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Tributo ao professor Iran Siqueira Lima
, Tributo ao professor Iran Siqueira Lima, Capital Aberto

Eliseu Martins*/ Ilustração: Julia Padula

Iran Siqueira Lima, carioca que viveu décadas em Brasília e terminou paulistano. Fez carreira no Banco Central, onde serviu durante 15 anos — atuou como delegado do BC em São Paulo e diretor de Mercado de Capitais e de Fiscalização. Algo pouco conhecido: antes da criação da CVM, o Departamento de Mercado de Capitais do Bacen era o órgão responsável por controlar as bolsas de valores, as companhias abertas, os auditores independentes etc. Foi o professor Iran quem, em 1977, entregou todos os arquivos do departamento na criação da CVM, ao primeiro presidente da autarquia, Roberto Teixeira da Costa.

Foi dele a preparação da Circular 179, em 1972, que regulamentou as normas de auditoria e os princípios de contabilidade a serem seguidos pelas companhias abertas. Pela primeira vez, entre outras coisas, obrigou-se as companhias abertas a evidenciar o valor das vendas — por incrível que pareça, isso não era exigido pelo equivalente à Lei das S.As. então em vigência. Ele se antecipou em diversas matérias que hoje são corriqueiras, mas instituídas posteriormente, em 1976, pela Lei das S.As. (6404/76).

Em 1975, ele veio fazer o mestrado em Contabilidade na FEA/USP, conheceu a então recém-criada Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras), vinculada à FEA/USP, e deu-lhe um impulso enorme. Até então os cursos de mercado de capitais eram comuns no Rio de Janeiro e escassos em São Paulo. Partiu do professor Iran um grande incentivo ao ensino da matéria na capital paulista, por meio do Fumcap (Fundo de Mercado de Capitais).

Na década de 1980, ele acabou ingressando como professor na FEA/USP, fez doutoramento e, em 1991, assumiu a presidência da Fipecafi, que hoje lhe deve quase tudo: crescimento em nome e imagem, qualidade de cursos, expansão física (hoje a escola tem vários prédios).

A lembrança mais comum durante a homenagem que os “amigos do Iran” lhe prestaram no último dia 18 de maio, no entanto, foi o fato de o professor ter se notabilizado pela ajuda que ofereceu a seus alunos, funcionários e amigos. Talvez seja o professor com maior número de alunos premiados — e não por acaso: incentivava-os a participar de todo e qualquer certame, concurso, prêmio etc. Cutucava-os para escreverem artigos e livros e ficava por trás, sem jamais aceitar que seu nome fosse colocado na frente dos demais autores nesses textos. A quantos ajudou procurando bolsas de estudo, inclusive no exterior, ou então auxiliando pessoalmente. Quantos imigrantes africanos, paupérrimos, vieram para a graduação na FEA e receberam a acolhida do professor, que chegou a receber alguns na sua própria casa e depois os ajudou sem que a mão esquerda soubesse o que a direita fazia. Só os mais íntimos descobriam porque flagravam certos atos ou porque os favorecidos faziam questão de contar. Grandes professores e executivos hoje falam com orgulho sobre quanto de suas carreiras devem a ele.

Executivo empresarial, consultor, membro de muitos conselhos, racional, atuante, empreendedor — mas, acima de tudo, Humano, muito Humano, mas muito mesmo, com inicial maiúscula.

Iran sofreu o que não deveria ter sofrido no final de sua vida. Não só fisicamente, portador de doença rara que atingiu algo como 80 pessoas no mundo todo, mas também com algumas vicissitudes, contrariedades e injustiças. Sem jamais, todavia, perder seu autocontrole, sua irritante calma, sem jamais proferir uma palavra de rancor. Somente amor e compreensão.

Nosso maior tributo a você, querido colega e amigo Iran.


*Eliseu Martins ([email protected]) é professor emérito da FEA-USP, consultor e parecerista na área contábil


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