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Adeus ao petróleo
Investida do fundo Cleantech, Amyris se prepara para ter dez plantas de biotecnologia no País em 2016

, Adeus ao petróleo, Capital Aberto

 

Se não fosse Alberto Camões, sócio da Stratus, ter trabalhado na firma de private equity Texas Pacific Group (TPG), talvez a subsidiária da Amyris no Brasil nunca viesse a fazer parte do portfólio de investimentos da gestora de private equity brasileira. O contato de Camões com a estrangeira TPG, cujo fundo detém participação na matriz da Amyris na Califórnia, foi primordial para que conseguisse apresentar à companhia de biotecnologia norte-americana o Cleantech, seu fundo voltado a empresas de “economia limpa”.

“No começo, a Amyris buscava investidores norte-americanos, por não conhecer o mercado de private equity no Brasil”, conta Paulo Diniz, principal executivo da Amyris Brasil. “Mas mudou de ideia quando viu que os fundos brasileiros tinham um nível tão alto quanto os americanos, além de conhecimento do mercado local.” Resultado: no início de 2010, a Amyris Brasil recebeu um aporte de R$ 80 milhões, extraído do total de R$ 200 milhões detidos pelo Cleantech, dentre recursos próprios da gestora e de terceiros.

Original de Emeryville, a Amyris nasceu do trabalho de 70 pesquisadores que se juntaram para estudar matérias-primas alternativas ao petróleo. Em suas pesquisas, concluíram que a cana-de-açúcar era uma fonte promissora: abundante, tem custo baixo, preços estáveis e produção sustentável. Os cientistas, então, desenvolveram tecnologias para a levedura que converte o caldo de cana em etanol transformar a mesma matéria-prima em farneseno, um hidrocarboneto que dá origem a diversos produtos, substituindo derivados de petróleo. Ele pode ser usado para produzir tanto combustíveis, quanto lubrificantes, polímeros, ingredientes para cosméticos e fragrâncias, dentre outros.

A Amyris, no entanto, não quis ficar restrita ao licenciamento das tecnologias que descobriu. Decidiu investir ela mesma na fabricação dos derivados da cana. A partir daí, não demorou muito para voltar seus olhos ao Brasil, maior produtor mundial da matéria-prima. O primeiro passo foi montar um escritório e uma planta de testes e demonstração em Campinas.

O interesse da Stratus na Amyris é fácil de entender: o Brasil tem várias cadeias de produção nas quais tecnologias limpas podem agregar valor. E a indústria de açúcar e álcool é uma delas. O setor movimenta cifras elevadas, entretanto gera muito desperdício — de 100 toneladas de cana, apenas oito são utilizadas. Seu principal produto, o etanol, tem um preço baixo: custa cerca de R$ 1 o quilo. Os produtos da Amyris, em contraposição, têm valores bem superiores. Começam em US$ 2 o quilo, no caso do diesel feito da cana, e chegam a cerca de US$ 100, no caso de um componente para a indústria de cosméticos chamado esqualeno, cujas fontes tradicionais são os óleos de oliva e de fígado de tubarão. “Esses produtos geram, proporcionalmente, um retorno bem maior para os usineiros do que a fabricação de etanol”, observa Oren Pinsky, diretor do Cleantech. “Com a tecnologia da Amyris, as usinas de açúcar e álcool se transformam numa fábrica de vários produtos químicos”, completa.

Por isso, um dos eixos do trabalho da Stratus é o desenvolvimento de parcerias entre a Amyris e as usinas brasileiras. Atualmente, a empresa produz farneseno por meio de um contrato de fabricação com a Biomin, em Piracicaba, e fabrica diesel através de uma parceria em Ribeirão Preto. Há também polos de produção terceirizada na Espanha e nos Estados Unidos.

Porém, seu grande centro produtor será mesmo o Brasil. No segundo semestre de 2012, duas plantas próprias localizadas no Estado de São Paulo devem ficar prontas. Elas são resultado de duas joint-ventures — uma com o Grupo São Martinho, e outra com a usina Paraíso Bioenergia. A Amyris também já firmou parcerias com a Cosan, a Guarani e a Bunge. Segundo Diniz, ao todo, a companhia tem acordos com usinas para processar 16 milhões de toneladas de cana por ano.

O plano da Amyris é chegar a 2016 com dez plantas no Brasil, um processamento de 20 milhões de toneladas de cana por ano e 1 bilhão de litros de caldo. O processamento atual é bem mais modesto — abaixo de um milhão de litros anuais —, todavia a perspectiva de crescimento baseia-se nas duas plantas que serão inauguradas em 2012, que deverão processar, juntas, 150 milhões de litros por ano. Se tudo der certo, o objetivo é passar a vender os produtos criados pela companhia para os principais players de cada setor. A Amyris já tem parcerias com a matriz americana da P&G para detergentes; com a francesa Soliance, para componentes de cosméticos; e com a Shell e a Total, para combustíveis.

Paralelamente às parcerias, o fundo trabalhou para melhorar as práticas de governança da companhia: montou um conselho de administração com quatro membros; direcionou aos principais executivos os cargos de presidente, diretor financeiro e vice-presidente de engenharia; e definiu orçamento e metas.

As mudanças na gestão são fundamentais, até porque, desde o fim de 2010, a matriz da Amyris tem suas ações negociadas na Bolsa de Nova York (Nyse). A empresa levantou US$ 85 milhões com sua oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês). Desde o IPO, a Stratus tem uma porta de saída fácil. Criado em 2007, o Cleantech tem até 2015 para vender as participações que detém, contudo, de acordo com Pinsky, o desinvestimento do fundo na Amyris deve acontecer “bem antes disso” — tudo vai depender do desempenho das ações. A gestora estuda criar o Cleantech II em 2012.


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