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A Bolsa do futuro
Setores atrelados ao consumo interno, como construção, varejo, educação, saúde e turismo, são os mais fortes candidatos a ocupar o espaço das commodities no Ibovespa

, A Bolsa do futuro, Capital Aberto

Já imaginou comprar ações de uma cadeia de restaurantes, uma rede de hospitais ou ainda uma operadora de turismo? Esses segmentos despertam a cobiça dos investidores, antes mesmo de terem suas primeiras representantes na BM&FBovespa. Todos fazem parte do grupo de negócios com boas chances de deslanchar na esteira do crescimento do consumo interno nos próximos anos. Junto com outros já presentes no pregão, como construção, varejo e educação, ajudarão a fazer da bolsa paulista um retrato mais fiel da economia brasileira — mais democrática e menos concentrada nos tradicionais setores de petróleo e mineração.

, A Bolsa do futuro, Capital AbertoA diversificação dá o tom das projeções otimistas para o longo prazo. Afinal, os principais fatores que atravancavam o preço das ações brasileiras são coisa do passado. A inflação está controlada, os juros estão em patamar historicamente baixo, e o Brasil conquistou o grau de investimento das agências classificadoras de risco. Tudo isso permitiu que a economia ganhasse complexidade e recebesse recursos em áreas antes relegadas ao segundo plano. Atentos a esses novos campos, alguns gestores estão criando fundos dirigidos a ações de companhias que vão além das commodities. A Fator Administração de Recursos abriu, em outubro de 2009, o fundo de ações Prisma, voltado a investidores qualificados (com mais de R$ 300 mil em aplicações financeiras) e focados no desempenho da Bolsa no longo prazo — pelo menos cinco anos. O fundo aposta nos setores que são ou serão tendência. “A meta é comprar crescimento”, diz Fernando Tendolini, gestor da Fator.

Somadas, as ações de Vale e Petrobras podem perder até 5,66% de participação no próximo Ibovespa

“Estamos saindo de um processo de transição para um período de economia organizada”, observa Ricardo Amorim, presidente da consultoria Ricam. “Nos próximos anos, a taxa de juros vai despencar, e a oferta de crédito vai explodir”, prevê o economista. Com isso, empresas que dependem da disponibilidade de crédito à população para incrementar suas vendas despontam como as mais promissoras. Dentre os setores com as melhores perspectivas, Amorim destaca o imobiliário.

real state — Atualmente, o setor responde por 4,2% da composição do Ibovespa e tem condições para receber uma fatia maior no próximo índice, que vigorará de maio até agosto. De acordo com as projeções da área de análise quantitativa do Santander, as empresas de real state (que inclui imobiliárias e construtoras) passarão a representar 6,5%, o que significa um incremento de 54% em relação à composição atual e de 95% na comparação com a carteira de 12 meses atrás. Copa do Mundo, Olimpíada e programas federais de incentivo à construção de moradias e obras de infraestrutura colaboram para o entusiasmo em torno das companhias ligadas à construção civil. O setor é jovem na Bolsa e amadurece a passos largos. Começou a despontar com a chegada da Cyrela ao Novo Mercado, em 2005, e sua posterior inclusão no Ibovespa, em 2007. Desde então, diversas outras empresas captaram por meio de ofertas de ações, dominando, inclusive, as emissões subsequentes (follow-ons) de 2009. O movimento mais recente foi o surgimento da Agre, gigante que resultou da consolidação de três nomes importantes do segmento — Agra, Klabin Segall e Abyara.

“Em 2009, muitas empresas do setor registraram forte entrada de investidores estrangeiros. Somado a isso, há fundamentos que também justificam o crescimento, como o projeto Minha Casa, Minha Vida”, explica Renata Cabral, analista da corretora do Santander. Dentre os papéis que tendem a ganhar mais peso, Renata cita a Gafisa, que representa 0,61% da atual carteira do Ibovespa, mas pode alcançar 1,59% no próximo portfólio. A prévia da carteira do índice divulgada pela Bolsa em 1º de abril confirma a tendência de alta. Gafisa aparece com participação de 1,666%. A Agre pode estrear no índice com peso de pouco mais de 1%, de acordo com as projeções da analista, em linha com a prévia oficial, de 1,009%.

mais renda — Não é apenas no setor de construção que as alterações pontuais da carteira do Ibovespa reforçam as tendências. Segundo o Santander, as instituições financeiras poderão atingir 19,8% do próximo índice Ibovespa, o que representaria um incremento de 1,1% em relação ao portfólio atual. Ao longo dos últimos anos, o setor manteve participação relevante na Bolsa, apesar das mudanças de suas representantes. O domínio das grandes instituições de varejo deu lugar a um conjunto muito mais diversificado, representado também pelos bancos de médio porte e por prestadoras de serviço. Deste último grupo faz parte a nova estrela do setor: a Cielo. Para o Santander, a operadora de cartões de pagamento poderá estrear no Ibovespa com uma participação de cerca de 2%.

A pujança do setor financeiro é resultado da maior oferta de crédito e do aumento do poder de compra da população brasileira, especialmente das camadas mais pobres da população. Na avaliação da economista Débora Nogueira, da Fator Administração de Recursos, o incremento de renda favorece, no primeiro momento, a indústria de bens de consumo duráveis, como produtos da linha branca. E quando o processo de melhora de renda é contínuo, setores que exigem pagamento à vista, como prestação de serviços, opções de lazer e ensino privado também entram no ciclo virtuoso.

futuras novatas — No longo prazo, a mudança no padrão de consumo do brasileiro fará com que companhias ainda não representadas na Bolsa captem recursos no mercado para financiar seus projetos de crescimento. O ramo de alimentação, apontado como um dos mais promissores, quase estreou este ano. A International Meal Company (IMC), que comanda as redes Viena e Frango Assado, chegou a protocolar um pedido de oferta na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O projeto não foi levado adiante, mas também não foi abandonado. “A IMC pretende retomar o processo de abertura de capital”, informou a companhia, por meio de sua assessoria de imprensa, sem precisar um cronograma.

As empresas de turismo são outro exemplo. Até agora, apenas as companhias aéreas se beneficiam dessa cadeia. A realização de grandes eventos esportivos no Brasil — a Copa em 2014 e a Olimpíada em 2016 — deve atrair visitantes estrangeiros e impulsionar esse ramo de atividade. A operadora CVC é considerada uma candidata natural. A empresa é controlada, desde janeiro, por um dos maiores fundos de private equity do mundo, o Carlyle. Na época da aquisição, o fundo norte-americano justificou o negócio destacando o potencial do mercado brasileiro de turismo e o bom posicionamento da CVC, a maior operadora de turismo das Américas e a décima do ranking mundial.

Analistas também esperam que o aumento de renda das famílias se reverta em maiores gastos com serviços que o Estado não consegue prover de forma satisfatória. Atendem a essa carência as operadoras de planos privados de saúde, como Amil e SulAmérica, já listadas em bolsa. É provável que redes de hospitais também venham a se juntar a esse time nos próximos anos, na visão de especialistas que acompanham o setor. Da mesma forma, companhias do setor de educação ajudam a suprir as falhas do sistema público. Desde 2007, quatro empresas aterrissaram na Bolsa. A primeira representante do setor foi a Anhanguera, que acumula alta de 43,88% desde o IPO.

em baixa — O agronegócio sempre foi uma das locomotivas do País, mas pode ganhar mais peso e diversificação com o recente ingresso de ações de frigoríficos, como a JBS, no pregão. Já outros setores tradicionais dão sinais de já terem atingido o ápice na BM&FBovespa. Em 2000, as empresas do setor de telecomunicações dominavam a Bolsa de Valores e representavam mais de 45% da carteira do índice Bovespa. Dez anos depois, elas não chegam a 5%. No fim década de 1990, a privatização do sistema de telefonia do País desencadeou uma forte expansão das companhias do setor. Tamanha foi a difusão do serviço que, atualmente, o crescimento da base de usuários é limitado. Além disso, a competitividade do mercado reduziu as margens de lucro e, consequentemente, a atratividade dos papéis negociados.

Apesar de garantirem seu reinado por um bom tempo, as duas gigantes da Bolsa são as maiores perdedoras de participação no Ibovespa, cujo principal critério de seleção é a liquidez dos papéis. A expectativa é de que a redução dos espaços ocupados por Vale e Petrobras acomode outros segmentos. Pelas projeções de Carlos Sequeira, analista do BTG Pactual, juntas, as ações ordinárias e preferenciais das duas empresas perderão, já no próximo portfólio, 4,95% de participação. Os cálculos do Santander apontam baixa ainda maior: 5,66%. Na realocação dos portfólios dos fundos, a mudança é expressiva. Segundo relatório do banco, atualmente há R$ 21,6 bilhões aplicados em fundos indexados ao índice. Isso significa que a cada mudança absoluta de 100 pontos-base, ou 1%, de peso no índice, um total de R$ 216 milhões tem de ser realocado. Os gestores migrariam recursos aplicados em papéis como Vale e Petrobras para os setores que ganham peso na carteira do Ibovespa. A tendência de redução da participação, portanto, é tida como inevitável.

Ao menos no setor petrolífero, há fatores que podem amenizar a queda. Um dos mitigadores é a OGX, que ingressou no Ibovespa em janeiro deste ano. Na próxima composição, a expectativa é de que a companhia do empresário Eike Batista atinja mais de 2% do Ibovespa, de acordo com as projeções do Santander e do BTG Pactual. Outro ponto a ser considerado é a evolução do processo de capitalização da Petrobras. As incertezas em torno do projeto, especialmente em razão dos embates políticos, fizeram a empresa patinar na Bolsa. Na carteira atual do índice, a Petrobras PN até perdeu o posto de maior ação do Ibovespa para a Vale. No entanto, se for grande a adesão dos minoritários à capitalização, o free float da empresa pode aumentar consideravelmente. “Poderia até interromper a tendência de queda de participação”, observa Antonio Junqueira, analista do BTG Pactual.

Para a Vale, o consolo pela perda de participação é a expectativa de que, ainda assim, se mantenha como a ação mais expressiva do Ibovespa. A prévia do índice publicada em 1º de abril mostra que a ação preferencial da Vale pode totalizar 11,018% de participação na carteira, enquanto Petrobras PN ficaria com 10,766%. No fim das contas, o resultado dessa dança das cadeiras promete ser positivo para a bolsa brasileira e seus investidores. “É o sinal do desenvolvimento do mercado: mais liquidez, mais IPOs e menos concentração em um número pequeno de papéis”, sentencia Fabio Carvalho, da Orbe Investimentos.


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