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Muito prazer, meu nome é beta – Parte 1
Um pouco da teoria da diversificação dos riscos nos portfólios de investimento
Ilustração de Alexandre Póvoa

Alexandre Póvoa*/ Ilustração: Julia Padula

O beta (β) é um dos conceitos mais populares do mercado de ações. Formalmente, o indicador consiste no coeficiente angular de uma regressão, que visa quantificar o grau de variação de determinado ativo em função da variação de outro ativo. Traduzindo: se um ativo B variar, por exemplo, 5%, quanto oscilará o ativo A, caso haja um grau de dependência entre um e outro?

Para as ações negociadas no Brasil, normalmente o beta informado por corretoras, bancos e consultorias reflete o histórico de variação de uma ação de companhia aberta em relação ao Ibovespa, que é o principal índice de mercado local. Mas o beta também pode ser calculado em relação a outros índices, como IBX, indicadores setoriais ou até mesmo internacionais. Depende, basicamente, de como o investidor enxerga o seu mundo de investimentos, com olhar global ou visão local.

De forma simplificada, uma ação com beta inferior a 1 tende a ser menos sensível às variações do outro ativo. Em outras palavras: o histórico do papel mostra que ele costuma cair menos/mais do que a oscilação do Ibovespa em ocasiões de queda/alta. Já um papel com beta superior a 1 tende a se mostrar mais sensível às variações do mercado, desvalorizando-se mais do que o Ibovespa quando este cai e apresentando valorização maior quando o índice está em alta.

Outro tipo de regressão pode ser construído associando-se preços de ações com ativos reais, como commodities. A partir de uma regressão entre as duas variáveis — ação da Vale e minério de ferro, por exemplo — pode se chegar a uma relação que permita se estimar a oscilação da ação da mineradora com base na variação de preço da commodity.

Variação do preço da Vale (US$) = 0,03 + 0,99 (variação do preço do minério)

O beta de 0,99 no resultado da regressão indica que, para cada variação de 10% no índice bursátil (para cima ou para baixo), a ação deverá, respectivamente, subir ou cair 12,9%.

Já o coeficiente de determinação (R2) mostra em quanto a oscilação da variável explicativa (x) ajuda a justificar a variação de cotação da variável a ser explicada — representa aderência. No caso da Vale, o R2 da regressão atingiu 60%, o que significa que a variação da ação da mineradora explica a mudança do preço do papel nesse percentual. Apenas 40% das oscilações advêm do chamado risco específico, fatores diversificáveis (aqueles que uma boa composição da carteira pode eliminar) que afetam a empresa.

É importante ressaltar que o R2 (coeficiente de determinação) é relevante para se definir a utilidade do β na regressão. Se for muito baixo, significa que a variável explicativa x escolhida (no caso, o minério de ferro) é fraca para influenciar os movimentos de y (preço da Vale). Portanto, nesse caso, o peso dos fatores específicos será mais relevante, com a regressão linear e o β perdendo força.


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A teoria considera que uma empresa pode diversificar todos os riscos, sobrando apenas o risco de mercado (não diversificado) representado pelo beta. O risco-empresa é diversificado no momento em que se compra diversas ações diferentes para um portfólio.

Já o risco-setor é diversificado no momento em que se compra diversas ações de distintos setores. O risco-país é diversificado no momento em que se compra diversas ações de diferentes segmentos em diversos países. Por fim, o risco-classe de investimento é diversificado no momento em que se compra diversos ativos de diferentes classes de investimento (renda fixa e variável) em diferentes países.

Quando o investidor já se considera em um estágio de diversificação quase perfeito, eclode, em 2008, a pior crise financeira mundial após 1929. Todos os preços de ativos sofrem — ações, títulos de crédito, preços de imóveis e de commodities. Quando nem títulos soberanos nem simples contas bancárias são mais considerados seguros, chega-se ao auge do conceito de risco de mercado não diversificável. Em 2008, a maioria esmagadora dos preços dos ativos no mundo foi impactada negativamente e, se fosse possível, muitos investidores teriam preferido passar as noites com o dinheiro literalmente “embaixo do colchão”. Como poderíamos ter nos precavido em termos de diversificação? Pelo que se tem notícia, não existe ainda mercado financeiro em outros lugares do Sistema Solar…

O beta nada mais é do que a tentativa matemática (talvez a mais simples e, por isso, a mais engenhosa) de se replicar o risco não diversificável, aquele de que não se consegue fugir, de uma economia. Continuaremos a falar dele na próxima coluna.


*Alexandre Póvoa ([email protected]) presidente Canepa Asset Brasil. Autor dos livros Valuation, como Precificar Ações e Mundo Financeiro, o Olhar de um Gestor


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