Ampliando a sala de aula
Depois de captar meio bilhão de reais na bolsa e conquistar a GP como sócia, Estácio de Sá foca em expansão

O número é cruel: são 14,1 milhões de analfabetos no Brasil. Tanta gente sem saber ler nem escrever levou o país a ter um dos piores índices de analfabetismo da América Latina, atrás da Bolívia, Suriname e Peru. Os números são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) e referem-se a 2007. Há um dado curioso e interessante aqui: naquele mesmo 2007, mais precisamente em julho, uma rede carioca de ensino superior passou o chapéu para investidores e recolheu um pouco mais de meio bilhão de reais. Era a estréia da Estácio Participações na bolsa de valores.

A companhia, que já foi uma instituição sem fins lucrativos e trocou de lado antes da oferta de ações, chamou atenção outra vez recentemente. Em maio, quando os mercados mundiais já azedavam com os respingos da crise americana, a GP Investimentos — a mesma que vendeu recentemente sua posição em ALL, cujas ações foram destaque negativo desta seção — resolveu investir suas fichas na Estácio. Pagou um prêmio de 15% sobre o preço do papel e levou 20% da companhia, por R$ 259 milhões. Mas não seria um contra-senso investir em uma empresa de ensino universitário num país de analfabetos?

Depende. A resposta é sim, se a perspectiva do investidor for de curtíssimo prazo. Num horizonte mais distante, com os mercados mundiais menos ouriçados, a situação pode ser bem diferente. Hoje, a Estácio Participações já é uma “small cap” cheia de lustro. Nos seis meses entre março e setembro, as suas ações subiram 47%, deixando claro que essa empresa, apesar da liquidez enxuta, está indo impressionantemente bem para os padrões de uma novata na bolsa, ainda mais num cenário de crise. E foi justamente esse desempenho que a colocou como destaque de alta na seção Lente de Aumento, que acompanha o sobe-e-desce do mercado de capitais.

Analistas de sete instituições financeiras que cobrem a empresa são unânimes em recomendar a compra do papel da Estácio Participações. O preço alvo mais baixo projetado é de R$ 31,10, carimbado pelo Unibanco. O mais alto, de R$ 50, tem a assinatura do UBS. Por enquanto, os valores ainda estão abaixo da expectativa dos bancos: a ação fechou outubro cotada a R$ 13,85, bem abaixo do preço do IPO, de R$ 22,50.

“É uma empresa redonda, com caixa alto, pequeno endividamento e boas perspectivas”, diz o analista Marco Saravalle, da Coinvalores. Ele, que projeta preço alvo para o papel de R$ 32, diz que a empresa surpreendeu positivamente. “No começo, a Estácio Participações passava a sensação de ser uma empresa atrasada, mas, logo depois da entrada da GP, já aderiu ao Novo Mercado e vem dando sinais de que irá reduzir custos e ficar mais ágil.” O conhecido estilo de gestão da GP, que põe o lucro sempre em primeiro lugar, se traduziu nas ações da Estácio Participações. Ela é uma das empresas que acumula a maior alta da Bovespa este ano.

A expectativa em torno dessa empresa carioca — que nasceu como uma faculdade de direito fundada pela discretíssima família  Uchoa Cavalcanti — se sustenta justamente naquilo que poderia, em princípio, parecer uma incongruência: o potencial da educação no Brasil. Apesar de ainda ter um dos piores índices do continente latino-americano, o analfabetismo brasileiro melhorou e vem caindo progressivamente desde 1997. O Brasil, além disso, é o maior mercado de ensino superior da América Latina e o quinto maior do mundo em número de alunos matriculados, segundo dados da Unesco, do MEC e do Inep citados num amplo e detalhado relatório da Coinvalores.

Embora o país e o mundo ainda enfrentem um período de incerteza em relação ao futuro, é importante ressaltar que o avanço da classe média faz toda a diferença para as empresas de educação privadas. Em especial porque a tão propalada classe C, agora com mais dinheiro e acesso ao crédito, se tornou pela primeira vez a maior parte da população. E essa turma foi buscar as salas de aulas. Leia-se privada. Hoje, 76% dos estudantes de terceiro grau estão em redes de ensino particulares. O número de vagas nas instituições públicas tem crescido modestamente — passou de 1,4 milhão para 1,5 milhão no ano passado. As vagas nas redes privadas, em contrapartida, subiram de 4,4 milhões para 4,7 milhões.

Com dois centros universitários e 16 faculdades, que contam, em conjunto, com 68 campi, a Estácio registrava aproximadamente 192,8 mil alunos de graduação matriculados. É uma das maiores do país, competindo, aluno a aluno, com a Anhanguera  Educação — a primeira rede de educação a debutar na Bovespa. Ambas têm o foco em curso superior e cursos profissionalizantes. “O perfil desses estudantes oferece baixo risco de inadimplência, pois, geralmente, são pessoas que trabalham de dia, estudam à noite e, na maioria, têm os estudos subsidiados pelo empregador”, lembra Saravalle.

Talvez por isso a Estácio Participações tenha conseguido apresentar forte crescimento nos seus balanços. No segundo trimestre, expandiu em 19% seu lucro líquido, para R$ 3,7 milhões, em comparação com igual período do ano anterior. Nesse ganho líquido, já está descontado o efeito da amortização de ágio de aquisições. Não fosse isso, o lucro subiria alguns degraus, para R$ 9,3 milhões. Desde que foi à bolsa, a empresa alimentou a sua sede de expansão. Foram 10 aquisições, dentre faculdades e universidades. Ao que tudo indica, a Estácio quer mais.

, Ampliando a sala de aula, Capital Aberto


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