Brinde comportado
Ações da maior cervejaria do País oscilam pouco na bolsa, mas os efeitos da crise ainda estão por vir

Num momento em que as bolsas de valores do mundo inteiro estão instáveis — com quedas generalizadas nos preços dos papéis —, ganhar um pouquinho vira motivo de um brinde, ainda que bem comportado. Nos últimos seis meses, os papéis da maior cervejaria do Brasil e a quinta do mundo subiram 5,2%, para o preço de R$ 94. O motivo? Não, não foi o aumento de vendas das chamadas “loiras geladas”. Até porque, segundo especialistas, é bem possível que as estatísticas do ano passado, quando divulgadas, revelem um consumo nacional de cerveja empatado ou até menor que o do ano anterior.

Em 2007, o mercado fechou em 10,4 bilhões de litros, e as perspectivas para 2009 não são muito melhores do que isso. Em tempos de demissão, queda de renda e num verão em que guarda-chuva substitui o guarda-sol, fica mais difícil ser otimista. Também não está descartada a possibilidade de o setor encarar uma estagnação — algo que se repetiu entre 2000 e 2003, quando as vendas estacionaram em 8,4 bilhões de litros. Esse fato joga por terra os desempenhos anteriores, quando o setor cervejeiro festejava a expansão de dois dígitos. E põe em dúvida o aumento da capacidade de produção das indústrias, que expandiram para fazer frente a uma demanda que cresceu 2 bilhões de litros nos últimos três anos.

Mas previsões são previsões, ficam ao sabor das possibilidades. Se o cenário não é dos melhores e há chances de um mercado mais contido, falar do desempenho dos papéis de uma cervejaria pode parecer conversa de surdo. Mas, nesse caso (e por enquanto), não é. “Em um momento de crise, o papel da AmBev é defensivo”, diz Michael Findlay, gerente de Relações com Investidores (RI). “É uma indústria sólida, em que as vendas vêm crescendo marginalmente. E a AmBev tem uma gestão respeitadíssima, de confiança, o que gera menos impacto no papel”, afirma.

O executivo também chama a atenção para o fato — já comprovado — de que a AmBev sempre foi uma ótima geradora de caixa. E, na hora da crise, isso faz toda a diferença. O market share de cerveja da AmBev no Brasil é de 67,2%, segundo os números do terceiro trimestre do ano passado. Até setembro, antes de a crise mostrar a sua cara real no Brasil, a geração operacional de caixa da AmBev apresentava crescimento. “Nosso Ebitda alcançou R$ 2,03 bilhões durante o terceiro trimestre do ano passado, com expansão orgânica de 6,4%. No momento, é um número excelente”, reforça Findlay.

É claro que o executivo sabe que os tempos são outros, especialmente com o crédito escasso e caro. O primeiro semestre deverá “ser mais cauteloso”, nas palavras dele. “Quem tem caixa não vai sair gastando.” O cenário que se projeta é de vendas modestas, até porque o impacto da crise que se arrasta pelo mundo afora e só agora respinga mais fortemente no Brasil ainda não se refletiu no balanço da companhia. E tampouco nas vendas de cerveja. Findlay observa que a vilã, até então, era a pressão de preços sobre os alimentos. As chuvas que roubaram a cena do astro Sol, na sua temporada, também influenciaram no consumo de bebida. O volume de vendas de cerveja no Brasil (da AmBev) cresceu modestos 1,1% no último balanço.

O executivo refutou, porém, que a Lei Seca — que impõe mais rigor àqueles que gostam de ir além de “molhar o bico” e teimam em dirigir — tenha influenciado. “O grosso do volume de vendas das cervejas, no Brasil, é feito em botecos de esquina, perto de casa”, diz, deixando evidente que, nos bares da vizinhança, para beber, não é preciso carro. Do volume total, as cervejas premium (de maior valor) representam apenas 7%.

Especialistas de plantão não concordam e dizem que a Lei Seca gera uma diminuição no consumo de bebidas alcóolicas. E o cerco pode ir além. Há dezenas de projetos de lei pululando e a maioria deles impõe algum tipo de restrição às bebidas, sobretudo no quesito propaganda. Os mais pessimistas dizem que pode sair do papel alguma medida mais dura que coloque, por exemplo, imposições aos comerciais na televisão. Ou, até mesmo, fazer nessa indústria algo mais radical, como o que aconteceu na de cigarros. Tudo não passa de especulação. Por enquanto, além da Lei Seca, há uma restrição, no mínimo, curiosa: em propaganda de cerveja tem bebida, mulher bonita, praia, festa ou futebol, mas que ninguém se atreva a dar um único gole. Se o fizer, estará desobedencendo uma norma do Conselho Nacional da Autorregulamentação Publicitária (Conar). Nesse caso, o brinde vai só até o tintim.

, Brinde comportado, Capital Aberto


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