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Alegria de janeiro deve durar pouco
Boa performance da bolsa de valores brasileira é vista com ceticismo por gestores de recursos
Bolsa de valores 2022
O bom desempenho da bolsa de valores em janeiro surpreendeu muitos gestores de recursos — Imagem: freepik

O ano começou de forma supreendentemente positiva para a bolsa de valores brasileira: o Ibovespa subiu 6,98% em janeiro, depois de ter recuado quase 12% em 2021. A opinião de especialistas, entretanto, é que os bons ventos continuarão a soprar a favor do mercado acionário por pouco tempo. Inflação elevada, juros em alta, atividade econômica debilitada e cenário eleitoral incerto são elementos que, mais cedo ou mais tarde, tendem a fazer com que uma tempestade perfeita recaia sobre as companhias e o mercado de ações.

O bom desempenho da bolsa de valores em janeiro surpreendeu muitos gestores de recursos — entre eles Fabio Passos, CIO da CA Indosuez no Brasil. “Me chamou a atenção como a bolsa local conseguiu performar bem apesar do ambiente de maior volatilidade e aversão ao risco que se viu lá fora”, comenta. No exterior, o pessimismo cresceu em janeiro com a sinalização do Fed (banco central americano) de que anteciparia a alta dos juros e diminuiria de forma mais rápida a sua compra de títulos no mercado americano. A perspectiva de redução de liquidez chacoalhou as bolsas americanas e impulsionou uma depreciação dos ativos. Em janeiro, o índice S&P 500 recuou 5,2% e o Nasdaq, 8,9%.

Essa combinação — de alta no mercado local e recuo no exterior — costuma ser bastante rara, conforme destaca Alexandre Povoa, estrategista da Meta Asset. Segundo ele, nos últimos onze anos, a bolsa brasileira subiu enquanto a americana caiu apenas em 10% das observações. Em janeiro, essa situação atípica foi motivada por um fator circunstancial: o ingresso de 4,5 bilhões de dólares provenientes da entrada de estrangeiros na B3. Com a queda no preço dos ativos de risco nos EUA por causa do anúncio do Fed — e a expectativa de que eles se desvalorizem ainda mais quando os juros subirem —, muitos investidores internacionais buscaram oportunidades em outros mercados. “Para eles, o preço das ações brasileiras em dólares está uma enorme barganha”, afirma Passos. A questão é que, conforme as eleições — e a volatilidade que ela traz — se aproximem, é pouco provável que esse fluxo se mantenha nesse patamar.

Frustrações à vista

Outro fator que leva os gestores de recursos a acreditarem que o mercado acionário não demorará a sucumbir tem a ver com as perspectivas pouco animadoras para a economia brasileira. A inflação é, atualmente, uma das principais preocupações dos investidores — e não só no Brasil. Para frear a alta dos preços — que nos EUA chegou a 7% em 2021 e na Alemanha, a 4%, apenas para citar alguns exemplos —, os países desenvolvidos inevitavelmente terão que aumentar as suas taxas de juros. “O ano será de aperto monetário no mundo, o que vai afetar o crescimento mundial”, observa Povoa.

No Brasil, onde a inflação atingiu 10,06% no ano passado, a taxa de juros vem subindo desde março de 2021. Na última quarta-feira, dia 2, em meio ao aumento da inflação de alimentos, combustíveis e energia, o Banco Central (BC) elevou a taxa Selic de 9,25% para 10,75% ao ano. Com a oitava alta consecutiva, os juros brasileiros voltaram ao patamar de dois dígitos pela primeira vez em quatro anos e meio. A escalada, no entanto, não é o que mais preocupa Fausto Filho, CIO e gestor de renda fixa e crédito da XP Asset. O que lhe tira o sono é a incerteza sobre quanto tempo os juros altos podem durar. “O setor corporativo de nenhum país aguenta essa situação por muito tempo”, enfatiza. De fato, taxas de juros elevadas prejudicam substancialmente os negócios. Elas retraem o fluxo de caixa livre das empresas, aumentam o risco corporativo e inibem a atividade econômica.

O BC, no entanto, já anunciou que o mercado pode aguardar novas altas da Selic, diante da persistência das pressões inflacionárias. Neste ano, elas devem vir, na opinião do gestor da XP, principalmente do setor de serviços, devido à redução do número de pequenos negócios, à volta paulatina das pessoas às ruas e ao aumento do salário-mínimo. Já as tarifas de energia elétrica e os preços dos combustíveis, maiores responsáveis pelo aumento dos índices de preços em 2021, devem causar menos impacto neste ano, na sua opinião.

Considerando o cenário de inflação acelerada e juros elevados — a projeção do último boletim Focus é de que a Selic chegue a 11,75% no fim de 2022 —, Filho espera que este ano seja de estagnação, o que significa em suas planilhas uma faixa de crescimento de 0% a 0,5%. E a depender do resultado das eleições e do humor dos agentes de mercado, 2023 também pode ser um ano penoso. Povoa estima que o Produto Interno Bruto (PIB) do País possa oscilar entre uma queda de 0,5% e uma expansão de 0,5% no ano que vem, percentuais que considera extremamente frustrantes.

A vez do value investing?

Diante das adversidades enfrentadas pela economia brasileira, os gestores de recursos vinham privilegiando investimentos em ações de companhias com alto potencial de crescimento no longo prazo (growth investing), cujas atividades tivessem pouca correlação com o PIB. No caso da Treecorp Investimentos, essa estratégia é permanente, já que a gestora se dedica ao private equity. A asset, explica o sócio Danilo Soares, aporta recursos em empresas dos setores de consumo, saúde, tecnologia e serviços, cuja expansão seja afetada apenas em cenários extremos. Os ativos-alvo da casa são de médio porte (faturamento entre 50 milhões e 400 milhões de reais), e a saída dos investimentos é feita principalmente por meio da venda de participações para investidores estratégicos.

Segundo Soares, essa opção de desinvestimento acaba sendo a mais oportuna, uma vez que são raros os períodos de fartura de ofertas públicas iniciais de ações (IPOs) na bolsa brasileira. O ano de 2021 foi profícuo, com a B3 abrigando 46 aberturas de capital, mas para 2022 as perspectivas são pouco animadoras. As incertezas relacionadas à economia já fizeram com que pelo menos 13 empresas desistissem de seus IPOs neste ano. Um sinal de que os empresários tampouco estão confiantes de que a boa fase da bolsa brasileira irá se estender por muito mais tempo.

E enquanto a tempestade não chega e os preços permanecem inflados pela entrada de capital estrangeiro, Passos, do Indosuez, acredita que a tendência é que os gestores de recursos migrem da estratégia do growth investing para o value investing — modalidade voltada a pinçar ações de empresas com bons fundamentos, mas que estejam subvalorizadas. Na sua opinião, pelo menos até que o processo eleitoral avance, ações de valor e de setores ligados a commodities devem performar bem. Depois disso, o horizonte torna-se espessamente nublado. Qualquer previsão sobre os rumos da economia e da bolsa de valores a partir daí será um grande tiro no escuro.

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