A Praça do Comércio, primeira sede da Bolsa do Rio, foi abandonada por corretores e comerciantes em abril de 1821. Projetada pelo arquiteto Auguste Grandjean de Montigny, a edificação mais moderna e imponente da cidade tivera solene inauguração nove meses antes, em julho de 1820, por ninguém menos que o rei Dom João 6º.
O Rio de Janeiro vivia a efervescência prévia à constitucionalização da monarquia absolutista portuguesa. Uma reunião política foi convocada para o prédio. Montaram-se arquibancadas em seu interior, de forma que o povo pudesse assistir ao encontro, a ocorrer num fim de tarde. Alguns agitadores convidaram claques organizadas para o evento, com a intenção de constranger os eleitores e subverter a ordem estabelecida.
Sem policiamento, mal se instalou o debate e a pressão das galerias manipuladas se transformou em coação física irresistível. A sessão terminou por se tornar uma assembleia popular, autêntico soviete, que deliberou a adoção imediata, no Brasil, da Constituição Espanhola e a proibição da partida da corte para Lisboa. Uma comissão dirigiu-se, às 10 horas da noite, à Quinta da Boa Vista para comunicar as decisões. Dom João 6º acedeu, como era de seu feitio, editando imediatamente um decreto que admitia a Carta de Espanha. Mas o primogênito, Dom Pedro, prestes a assumir a regência do Reino do Brasil, não se conformou e preparou a resistência.
Às 5 horas da manhã do domingo, 22 de abril, uma tropa militar atacou e invadiu a sede da Bolsa do Rio com intensa fuzilaria. As versões mais corriqueiras dão conta de um morto: o negociante de vinhos Miguel Feliciano de Souza, que fornecera à plateia, gratuitamente, barris de vinho de seu armazém, e assim contribuíra para aquecer os ânimos do encontro.
Os eventos foram, incontestavelmente, traumáticos. No dia seguinte, a parede externa da construção de Grandjean de Montigny amanheceu pichada com os termos “açougue real”. E a consequência notória foi que nunca mais o mercado voltou ao local. As reuniões diárias retornaram a lugares abertos, como as imediações da Alfândega ou o Largo da Batalha, junto ao Morro do Castelo, onde aconteceriam pelos anos seguintes.
O imóvel permaneceu desocupado até 1824, quando Dom Pedro, já imperador, o incorporou à alfândega da capital de então. O prédio resistiu ao tempo e, hoje, bem-conservado, é um polo cultural conhecido como Casa França Brasil, em frente à Igreja da Candelária, no centro da cidade do Rio de Janeiro.
Montagem com fotos extraídas da Wikipédia e do site Freeimages.
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