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Atropelados pela crise
Antes disputados a peso de ouro, profissionais de Relações com Investidores começam a ser descartados pelas empresas

, Atropelados pela crise, Capital AbertoOs IPOs cessaram e, desde então, o que era uma acirrada disputa por profissionais especializados na área de Relações com Investidores (RI) deu lugar a uma discreta dança das cadeiras. Já não é preciso muito esforço para encontrar executivos experientes em busca de recolocação, especialmente entre aqueles que migraram para empresas estreantes. Da mesma forma, é possível localizar diversas companhias em que o cargo de diretor de RI (DRI) foi recentemente acumulado por outro executivo. Nada alarmante, dizem os especialistas. O movimento, no entanto, é um sinal de que o relacionamento com os investidores em tempos de crise na bolsa de valores não é prioridade para algumas companhias que decidiram abrir o capital.

O contador Rodrigo Krause é um exemplo do movimento que se verifica no mercado. Durante dez anos integrou a equipe de RI da Gerdau. Deixou a siderúrgica e o cargo de gerente para buscar novos desafios profissionais. Lançou-se ao mercado quando diversas companhias se preparavam para estrear na BM&FBovespa. Optou pela Helbor, incorporadora imobiliária, onde ingressou como diretor. Exerceu a função por cerca de um ano e meio até ser dispensado, em janeiro.

O posto de Krause foi acumulado por Roberval Toffoli, diretor financeiro da incorporadora. A sobreposição dos cargos é comum no mercado financeiro. A diferença agora é que essa prática começa a ser adotada também em companhias que, desde o IPO, destacavam um profissional exclusivamente para a atividade de relacionamento com o investidor. No caso da Helbor, Toffoli argumenta que a decisão está baseada na necessidade de conhecimento das peculiaridades do setor. “Nosso segmento é complexo e cheio de particularidades, como as contábeis. É preciso conhecer muito bem esses detalhes e, por isso, optamos pelo acúmulo das funções”, diz.

Um passar de olhos nos avisos de mudanças nos cargos de DRI enviados ao mercado evidencia que esse movimento não está restrito às companhias que chegaram à bolsa recentemente. No começo de janeiro, a Energias do Brasil informou a renúncia do então diretor vice-presidente de finanças e RI, Antônio José Sellare, e anunciou que a função seria acumulada por Miguel Dias Amaro, também diretor de controle de gestão. Procurada pela reportagem, a empresa não retornou. Na Parmalat, outro caso de acumulação dos cargos. Na reunião do conselho de administração realizada em 16 de fevereiro, Rodrigo Ferraz Pimenta da Cunha, diretor jurídico, foi designado para exercer também as atividades de diretor administrativo financeiro e de RI.

“Há alguns sinais de diminuição das equipes”, confirma Geraldo Soares, presidente do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (Ibri). Outra evidência é a dificuldade que o instituto passou a enfrentar para localizar os responsáveis pela área de RI de algumas companhias. Soares não classifica os indícios como uma tendência generalizada de redução das áreas de RI, mas se preocupa com a repercussão que esse tipo de decisão terá no futuro. A atitude pode ser interpretada como uma desvalorização do relacionamento com o mercado durante os períodos de crise, o que pode não ser bem visto quando o otimismo retornar. “A mensagem que fica é: há empresas que só carregam a alcunha de companhia aberta.”

A função de RI era exercida por um executivo com dedicação exclusiva e passou a ser acumulada por outro diretor

A falta de consciência da importância que o relacionamento com o mercado tem para uma empresa que abre o capital é, talvez, o maior dos problemas. “Muitas se lançaram para captar recursos sem pagar juros e fomentar projetos de crescimento, mas esqueceram que o IPO tem um custo”, diz um profissional de RI que foi dispensado há pouco tempo de uma companhia novata. Valter Faria, da consultoria CorpBrasil, lembra que a falta de comunicação com os investidores é o grande pecado que algumas companhias passam a cometer. “Há casos em que o RI foi visto como um mal necessário para ir à bolsa”, afirma. Rodrigo Krause, ex-Helbor, confirma: “Há uma visão míope de que a área, por não trazer resultados imediatos, representa custos”.

Os salários elevados também podem estar por trás desse movimento de redução dos quadros. No período em que essas empresas estrearam na Bovespa, a demanda por RIs era grande. Para vencer a disputa e contratar um bom profissional, era preciso bancar uma remuneração atraente, de preferência com uma parcela variável. Nos tempos de bonança, houve também a promoção de profissionais de nível gerencial a cargos de diretoria. Alguns deles, talvez, não tenham demonstrado a experiência necessária para lidar com o atual momento econômico. “Chamo esse processo de juniorização”, diz Valter Faria. Segundo ele, as companhias se apressaram para crescer, mas deixaram para trás preocupações com o planejamento de longo prazo.

Reduzir investimentos na área de RI, neste momento, é considerado um contrassenso. Há sinais claros de que grandes investidores, especialmente os nacionais, buscam oportunidades de compra com a relação custo/benefício atraente. Os fundos brasileiros ficaram de fora da maioria dos IPOs devido aos preços elevados das ações e, agora, adquirem participações acionárias relevantes. Seria, portanto, a hora certa de investir na aproximação com investidores em potencial. As companhias tradicionais conhecem bem essa estratégia e já a colocaram em prática. “As grandes empresas estão fortalecendo suas áreas de RI porque perderam muitos profissionais na época dos IPOs”, comenta Joseph Teperman, gerente da área de finanças da Michael Page International Brasil.

Há, no entanto, uma diferença fundamental entre aqueles que buscam recolocação hoje e os que se lançaram ao mercado no período de euforia. Se antes eram seduzidos por planos de opções de ações (stock options) de encher os olhos — e que agora perderam atratividade diante da acentuada desvalorização das ações — , atualmente são atraídos por companhias que lhes ofereçam bons projetos. “A guinada financeira estava determinando as escolhas. Hoje, eles querem, em primeiro lugar, conhecer a proposta de trabalho”, diz Teperman.

Postos de CFO também são alterados


As transformações para quem faz carreira no mercado de capitais não se restringem aos departamentos de RI. Desde a eclosão da crise econômica, o mundo dos executivos financeiros, conhecidos pela sigla Chief Financial Officer (CFO), passou por mudanças significativas. Ficou para trás o tomador de recursos em condições favoráveis e executor de projetos de expansão e entrou em cena o profissional com habilidade para lidar com situações adversas, enfrentar a redução de liquidez e colocar projetos em compasso de espera.

“O momento do mercado pede profissionais com competências distintas daquelas exigidas nos tempos de euforia”, afirma Renato Furtado, diretor executivo da Russell Reynolds, empresa de headhunter. Prova disso é o aumento da procura por executivos financeiros. “Está havendo muita movimentação entre os CFOs. No momento, tenho seis processos em execução”, diz Furtado. Adequar o perfil do executivo à situação do mercado é um dos motivos das recentes contratações. As perdas com operações financeiras, especialmente envolvendo derivativos, também ajudaram a movimentar o segmento.


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