está fazendo o papel dele ao tentar reduzir o custo Brasil. Os investidores é que ficaram mal acostumados”, comenta Tambelini, da Itaú Corretora.

DE ESCANTEIO — Da mesma forma, o setor de commodities, representado em bolsa principalmente por Vale e Petrobras, não arranca sorrisos dos gestores. O entusiasmo com a petrolífera é baixo devido à dificuldade da empresa de aumentar a produção e elevar a geração de caixa num momento em que precisa realizar pesados investimentos para fazer jorrar o petróleo do pré-sal. “A Petrobras é uma aposta de risco, mas isso pode ser amenizado ao longo do ano que vem se ela conseguir mesmo reduzir os custos”, analisa Roche, da Modal Asset.

A Vale, por sua vez, sofre com as incertezas sobre o mercado externo e com a desaceleração do consumo de minério. A venda do insumo vem sendo impactada pelo crescimento menor da economia da China, que opera com níveis elevados de estoques e capacidade ociosa. Apesar dos riscos incômodos, Amstalden, da Empiricus, vê oportunidade de ganhos com as ações da Vale em razão do preço dos papéis — nos últimos 12 meses encerrados em 21 de novembro, as ações ON da mineradora apresentavam uma desvalorização de 12,2%. Além disso, o analista enxerga com bons olhos a disciplina de capital da companhia, que postergou projetos com investimentos vultosos e cancelou dividendos extraordinários até que o cenário melhorasse.

Como Vale e Petrobras representam mais de 20% da carteira teórica do Ibovespa, o desempenho dessas ações certamente vai influenciar o mercado como um todo. Mas, dada a nuvem de incerteza que recobre os céus, as previsões para o índice são díspares: a Empiricus, por exemplo, projeta que o Ibovespa possa chegar a 66 mil pontos no fim de 2013, enquanto a Itaú Corretora julga que ele pode se alongar até os 75 mil pontos (no dia 21 de novembro, o índice oscilava em torno de 56.300). Já outros nem se atrevem a cravar um número: “Prefiro nem arriscar a fazer alguma previsão para a pontuação do Ibovespa no fim do ano que vem”, diz Roche, do Modal Asset.

O fato é que o posicionamento da taxa de juros em um patamar historicamente baixo e as recentes cartadas do governo para redução do custo Brasil tornaram a vida de investidores e companhias bem mais complexa. As empresas buscam melhorias de produtividade e ganhos de escala para reagir à queda das margens e à necessidade de elevados investimentos. E os investidores, com menos opções de ganhos evidentes, precisam selecionar mais criteriosamente os ativos. Um processo de adaptação a novas premissas econômicas em que o talento de investidores e executivos fará toda a diferença.


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