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Bom, mas não tanto
Depois de um ano excepcional e à luz de uma crise com proporções ainda pouco conhecidas, mercado aposta no crescimento interno, mas não espera repetir o feito de 2007

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Encerrado um ano tão vibrante para o mercado de capitais como o de 2007, é natural a vontade de repetir a dose. Na ponta da língua dos mais otimistas, persiste a pergunta: “Há chances de irmos tão bem em 2008 como no ano que passou?” A verdade, porém, é que são cada vez mais raras as vozes que respondem positivamente.

As razões para isso divergem. Alguns acreditam que as justificativas estão menos ligadas ao desempenho de 2008 e mais aos exageros de 2007, quando o crescimento interno foi muito superior ao esperado. “A taxa de crescimento verificada no ano passado esteve ligada a efeitos defasados dos cortes nos juros”, explica Fábio Knijnik, economista e analista sênior do Banco Espírito Santo (BES). Segundo dados do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre de 2007, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em dezembro, a formação bruta de capital fixo (FBCF), que aponta os investimentos na economia, cresceu 14,4% em comparação com o mesmo período de 2006. Analisando os dois trimestres, o consumo das famílias aumentou 6%, na 16ª alta consecutiva. Mesmo com a perspectiva de uma demanda menor este ano, Knijnik espera um crescimento de cerca de 4% para o País.

Outros já apóiam suas previsões em um cenário externo bastante diferente este ano. Os choques causados pelos créditos imobiliários de alto risco nos Estados Unidos (subprime) foram responsáveis pelos momentos de maior apreensão e volatilidade nos mercados mundiais em 2007. Para 2008, existe o consenso de que o ano não será tão bom para o crédito internacional. “Haverá uma diminuição grande da entrada de recursos na conta capital, em conseqüência da crise de crédito nos EUA e na Europa, e isso mudará bastante as condições que tivemos em 2007”, disse Edmar Bacha, economista e consultor sênior do Itaú BBA, em almoço com a imprensa, no dia 4 de dezembro. Ele prevê para este ano uma redução do investimento externo direto de R$ 35,6 bilhões para US$ 25 bilhões, com um crescimento econômico brasileiro menor, de 4%. Segundo ele, o dólar médio cairá em 2008 para R$ 1,77, contra R$ 1,94 no final de 2007, enquanto a taxa básica de juros deverá diminuir menos — a previsão é de dois cortes de 0,25 ponto percentual no decorrer de 2008, levando a taxa a 10,75%.

A CHINA NO CONTRAPESO — Alguns analistas apóiam-se na diminuição da dependência planetária em relação à economia norte-americana para justificar a avaliação que fazem do efeito do subprime. “Aquela famosa frase ‘quando os EUA espirram, o resto do mundo pega um resfriado’ já não causa tanto impacto. Hoje, o crescimento mundial não está mais tão dependente dos países desenvolvidos”, afirma Roberto Knopfelmacher, analista-chefe da GAS Investimentos. “O subprime não terá condições de afetar o mercado global de forma relevante. A possível desaceleração da economia norte- americana pode trazer uma certa instabilidade aos mercados globais, mas o aquecimento internacional deverá ser puxado, principalmente, pela Ásia”, diz Roberto Padovani, economista e estrategista de investimentos sênior para América Latina do Banco WestLB.

Estudo feito pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) mostra o encolhimento da participação norte-americana no PIB mundial. Em 2000, a economia dos EUA respondia por 21,4% de toda a riqueza produzida no planeta. Em 2006, a porcentagem caiu para 19,6%. Assim como os EUA, Japão e Europa Ocidental também participam menos da partilha. Analisando o mesmo período, o Japão perdeu 1 ponto percentual (caiu de 7,2% para 6,2%) e a Europa Ocidental passou de 16,9% para 14,6%. No caminho inverso, a China, que detinha 11% do PIB mundial em 2000, saltou para 15% em 2006. O FMI estima que o gigante asiático tenha crescido 11,5% em 2007. Para 2008, espera-se “apenas” 10%.

O subprime deverá causar uma retração do crédito internacional, mas a probabilidade de se revelar uma catástrofe é pequena

Muitos apostam que a China ainda vá manter o acelerado ritmo de crescimento pelos próximos anos. “Seu crescimento já não se apóia apenas na exportação, pois hoje há uma grande massa consumidora por lá. O forte êxodo rural chinês provocou o aumento de produtividade industrial e de renda do trabalhador”, explica Knopfelmacher.

Daniel Gorayeb, economista e analista de investimentos da Spinelli Corretora, pondera. Ainda que a dependência mundial em relação aos EUA venha diminuindo, ela continua para lá de representativa. “O maior risco da retração no crédito está na possibilidade de desaceleração extrema da economia norte-americana, criando uma recessão muito longa”, ressalta. Mas ele entende que a possibilidade de o subprime se revelar uma catástrofe é pequena: “O governo norte-americano tomou medidas para conter o problema, e os efeitos deverão ser localizados. O mercado brasileiro deverá passar por momentos de volatilidade, mas nada que tire o País do ritmo de crescimento”.

DEMANDA POR MINÉRIO, AÇO E ENERGIA — Favorecido pela alta demanda chinesa por commodities, o setor de mineração tem tudo para manter a eficiência dos últimos anos. Atualmente, o mercado de minério de ferro apresenta uma relação bastante estreita entre oferta e demanda. Em 2007, a sobreoferta da commodity foi de 2,9 pontos negativos. Segundo estudos feitos pela Credit Suisse First Boston (CSFB), o mercado deverá permanecer em déficit até 2010. Por isso, a tendência é de que os preços do minério de ferro sigam em escalada até o começo da próxima década.

O setor siderúrgico também é visto com bons olhos para este ano, devido à expectativa de aumento para o consumo interno de aço — em 2007, a produção de eletrodomésticos elevou-se 7,8%, e a de veículos, 10,7%. Considerado um dos mais eficientes do mundo na produção de aço, o País tem boas chances de se sair bem neste segmento em 2008. “A demanda por aços longos, puxada pelo aquecimento do setor de construção civil, também deverá fazer da siderurgia uma boa opção”, sugere Gorayeb.

O segmento de energia elétrica vive uma escassez de oferta motivada pelo crescimento econômico e pelo baixo nível de investimentos — combinação que termina em perspectivas de preços mais elevados e lucros maiores para as geradoras, principalmente as que tiverem energia descontratada. Estudo do UBS Pactual projeta a evolução do preço pago por megawatt-hora (MWh) de R$ 78, em 2007, para R$ 84, este ano, considerando a estrutura de usinas já estabelecida. “No caso de novas usinas, o preço salta para R$ 128 por MWh, já que grande parte do potencial hídrico remanescente no Brasil está na Região Norte, onde complicadores como impacto socioambiental e linhas de transmissão encarecem os projetos”, explica Knopfelmacher.

PREPARADOS PARA O SELO? — Este também é o ano de o Brasil receber o desejado investment grade, segundo previram diversos agentes de mercado ao longo de 2007. Mas há opiniões divergentes quanto a este ponto. Para alguns, o selo grau de investimento deve desembarcar em terras brasileiras em 2008, baseado no bom desempenho macroeconômico do País — crescimento sustentado, com baixa inflação e melhorias socioeconômicas. “Parte da alta da bolsa dos últimos anos se deve à perspectiva do investment grade. Entendo que ele deverá mesmo ocorrer em 2008, com boas chances de turbinar o mercado”, diz Knopfelmacher.

Estudo feito por Bloomberg, CMI Brasil e GAS Investimentos revela um desempenho superior de bolsas de países que atingiram o grau de investimento sobre as dos emergentes, no período que compreende um ano antes e um ano depois da obtenção da nota. A bolsa da Coréia do Sul, por exemplo, valorizou-se 229% entre janeiro de 1998 e fevereiro de 2000, contra 131% das bolsas dos emergentes. De janeiro de 2006 a outubro do ano passado, elas cresceram 71%, enquanto a bolsa da Índia protagonizou um aumento de performance de 125%.

Já Marco Aurélio Barbosa, analista-chefe da Coinvalores, acredita que o grau de investimento levará mais tempo para sair. Sua avaliação é de que, para desfrutar um ambiente investment grade — com um mercado de maior liquidez, beneficiado pela entrada de novos investidores estrangeiros —, o Brasil ainda precisa atingir alguns objetivos, como as reformas tributária e previdenciária. E é esse o ponto que mais preocupa Barbosa, principalmente após a não-aprovação da prorrogação da CPMF: “O governo ainda gasta muito, precisa diminuir a relação dívida/ PIB, mas não parece realmente preocupado em sanar a questão. A menos que o PIB cresça muito, o grau de investimento deverá ficar para 2009”, prevê.

Se for possível definir uma palavra-chave para este ano, ela será seletividade. A perspectiva de crescimento interno ainda é convidativa para os investidores em bolsa, mas algumas possíveis turbulências sinalizam que o tiro não poderá ser a esmo. Em bom português, pode-se dizer que a mamata acabou.


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