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Aposta nos jogos
No rastro da Copa e da Olimpíada, gestores montam produtos voltados à infraestrutura

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Quando o Rio derrotou Madri e conquistou o direito de sediar os Jogos Olímpicos de 2016, o sócio da corretora Petra, Ricardo Binelli, fez uma avaliação informal com sua equipe sobre os setores da economia que mais se beneficiariam com a notícia. Ele ganhou convicção em suas projeções ao visitar Barcelona, numa viagem de férias em outubro de 2009, logo após o anúncio da vitória carioca. A realização da Olimpíada de 1992 transformou a capital catalã — fez o turismo disparar e a infraestrutura se desenvolver. “Os espanhóis me diziam que seria impossível segurar o fluxo de recursos para o Brasil”, lembra. Pensando nisso, Binelli decidiu estruturar um fundo de investimento em ações de companhias de infraestrutura, que deve ser lançado nos próximos meses. A exemplo de bancos e gestoras, a Petra quer aproveitar o boom de obras em torno dos dois maiores espetáculos esportivos do mundo — a Copa de 2014 e os Jogos de 2016 — para fisgar investidores.

Diferentes dos fundos tradicionais de infraestrutura, veículos criados para os jogos se concentram em poucas indústrias

Eventos como esses costumam consumir somas elevadas de capital estatal e privado. Só para o mundial de futebol, a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) calcula que o País precisará investir cerca de
R$ 84,4 bilhões. A maior parte das despesas é relacionada a meios de transportes urbanos, como metrô, trem e ônibus (R$ 59 bilhões, ou 69,9% do total); saneamento básico, com R$ 12,4 bilhões; e aeroportos, com R$ 4,3 bilhões. Divulgado mês passado, um levantamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para o período de 2010 a 2013 estima que investimentos em projetos de energia elétrica, portos, telefonia, estradas e ferrovias chegarão a R$ 274 bilhões, montante 37,3% superior aos R$ 199 bilhões aportados entre 2005 e 2008.

, Aposta nos jogos, Capital AbertoOs prognósticos favoráveis de crescimento acelerado em setores de infraestrutura motivam as instituições a criar fundos temáticos. No fim de fevereiro, o banco Santander lançou o Santander FIC FI Infraestrutura Ações, um fundo de investimentos em indústrias que vão pegar carona na copa e na Olimpíada. A aplicação mínima é de R$ 2 mil para o varejo e R$ 50 mil para investidores do segmento de private banking. O Bradesco FIA Infraestrutura surgiu em 2007, época em que se definiu que o mundial de futebol ocorrerá no Brasil. Somente investidores qualificados (com poupança mínima de R$ 300 mil), sejam eles institucionais ou pessoas físicas, podem aplicar diretamente no fundo, com aporte inicial a partir de R$ 50 mil. Correntistas do segmento prime e o varejo de renda mais baixa precisam investir no FIA por meio de FICs específicos, com aplicações mínimas iniciais de
R$ 1 mil e R$ 500, respectivamente.

Quem investir nesses fundos deve estar consciente de que retornos mais atraentes só virão no médio ou longo prazo

O Banco do Brasil é outro que está acertando os detalhes de seu fundo com viés olímpico, assim como o Itaú Unibanco. Não por acaso, o Rio Wind, um fundo de ações do Itaú Unibanco distribuído no Japão no fim do ano passado, obteve captação recorde — de R$ 1,2 bilhão, a maior dentre todos os fundos estreantes no mercado nipônico em 2009 —, graças ao apelo olímpico utilizado na divulgação do produto. Os japoneses, que viram Tóquio ser preterida pelo Rio de Janeiro, sabem muito bem que efeitos a organização de uma Olimpíada pode causar. Eles receberam os Jogos em 1964, num período de grande prosperidade econômica.

NÃO VALE TUDO — Os dois eventos esportivos estão dando aos gestores a oportunidade de oferecer carteiras diferenciadas. Enquanto os fundos tradicionais identificados como de infraestrutura abrigam vários segmentos com pesos diferentes, os veículos voltados para a copa e a Olimpíada concentram uma quantidade menor de indústrias — justamente aquelas que tendem a tirar proveito direto dos preparativos para as festas: construção civil, energia elétrica, logística de transportes e siderurgia.

O Santander e o Bradesco saíram na frente. O primeiro começou a planejar seu fundo em dezembro de 2009, dois meses após a confirmação da Cidade Maravilhosa como sede dos Jogos Olímpicos de 2016. “Antes mesmo do anúncio da escolha do Rio, já percebíamos grande interesse de empresas e investidores em projetos ligados aos dois eventos”, comenta Alexandre Silvério, superintendente de gestão dos fundos de ações do Santander Asset Management, divisão de administração de recursos do banco espanhol. O produto do Santander é um fundo de investimento em cotas (FIC) de fundos de ações do setor de infraestrutura. Silvério espera que o fundo termine o ano com uma captação de
R$ 50 milhões. O banco avaliou que os setores de energia, logística, siderurgia e construção civil são os que têm mais chances de expandir nesse contexto. “Mídia e tecnologia da informação também, mas em patamar inferior”, acrescenta.

Com características semelhantes às do fundo do Santander, a carteira do Bradesco criada em 2007 após a escolha do Brasil para sediar a copa foi estimulada também pelo lançamento, na época, do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A experiência dos fundos com esse perfil nos países onde ocorreram tais eventos foi o principal motivador do banco para reproduzir a ideia, segundo Herculano Aníbal Alves, superintendente executivo de renda variável do Bradesco Asset Management (Bram).

A carteira está mais concentrada em construção civil, seguida de mineração, siderurgia e logística de transportes. Alves revela que a posição do fundo no dia 11 de fevereiro era de R$ 123,7 milhões, mas preferiu não contar qual a sua expectativa de captação para este ano. “Esse tipo de produto está começando a se consolidar agora”, observa.

Para o Banco do Brasil, a copa e a Olimpíada fazem parte da agenda de crescimento do País, ao lado dos projetos do pré-sal e do PAC. “Esses quatro fatores serão grandes fomentadores dos projetos que estarão por vir”, disse o diretor da BB Gestão de Recursos (BB DTVM), Carlos Massaru Takahashi. O fundo de infraestrutura que deverá estrear até o fim deste mês de março engloba ações de telecomunicações, energia, concessões rodoviárias, logística e serviços financeiros.

Sem dar detalhes sobre o novo fundo, Takahashi comenta que o produto terá tíquete baixo para atrair o investidor de varejo e uma taxa de administração “razoável”. O diferencial desse fundo é que parte da taxa será usada para apoiar projetos sociais. “Uma parcela será destinada à formação de aprendizes de língua estrangeira, para servirem como intérpretes na copa ou na Olimpíada”, observa. A expectativa de captação do novo fundo é alta, assinala Takahashi. Ele espera que o patrimônio líquido da carteira alcance R$ 1 bilhão nos próximos três anos. “A captação será maior à medida que as agendas de eventos se aproximarem do fim e os projetos começarem a dar retorno”, diz.

Diferentemente das outras casas, o fundo da Petra terá, além de empresas de infraestrutura, serviços e consumo. “Segmentos como aluguel de carros serão considerados”, indica Binelli. Sua ideia é comprar diretamente ações de companhias e determinar que o aporte inicial no fundo seja entre R$ 20 mil a R$ 50 mil.

OS RISCOS DO JOGO — Quem estiver pensando em investir nesses fundos deve estar consciente de que os retornos mais atraentes só devem vir em médio ou longo prazo, pois os projetos levarão anos para ficar prontos e começarem a dar retorno. Também se recomenda que os recursos destinados não exijam saques imediatos. Na página eletrônica do Bradesco, consta que a liquidez do Bradesco FIC FIA Infraestrutura é “média”, uma vez que o resgate da aplicação demora quatro dias para cair na conta corrente. O site do Santander informa que o público-alvo do fundo de infraestrututa são “(…) investidores pessoa física e jurídica com horizonte de resultados no longo prazo”.

Eventuais atrasos de cronograma das obras podem ocorrer, mas não representam um risco elevado. “Temos tempo para esses investimentos”, afirma o professor de finanças públicas da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), Adriano Biava. Para ele, o setor público está empenhado em realizar esses eventos com responsabilidade. “São dois eventos que levarão a imagem do Brasil ao exterior no que se refere à organização.” Não bastasse o comprometimento do governo federal na realização dos eventos, as entidades mundiais que regem o futebol e os Jogos Olímpicos (a Fifa e o COI) exercem rígida fiscalização do andamento das obras. Falhas graves podem ser punidas com pesadas multas e descrédito da comunidade internacional, diz Binelli, da Petra Asset.

A necessidade de obras de expansão da infraestrutura está levando muitas empresas a procurar recursos no mercado de capitais, o que pode fazer com que várias delas venham a participar dos fundos de infraestrutura no futuro. Das cinco empresas que entraram com pedidos de registro de oferta pública inicial (IPO, em inglês) na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) no início do ano, até 28 de fevereiro, quatro são de infraestrutura. Três delas — Primav Ecorodovias, Mills Estruturas e Serviços de Engenharia, e Júlio Simões Logística — comentaram nos respectivos prospectos preliminares que pretendem levantar recursos para tocar obras ligadas à copa e aos Jogos Olímpicos.


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